História do Rio Grande do Norte:
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das Origens do Homem Americano à Síntese Histórica da Cidade do Natal
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Compilação: Janildo da Silva Arante
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HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE – Observação: Tópicos explorados no concurso do CFO/PMRN:
HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE:
l) A Conquista Territorial Portuguesa e a Resistência Potiguar;
2) Nordeste Holandês: Economia Açucareira e Pecuária Norte-Riograndense;
3) Interiorização da Colonização Portuguesa e a Guerra dos Bárbaros:
4) Repercussões dos Movimentos Emancipatórios do Século XIX no Rio Grande do Norte;
5) Formação das Oligarquias: A agroindústria Açucareira e a Cotonicultura;
6) Participação do Rio Grande do Norte no Movimento Republicano;
7) A Revolução de 1930 e o Reordenamento da Política Oligárquica:
8) Demandas Sociais e a Intentona Comunista de 1935;
9) Segunda Guerra Mundial: Presença Norte-Americana e Repercussões Sócio-Culturais;
10) O Populismo e o Surgimento das"Novas Oligarquias";
11) Rio Grande do Norte Atual: Questões Políticas. Sociais e Econômicas.
O ALVORECER
Antes dos Europeus
Antes dos Europeus As Origens do Homem Americano
O
Homem, quando chegou ao continente americano, já havia passado por uma
longa evolução, desde o aparecimento do Homo Erectus, que viveu há 1,7
milhões de anos até 200 mil anos atrás. Pertencia ao grupo do Homo
Sapiens. Não há, até o presente momento, unanimidade sobre a origem dos
primeiros povos que colonizaram a América, mostrando ser assim um
problema complexo. Diversas teorias abordam a questão, sendo a mais
aceita aquela que defende terem os primeiros homens vindos da Ásia,
através do Estreito de Bering, atingindo a América do N
orte
durante a última Era Glacial. Um grande volume de águas retidas nas
geleiras provocou o abaixamento do nível das águas do mar, fazendo
surgir uma ligação terrestre entre a Ásia e América. Segundo a
pesquisadora Betty J. Meggers, "a mais antiga ponte terrestre existiu
entre cerca de 50.000 e 40.000 anos atrás e foi usada por várias
espécies de mamíferos do Velho Mundo (...) Após um intervalo de
submergência que durou uns 12.000 anos, a ponte reapareceu entre cerca
de 28.000 e 10.000 anos atrás". Nesse período, contudo, uma camada de
gelo surgiu como obstáculo à passagem humana durante alguns milhares de
anos. Acontece que, como esclareceu Meggers, "no decorrer de alguns
milênios, antes que os segmentos de Leste e Oeste se fundissem e um
corredor se abrisse novamente a ponte terrestre foi transitável."
Permitindo, assim, a caminhada humana. Foi aproveitando essa
oportunidade que os asiáticos teriam penetrado no continente americano.
Existem
provas de caráter antropológico, etnográfico e lingüístico a favor da
teoria asiática, mas Paul Rivet acreditou que essa não foi a única via
de acesso do homem ao continente americano. Essas provas se restringiram
a uma região, a parte setentrional da América do Norte, segundo Rivet. É
justamente por essa razão que ele defende uma origem múltipla: os
australianos teriam invadido a região mais meridional da América do Sul.
Para Rivet, portanto, uma das influências étnicas que podem destacar-se
na América é de origem australiana. Sua ação, por discreta e limitada
que tenha sido, loga impor-se pela antropologia, pela lingüística e pela
etnografia". Acredita ainda esse cientista que uma parte da América foi
povoada pelos polinésios, apresentado provas lingüísticas, culturais e
tradicionais.
Paul
Rivet é de opinião que o Atlântico funcionou como uma barreira
intransponível para que o homem chegasse até ao continente americano e
que, "ao contrário, o litoral do ocidente da América foi permeável a
migrações múltiplas, em toda a sua extensão. O Pacífico não se tornou de
forma alguma um obstáculo. Foi, sim, um traço de união entre o mundo
asiático, a Oceania e o Novo Mundo".
A
teoria da origem múltipla de Paul Rivet foi defendida por alguns, porém
combatida pelos seus adversários. A verdade é que, apesar do avanço
nessa discussão, a questão ainda não foi totalmente solucionada.
A
controvérsia não atinge apenas a via de acesso, mas igualmente a época
em que os primeiros colonos povoaram a América. Para Betty Meggers, "as
discordâncias surgem das informações esporádicas inconclusivas, da
presença do homem do Novo Mundo entre 40.000 e 12.000 anos passados,
datação que alguns autoridades aceitam e outras não."
O
certo é que o "homem entrou no Novo Mundo enquanto estava ainda
subsistindo à base de plantas e animais selvagens", nas palavras da
mesma autora. Esse homem, ao migrar para outras regiões, caminhou a pé.
Teria ocorrido, desse modo, várias migrações.
As
primeiras comunidades agrícolas surgiram no México, na América Central,
Equador e Bolívia. Viviam em pequenos bandos. Eram caçadores e
coletores. À medida em que avançavam para o sul, segundo os que
acreditam na origem única, asiática, as comunidades foram passando por
mudanças, com o objetivo de se adaptarem ao novo ambiente. Essas
adaptações foram importantes para o desenvolvimento dos diversos grupos.
A agricultura promoveu uma verdadeira revolução. Posteriormente, surgiram grandes civilizações: Astecas, Maias e Incas.
Migração para as terras Brasileiras
Com
relação à presença dos primeiros homens no Brasil, existe também uma
grande controvérsia. A ocupação de terras brasileiras pelo homem ocorreu
entre 9.000 e 11.300 anos, segundo alguns pesquisadores. Outros
defendem uma data bem mais remota. Aos poucos é que o quadro vai se
delineando. Constataram-se, pelo menos, duas áreas de influência - a
Bacia Amazônica e outra compreendendo o Planalto Central do Brasil - que
foram ocupadas através de vagas sucessivas, até chegar ao Rio Grande do
Norte" por um processo de migração que permitiu culturas estabelecidas
em determinadas áreas fossem substituídas por outras, no decorrer de
milênios e até séculos", de acordo com Tarcísio Medeiros.
Em
síntese, o homem primitivo teria seguido o seguinte roteiro: Andes,
Planalto do Brasil, Nordeste e, finalmente, o Rio Grande do Norte.
O
centro de dispersão dos tupis, segundo o mesmo autor, aconteceu no
"istmo do Panamá. Desse ponto, um ramo alcançou a foz do Amazonas; do
outro rumou para o Nordeste brasileiro; e um terceiro desceu o Tapajós, o
Madeira e iniciou uma migração pelo Xingu acima".
Os Primitivos habitantes do RN
O
Rio Grande do Norte foi habitado pelos animais da megafuna na era
Cenozóica e, dos estudos realizados sobre o assunto, é possível chegar a
duas conclusões, como disse Tarcísio Medeiros:
"a) A extinção dos grandes mamíferos processou-se mais recentemente do que se supõe em partes dessa região."
"b)
Que a presença do homem, em comum com esses animais da megafauna no
mesmo território, é mais antiga do que se considera habitualmente".
Exemplo dessa presença humana no Nordeste: Chá do Caboclo (Pernambuco).
Os
primitivos habitantes eram formados pelos grupos de caçadores e
coletores. Os homens contemporâneos da megafauna deixaram vestígios que
se encontram nos sítios Angicos e Mutamba II. Diversos estudos
arqueológicos foram feitos pelo Museu Câmara Cascudo, tendo à frente o
pesquisador A. F. G. Laroche que, com suas investigações, em Pernambuco e
no Rio Grande do Norte, forneceu importantes subsídios para a
pré-história nordestina. Nássaro Souza Nasser e Elizabeth Mafra Cabral
analisaram as inscrições rupestres do Estado, publicando posteriormente
um estudo sobre o assunto. A arqueóloga Gabriela Martín, da Universidade
Federal de Pernambuco, pesquisou intensamente as inscrições rupestres
do Rio Grande do Norte, resultando em estudos como o intitulado "Amor,
Violência e Solidariedade no Testemunho da Arte Rupestre Brasileira".
Participou também do "Projeto Vila Flor", financiado pelo
SPAN/Pró-Memória, cujo objetivo era o "estudo arqueológico e
levantamento da documentação histórica da Antiga Missão Carmelita de
Gramació". A mesma pesquisadora recentemente publicou um livro sobre a
pré-história do Nordeste.
Na
fase Megalítica, os homens se tornaram sedentários. O pesquisador
Nássaro Nasser descobriu as "Tradições Cerâmicas", chamadas de Papeba e
Curimataú. O professor Laroche, por sua vez, encontrou vestígios de
diversas culturas pré-históricas, sendo a mais antiga do sítio
"Mangueira", em Macaíba.
O
professor Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, coordenador do Laboratório
de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(Larq/UFRN), realizou uma série de pesquisas, trazendo novas luzes sobre
o longínquo passado potiguar. Participou de escavações realizadas na
Fortaleza dos Reis Magos e na antiga catedral, onde encontrou o túmulo
de André de Albuquerque Maranhão.
Alberto
Pinheiro de Medeiros, coordenando investigações de alunos da UFRN,
enveredou por outras vertente sobre o tema pesquisado, chegando a
sistematizar uma alternativa - descrita no item sobre as inscrições
rupestres, mostrado a seguir que poderia ser acrescida às conclusões já
apresentadas sobre os primeiros habitantes do Rio Grande do Norte.
Os Significados das Inscrições Rupestres
Os
primeiros habitantes do Rio Grande do Norte deixaram nas rochas e nas
paredes das cavernas sinais incisos ou pintados. Em alguns sítios,
existem apenas inscrições rupestres incisas (Fazenda Umburana, região do
Abernal, município de Serra Negra-RN) e em outros locais encontram-se,
no mesmo painel, inscrições incisas e pinturas (Fazenda Soledade,
Apodi-RN).
Na
atualidade é praticamente impossível saber quais foram os autores de
tais legados. Mesmo assim, diante desse contexto, ainda se pode tirar
algumas conclusões. Em primeiro lugar, é provável que tenham ocorrido
dois estágios culturais. O mais primitivo estaria representado, pelos
desenhos incisos. O outro estágio, mais desenvolvido, estaria
caracterizado pelas pinturas que requeriam uma técnica mais complexa a
elaboração de tintas. Para comprovar tal afirmação é suficiente apontar
como exemplo o sítio que existe na Fazenda Flores, no município de
Apodi-RN), onde os traços incisos eram feitos no chão e numa rocha,
larga na base e que vai se estreitando à medida que sobe. Na rocha
também há pinturas representando pares de mãos. Outro detalhe: os
incisos estão quase apagados e grosseiramente desenhados. As mãos
pintadas, porém, são muito bem feitas e apresentam grande nitidez Esse
sítio poderia ser o testemunho de uma evolução cultural.
Outra
questão que se discute - e esta é universal - seria o significado, ou
seja, o que representariam ser de fato as inscrições rupestres: arte,
escrita ou símbolos religiosos.
Existe,
em princípio, uma dificuldade: como interpretar o pensamento do homem
primitivo pelas pessoas que vivem no século XX? É possível ao homem
contemporâneo penetrar na mentalidade de um ser nascidos séculos e
séculos atrás? Por essa razão torna-se necessário fazer um esforço para
recuar no tempo e se despir da cultura na qual o pesquisador nasceu e
vive. Seria isso possível?
Esse
é um problema de difícil solução, que exige muita competência e
humildade por parte do pesquisador. Uma saída, provavelmente, é
pesquisar os caracteres daqueles povos que tiveram sua escrita
decifrada. Estudar, por exemplo, os Astecas (México) que possuíam uma
escrita "pintada" e uma fonética. A escrita estava ligada aos
sacerdotes, como na Suméria. O significado, no dizer de Córdova Ituburu,
era determinado pela deformação de certas partes e das cores. Os
sacerdotes daquele povo lidavam com caracteres simbólicos secretos. O
conteúdo religioso de determinados símbolos não invadia a tese da
escrita Richard E. Leakey estava certo quando disse que "as amostras de
ocre que parecem em diversos sítios da Europa de 200 mil anos ou mais de
idade, certamente, sugerem ornamentação ritual das pessoas e dos
artefatos. Ritual e simbolismo aludem francamente à competência
lingüística".
Tudo
leva a crer que as inscrições rupestres que existem no Rio Grande do
Norte constituem de fato uma escrita. Diferente, naturalmente, de que se
usa na atualidade. Mas com certeza era um instrumento de comunicação.
Os autores das inscrições possivelmente desenhavam ou pintavam para
transmitir uma mensagem. O seu significado se perdeu no tempo, mas não
pode ser considerado arte, porque tais caracteres não eram produzidos
para deleite espiritual, nem para expressar o belo. A razão disso é
muito simples: o homem primitivo, pelas dificuldades que enfrentava para
sobreviver, era prático e rude. Quando sentia fome procurava resolver
de imediato o seu problema. Não tinha condições de praticar uma
atividade voltada para o embevecimento espiritual. Havia sim, grande
necessidade de se comunicar.
A
reprodução de um objeto através de um desenho é uma tentativa de fazer
referência a algo que impressiona, de mostrar a outro ou a uma
comunidade o valor daquele objeto. Traços em formas de barras ou então
círculos ou pontos podem significar elementos de contagem. Mas na mente
do homem primitivo poderiam também ter outra significação qualquer. Uma
conclusão pode ser considerada como certa: eles desenhavam ou pintavam
para transmitir uma mensagem. E naqueles tempos difíceis para a
humanidade, a comunicação, certamente, era fundamental para a
sobrevivência de um grupo, de todo o gênero humano...
Etnias Mais Recentes e Áreas Ocupadas
O
litoral norte-rio-grandense, na época da descoberta do Brasil, era
habitado pelos tupis, originários do Paraguai e do Paraná. Falavam o
abanheenga que, segundo Varnhagen, era uma língua aglutinativa, porém,
com reflexões verbais. Receberam o nome local de potiguares.
Tarcísio
Medeiros descreve o tipo físico dos potiguares: "tinham o porte
mediano, acima de 1,65 cm, reforçados e bem feitos no físico, olhos
pequenos, negros, encavados e erguidos, amendoados (...), eram mais ou
menos baços, claros. Pintavam o corpo com desenhos coloridos (...),
furavam os beiços".
Os
tapuias, que moravam no interior, foram descritos da seguinte maneira,
por Olavo de Medeiros Filho: "as mulheres eram, indistintamente,
pequenas e mais baixas de estatura que os homens. Possuíam a mesma cor
atrigueirada, sendo muito bonitas de cara, obedecendo cegamente aos
maridos em tudo que fosse razoável".
E,
mais adiante, acrescenta: "os tapuias andavam inteiramente nus. Não
usavam barbas e depilavam sistematicamente todos os pêlos surgidos no
corpo, inclusive as sobrancelhas (...) Os tapuais pintavam hediondamente
o corpo com tinta extraída do fruto de jenipapo, a fim de adquirirem um
aspecto terrível nos combates".
Tarcísio
Medeiros apresenta a seguinte classificação da população nativa,
formada por diversas nações, na época da descoberta do Brasil:
Litoral: potiguares.
Serído: arius, cariris, panatis, curemas, pebas e caicós
Chapada do Apodi: paiacus, cariris, pajéus, pegos, moxoiós e canindés.
Zona Serrana: pacajus, panatis, icós e parins.
Os Europeus
Expansão Européia Pela Via Marítima
A
Europa, no final do século XV, se encontrava presa em seus limites,
sentindo a necessidade de se expandir. O comércio das especiais,
monopolizado pelas cidades italianas e desenvolvidas do Mediterrâneo,
prejudicava o restante dos países do continente. A razão era muito
simples: os produtos eram vendidos por um preço muito alto. A
necessidade de quebrar esse monopólio passou a ser uma questão de
sobrevivência para uma economia monetária, como narrou Rolando Mausmier:
"o numerário é totalmente insuficiente para as monarquias e para um
comércio em plena expansão". Era preciso, com urgência , encontrar ouro.
Como diversas lendas colocassem grandes tesouros na África e na Ásia,
os europeus sonhavam em se apossar dessas fortunas. Era preciso, também,
acabar com os intermediários, e o país que realizasse tal feito obteria
lucros fabulosos.
Além
da necessidade de conseguir ouro, a Europa se encontrava apertada entre
o mar e seus inimigos. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos
turcos, o caminho para o oriente se fechava para os europeus. A situação
ficava crítica. Havia uma solução apenas: atingir o Oriente pela via
marítima/
Portugal,
por sua posição geográfica, se lançou ao mar mais cedo. Adquirindo
experiência nessas viagens, saía na frente em busca de um caminho
marítimo para o Oriente. Seria a salvação do império lusitano. Havia
outro motivo: as condições eram precárias para as atividades agrícolas
em Portugal, razão pela qual a sua população tinha que tirar o alimento
do mar. Pescando, os lusitanos foram se afastando do litoral, atingindo a
Terra Nova, rica em bacalhau, salmão etc. Aos poucos, e como
conseqüência dessas empreitadas, os portugueses foram aperfeiçoando os
seus navios. No século XV, as galeotas e as galés de dois mastros haviam
sido ultrapassadas, surgindo as barcas, barinés e as caravelas, que se
imortalizaram durante as grandes descobertas.
A
expansão marítima, organizada de maneira sistemática pelos lusos,
começou com a conquista de Ceuta, em 1415. Toda viagem através do Oceano
Atlântico, naquela época, era uma perigosa aventura, porque ninguém
garantia o retorno. Após a conquista da Ceuta, os navegantes passaram a
receber estímulos, sobretudo do infante D. Henrique que, por essa razão,
foi chamado de "O Navegador". Acontece que a vida desse personagem foi
envolvida por uma série de lendas. Como resultado, a sua personalidade
foi exaltada, até ao exagero, por alguns historiadores, quer
portugueses, quer brasileiros.
Pedro
Calmon é um deles: "deu-se perdidamente às ciências, casto e austero
(...) de fulgurações de lenda, leitor insaciável, colecionador de tudo o
que se escrevera sobre cosmografia e navegação, transferiu para Vila de
Terça Naval, junto de Sagres e do Cabo de São Vicente, o séquito de
matemáticos judeus, cartógrafos catalães, pilotos de várias origens, e
outros que para isto educava e com eles criou um seminário de estudos
náuticos chamando-lhe, sem rigor verbal, Escola de Sagres. Foi na
verdade uma escola, mas de obstinado trabalho, em que era aluno e mestre
aquele príncipe letrado".
Tudo
porém não passa de uma lenda. O infante D. Henrique não possuía um
vasto sobre a Escola de Sagres jamais existiu, seja qual for o sentido
que se queira dar a ela. Nem como uma escola no significado clássico da
palavra, nem como um grupo de especialistas que discutissem problemas
náuticos. Os avanços técnicos ocorridos com os navios portugueses foram
conseqüência da experiência adquirida através de suas inúmeras viagens
pelo Atlântico, o que, certamente, não diminuiu o mérito daqueles
viajantes e das conquistas feitas pelo império lusitano.
É
preciso também deixar bem clara a causa principal da expansão marítima
de Portugal. Para justificar sua expansão, os portugueses alegaram a
defesa do cristianismo. Tinham como divisa "A propaganda da Igreja de
Cristo e a conversão dos infiéis", dando a impressão de que se tratava
de uma nova cruzada. Acontece que o objetivo era real outro bem
diferente: a busca desesperada pelo ouro.
A
conquista da Ceuta demonstrou tal fato. O escritor Georg Friederici
narrou com muito realismo o ataque português contra Ceuta:
"entregaram-se, de súbito, a tremenda chacina, não respeitando a idade,
nem sexo, não poupando mulheres nem crianças. Seguiram o saque e a
devastação vandálica: os assaltantes devassavam, remexiam e escavavam.
Depredavam os magníficos prédios preciosos e jóias. Os lusitanos
semi-bárbaros arrebentavam as jóias das mulheres e das moças,
arrancado-lhes e cortando-lhes as orelhas e os dedos".
A
finalidade da expansão européia era, tão somente, a busca de riquezas. E
mais: durante o processo de colonização no continente americano,
portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e ingleses se igualaram no
vandalismo. Contrariando, assim, os princípios cristãos que diziam
defender... A evangelização dos gentios se resumia apenas ao trabalho
dos missionários. Os colonos, contudo, procuravam explorar os nativos,
realizando às vezes, verdadeiros massacres.
Frei
Bartolomeu de Las Casas, considerado o "Apóstolo dos Índios", denunciou
as crueldades dos espanhóis durante a conquista: "faziam apostas sobre
quem, de um só golpe de espada, fenderia um homem pela metade, ou quem,
mas habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça,
ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um só golpe".
Cristóvão Colombo Descobre a América
Antes
da unificação da Espanha, o Reino de Aragão, desde o século XII, estava
voltado para o Mediterrâneo: "Mesmo após a criação do Estado Nacional, a
coroa espanhola seguiu dupla orientação: européia e mediterrânea,
segundo interesses aragoneses, americana e atlântica, atendendo às
aspirações castelhanas", como registra o livro "História das Sociedades -
das sociedades modernas às sociedades atuais", de Rubim Santos de
Aquino e outros autores. Mais tarde, quando se criou o Estado Nacional,
com a expulsão dos muçulmanos, a Espanha não se preocupou em navegar
pelo Ocidente para atingir o Oriente.
Essa
política tinha uma série resistência. O seu grande defensor era um
estrangeiro, filho de Gênova, chamado Cristóvão Colombo. E a viagem só
se efetivou graças ao apoio de dois grupos poderosos: o católico,
liderado por Luís de Santangel. Colombo, na realidade, não pensava em
descobrir um continente e no entanto foi o que aconteceu. A partir desse
momento (1492), a Espanha teve que valorizar uma política Atlântica,
principalmente após as descobertas de minas de prata e de ouro no
continente americano.
As
conseqüências do descobrimento ultrapassaram os limites das fronteiras
do império hispânico e se tornaram universais: "a Europa também se
transforma graças, sobretudo, ao ouro e à prata, vindos do novo
continente. A exploração das colônias, na América, promove a formação de
grandes riquezas, cujo capital foi aplicado na indústria. Surge, assim,
o regime capitalista", como comentou Alberto Pinheiro de Medeiros, no
trabalho "A descoberta da América e as Mudanças", publicado no seminário
"Dois Pontos", em outubro de 1992.
Ambições Ibéricas e a Descoberta do Brasil
As
ambições expansionistas da Espanha e Portugal entravam em conflito.
Portugal consegue, com D. João (1418) do Papa Martinho V. a bula Sane
Charissimus. Seguem outras bulas: Eti Suscepti (1442), Romanus Pontifex
(1454), Inter Coetera (1456).
Após
a descoberta da América por Cristóvão Colombo, a Espanha entra na
briga, procurando obter benefícios da Igreja, graças ao prestígio que
desfrutava na Cúria Romana. As bulas iam saindo, refletindo a maior ou
menor influência de uma das duas potências ibéricas, em dado momento
provocando, inclusive, o protesto do teólogo Francisco Vitória.
Finalmente,
Espanha e Portugal chegaram a um acordo. Com o Tratado de Tordesilhas
(7 de junho de 1494), o mundo ficaria dividido entre as duas potências
ibéricas.
Descoberto
o caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama, D. Manuel prepara
uma grande esquadra que parte rumo ao Oriente. O comando da armada é
entregue à Pedro Álvares Cabral, alcaidemor de Asurara que, segundo
Pedro Calmon, "pertencia à melhor gente da beija, cujo grande feito foi,
justamente, a descoberta do Brasil".
Como
diz ainda o mesmo autor, a armada "ia defrontar o ignoto, nas paragens
do Índico: a paz ou a guerra. Devia ser forte. Foi preparada com
magnificência: não mais para descobrir \, como a de Vasco da Gama, mas
para aliciar ou intimidar o "samorin" de Calecute, nos Estados
opulentos".
Participavam
da armada nomes ilustres: Nicolau Coelho, Sancho de Tovar, Péro
Escobar, Pedro de Ataíde, Vasco de Ataíde, o bacharel mestre João etc.
No
dia 9 de março de 1500, após missa solene no dia anterior, Cabral e
seus companheiros iniciavam a viagem. Roteiro: ilhas Canárias, São
Nicolau. No dia 23, a nau de Vasco de Ataíde desapareceu. No mês
seguinte, no dia 22, os expedicionários avistam um monte que recebeu o
nome de Monte Pascoal.
Nicolau
Coelho manteve os primeiros contatos com os nativos. Fotam celebradas
duas missas, ambas por Henrique Coimbra. A primeira, num domingo, dia 26
de abril de 1500, e a segunda, no dia 1º de maio.
No
dia seguinte, a esquadra partia rumo ao Oriente. Estava, oficialmente,
descoberto o Brasil. O acontecimento foi narrado de maneira brilhante na
carta de Pero Vaz de Caminha.
A Carta de Pero Vaz de Caminha
A
carta de Pero Vaz de Caminha narrando a descoberta do Brasil, já muito
estudada, foi reproduzida na íntegra em alguns livros de História do
Brasil. A quase totalidade desses estudos se caracteriza pela erudição. A
Dominus lançou uma edição pioneira para o grande público, sem se perder
em vulgaridade, contando com uma introdução que é um pequeno estudo
sobre aquele documento, escrito por Leonardo Araújo.
A
carta foi redigida por uma testemunha ocular do fato, mais do que isso,
um eminente humanista. Não é apenas um relatório narrando as peripécias
dos navegantes lusitanos numa viagem marítima. Fornece subsídios para
uma melhor compreensão daquele acontecimento.
A
descrição, pela primeira vez, da terra descoberta é, talvez, a parte do
texto mais conhecida: "as saber, primeiramente, de um grande monte,
muito alto e redondo: e de outras serras mais ao sul dele, e de terra
chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de o
Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz!
Grande
observador, descreve os homens da terra com riqueza de detalhes: "A
feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e
bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem coberta alguma (...) Ambos
traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de
comprimento de uma mão, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na
ponta como furador (...). Os cabelos são corredios".
Narra
também o contato de homens que possuíam culturas diferentes e que
nativos e portugueses procuravam se entender através de festos, na falta
de conhecimento do idioma do interlocutor. Surgindo, naturalmente,
alguns desentendidos: "acenava para a terra e novamente para as contas e
para o colar do capitão (que era de ouro) como se dariam por aquilo".
"Isto
tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejamos! Mas se ele queria
dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós
entender, porque lhe havíamos de dar!" E mais adiante: "Ali por não
houve fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha
que se não entenderia nem ouvia ninguém". Lança, portanto, a culpa do
não entendimento na barbaria em que se encontravam os nativos. Essa
observação não passam de uma prova a mais do etnocentrismo europeu. Os
brancos eram os "civilizados", os seres superiores; e os donos da terra,
ao contrário, pobres coitados ...
Mas
não se pode dizer que o referido documento seja a primeira página da
História do Brasil por uma razão muito simples: a História do Brasil
começa quando chegaram nesta terra os primeiros homens, numa época bem
anterior à vinda dos europeus.
A
carta de Pero Vaz de Caminha é, no entanto, um relato longo, minucioso,
com dados importantes, fornecendo subsídios não somente para a História
do Brasil, mas ao mesmo tempo para outras ciências, como, por exemplo, a
antropologia.
Com
ela se encerra a fase pré-histórica do País, começando um novo período:
o da história escrita, entrando a terra descoberta para o clube do
mundo dos "civilizados" ... E os portugueses, certamente, não estavam
sozinhos. Portugal teria que enfrentar uma grande concorrência e teve
que lutar muito para ficar de posse definitiva do Brasil.
Tese Ousada: Cabral no Litoral Potiguar
Lenine
Pinto, pesquisador norte-rio-grandense, afirma que a expedição de Pedro
Álvares Cabral, que descobriu o Brasil, ao contrário do que se tem dito
até hoje, teria pela primeira vez atingido o Brasil provavelmente na
praia de Touros, em abril de 1500.
Klécius
Henrique, repórter da TRIBUNA DO NORTE que entrevistou o escritor,
escreveu o seguinte: "Lenine Pinto argumenta que Cabral em sua viagem
rumo à Índia teria seguido a volta do mar numa manobra a partir do Cabo
Verde, a oeste, coroneando a corrente subequatorial do Atlântico que se
bifurcava no Cabo de São Roque, numa aproximação dramática do litoral
potiguar, onde teria aportado em 22 de abril de 1500".
Lenine
Pinto desenvolveu, entre outros, o seguinte argumento: "João da Nova,
em 1501, quando saiu à procura de Cabral, de Cabo Verde, levou trinta
dias para chegar ao cabo de São Roque. Como Cabral, no mesmo tempo,
chegaria ao sul da Bahia?
"A
duração da viagem de Cabral, Portugal-Brasil, é muito importante. É
preciso, portanto, saber o tempo que se gastaria para realizar a viagem
Portugal-Touros e a viagem Portugal-sul da Bahia, naquela época.
Lenine
diz ainda o seguinte: "Há muitos locais no RN semelhantes aos narrados
por Caminha na carta ao rei D. Manuel". Acontece que fica difícil
acreditar que os historiadores não tenham percebido antes o erro,
afirmando que o lugar atingido por Cabral foi o sul da Bahia. A
distância é muito grande. Como explicar tal equívoco?
A
tese foi lançada. A dúvida poderá ser dissipada quando Lenine Pinto
publicar o seu livro "Reinvenção do Descobrimento do Brasil".
O Início da colonização
Prioridade Européia
Controvérsias Sobre a Presença Espanhola
A
prioridade da descoberta do Brasil continua sendo uma questão polêmica.
Para alguns estudiosos, os espanhóis chegaram primeiro. Varnhagen, por
exemplo, defende que Alonso de Ojeda teria atingido o delta do Açu no
Rio Grande do Norte. Outros autores concordam que o navegador espanhol
visitou o Brasil, divergindo apenas do local. "Vinguand discorda e
aponta como sendo o local correto as proximidades do Cabo de São Roque".
Capistrano de Abreu e outros autores negam que Ojeda tivesse passado
pelo Brasil.
A
viagem de outro navegante espanhol também é alvo de discussões. Parece
que Vicente Yañez Pinzon teria realmente vindo ao Brasil. Robert Southey
chegou a afirmar o seguinte. "A primeira pessoa que descobriu a costas
do Brasil foi Vicente Yañez Pinzon".
Segundo
os cronistas, no dia 26 de janeiro de 1500, Pinzon chegou a um lugar
que denominou de Santa Maria de la Consolación. A controvérsia que
existe é sobre onde ficaria essa Santa Maria de La Consolación. Para
uns, seria o cabo de Santo Agostinho. Varnhagen indica a Ponta de
Mucuripe. Guanino Alves, que pesquisou a viagem de Vicente Pinzon,
discorda e indica a ponta de Itapajé, no litoral norte do Ceará, como o
local certo. O fato é que o navegante hispânico tomou posse da terra em
nome da Espanha. E deu à região visitada o nome de Rostro Hermoso.
Depois, Pinzon se dirigiu para o Norte, chegando até a foz do rio
Amazonas, que denominou de Santa Maria de la Mar Dulce.
Outro
navegador espanhol que provavelmente passou pelo Rio Grande do Norte
foi Diego de Lepe e, segundo alguns pesquisadores, teria atingido a
enseada do Açu.
Apesar
das controvérsias, não se pode negar que os espanhóis antecederam aos
portugueses na descoberta do Brasil, considerando que estiveram no País
antes de abril de 1500.
Os Franceses no Rio Grande do Norte
Quando
os franceses foram expulsos do Sul do País seguiram rumo ao Norte,
mantendo um ativo comércio com os nativos. Não conseguiram no entanto
instalar uma colônia. Chegaram a contar com um intérprete: "Um
castelhano tornado potiguar, beiço furado, tatuado, pintado de jenipapo e
urucu, falando o nheengatu em serviço dos franceses com os quais se foi
embora", narrou Câmara Cascudo. A base deles era o Rio Grande do Norte.
Os
franceses passaram a fazer investidas contra a Paraíba, com o apoio dos
potiguares. O ataque mais audacioso se realizou entre 15 a 18 de agosto
de 1597. Portanto treze navios, o embate se deu com a fortaleza de
Santa Catarina de Cabedelo, sob o comando do aventureiro Jacques
Riffaul, que desembarcou trezentos e cinqüenta homens. E mais: "Vinte
outras naus reforçaram a investida, esperando a ordem no rio Potengi".
Não foi um simples assalto de corsários, mas se constituiu uma
verdadeira batalha. A fortaleza foi defendida por apenas vinte soldados.
A artilharia contava com cinco peças. Os portugueses resistiram ao
ataque, forçando os franceses a baterem em retirada.
Vilma
Monteiro analisa a importância dessa vitória: "Determina os novos rumos
da conquista da região Norte. Permite a posse efetiva da Capitania do
Rio Grande, seu povoamento e colonização, com isso abrindo as portas
para a expansão civilizadora sobre novos territórios".
Os franceses, diante desse quadro, ameaçavam a Paraíba; após a caída desta, a próxima conquista seria Pernambuco ...
Foram
eles que iniciaram o processo de miscigenação entre europeus e
americanos na região. Dois aventureiros se destacaram: Charles de Voux e
Jacques Riffault. Ainda hoje um local guarda no nome a lembrança de
Riffault, no bairro do Alecrim em Natal, onde se ergueu a Base Naval
(Refoles).
A Era Lusitana e o Marco de Posse
A
primeira expedição que alcançou terras potiguares foi a de 1501. Essa
viagem, iniciada no dia 10 de maio de 1501, se encontra envolvida em
controvérsias. A começar sobre quem a teria comandado. Alguns nomes são
apresentados: D. Nuno Manoel, André Gonçalves, Fernando de Noronha,
Gonçalo Coelho e Gaspar de Lemos - o nome mais aceito. Quem participou
também dessa expedição foi Américo Vespúcio.
Após
sessenta e sete dias de viagem, foi alcançado o Rio Grande à altura do
Cabo de São Roque e, segundo Câmara Cascudo, ali foi plantado o marco de
posse mais antigo do País, registrando-se, na ocasião, contatos entre
portugueses e potiguares.
O
povo, por causa dos desenhos em forma de cruz no Marco de Posse,
acreditou ser ele milagroso, surgindo assim, um culto. Oswaldo Câmara de
Souza disse o seguinte: "O culto popular chegava às raias do
fetichismo, havendo a crença absurda do que um chá preparado com
fragmentos da pedra tinha poderes milagrosos, trazendo alívio e cura às
mazelas do corpo e do espírito".
Nesse
período, o governo lusitano, verificando que o litoral brasileiro
estava sendo visitado por corsários, entre eles aventureiros franceses,
resolveu enviar expedições militares para defender sua colônia. Foram as
chamadas expedições guarda-costas, sendo consideradas as mais marcantes
aqueles que vieram sob o comando de Cristóvão Jacques, entre 1516 a
1519 e 1526 a 1528. Uma iniciativa ingênua, considerando a imensa
extensão do litoral. É o próprio Cristóvão Jacques que sugere o início
do povoamento como solução para resolver o problema. Eminentes
portugueses aprovaram e defenderam a idéia. D. João III, então envia uma
expedição colonizadora chefiada por Martim Afonso de Souza.
A
base estava lançada e em 1532 fundava-se São Vicente, no Sudeste do
País, o que era muito pouco pois o Brasil possuía dimensões
continentais. Cristóvão Jacques, entre outras coisas, sugere que se
aplicasse no Brasil um sistema que já vinha sendo feito nas ilhas do
Atlântico: o das Capitanias Hereditárias. Uma, na realidade, já havia
sido criada em 1504 por D. Manuel, a de Fernando de Noronha. D. João III
adota oficialmente o sistema no Brasil, criando quatorze capitanias no
período compreendido entre 1934 e 1936. Entre elas, a de João de Barros,
no futuro Rio Grande, como lembra Câmara Cascudo, "começando da Baía da
Traição (Acejutibiró, onde há cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio),
limite norte da Donatária Itamaracá, pertencente a Pero Lopes de Souza,
até a extrema indefinida".
A
capitania possuía cem léguas de extensão. Em 1535, João de Barros,
Aires da Cunha e Fernão Álvares prepararam a maior esquadra particular
que havia saído do Tejo até aquele momento:" Com cinco naus e cinco
caravelas, novecentos homens e mais de cem cavalos". O comando coube a
Aires da Cunha. O governo investiu também nessa expedição: "D. João III
emprestara artilharia, munições e armas retiradas do próprio Arsenal
Régio", informa Câmara Cascudo. Por essa razão, muitos eram de opinião
que Aires da Cunha pretendia, além de fundar colônias no Norte do
Brasil, atingir o Peru pelo interior... Formando mais uma controvérsia
...
Varnhagen
fala de um conflito entre nativos e portugueses à altura do rio
Ceará-Mirim, Câmara Cascudo nega o incidente, afirmando que Varnhagen
"arquitetou tal viagem". É taxativo: "Aires da Cunha nunca esteve no Rio
Grande do Norte". Passando pelo litoral potiguar, o navegante seguiu
viagem rumo ao Norte.
A
expedição foi um fracasso total com a morte de Aires da Cunha. Os
portugueses conseguiram fundar, ao Norte, o povoado de Nazaré, onde
permaneceram três anos. Morreram setecentos homens. Os expedicionários
partiram em busca de melhor sorte. Os resultados, porém, foram péssimos.
Alguns foram jogados nas Antilhas; outros atingiram Porto Rico. E um
grupo formado por São Domingos e João de Barros conseguiu reaver seus
filhos que, quando regressavam de Nazaré, numa tentativa infrutífera,
procuravam colonizar o Rio Grande. Foi nessa oportunidade que teria
ocorrido o conflito entre potiguares e lusitanos, mencionado por
Varnhagen. Mesmo fracassando, essa foi, na opinião de Câmara Cascudo, "a
primeira tentativa de colonização no Rio Grande do Norte".
A fundação de Natal
Disputa Acaba em União Peninsular
O
cardeal D. Henrique assumiu o governo português em 1578. O prelado
contava sessenta e seis anos e, como não tinha filhos, criava um
problema para a sucessão do trono português. No dia 31 de janeiro de
1580, o governante morreu.
Entre
os diversos pretendentes ao trono, três netos de D. Manuel se
apresentavam com maiores possibilidades: D. Antônio, prior do Crato, D.
Catarina e Felipe II, rei da Espanha renunciou a favor de Felipe II. A
disputa se reduziu entre D. Antônio, que era filho bastardo do infante
D. Luís, e o monarca espanhol, que era o mais poderoso pois contava com o
apoio de importantes figuras da nobreza e do clero lusitano. Os dois
rivais partiram para a disputa armada. D. Antônio enfrentou as tropas
fiéis a Felipe II, chefiados pelo duque de Alba, sendo posteriormente
derrotado.
A
crise abalou profundamente Portugal e no dia 28 de junho, como narra
Jânio Quadros, "iniciou-se a tomada de Portugal pelos duque de Alba,
enquanto setenta e duas galés sob o comando do marquês de Santa Cruz,
acompanhadas de setenta naus, chalupas e caravelas, encetavam as
operações navais. As cidades, vilas, lugares e povoações caíram uma a
uma em poder dos invasores, a despeito, aqui e ali, dos esforços dos
partidários de D. Antônio em contê-los".
D.
Felipe não agiu somente pela força das armas, fez praticamente, tudo.
Propostas tentadoras aos membros da nobreza, além do apoio da Companhia
de Jesus. Em síntese, ele comprou o apoio recebido de seus adversários
com ouro e também através de seu poderio militar.
Tudo
isso porque Felipe II tinha grandes interesses na anexação de Portugal
ao reino espanhol: "O grande palco dos efeitos políticos espanhóis na
era filipina havia sido, até aquela data, o Mediterrâneo, seria através
desta unificação que a Espanha passaria a tomar parte na grande era
atlântica inaugurada por Portugal", segundo a "História Geral da
Civilização Brasileira", Vol. I. Por outro lado, os portugueses já
participavam das atividades comerciais espanholas. Era importante para a
Espanha a anexação do reino lusitano, justificando assim todo o empenho
do monarca hispânico. Não foi difícil ocupar Portugal. Venceu Felipe II
e, em 1581, as cortes de Tomar aclamaram-se rei de Portugal. Estava
efetivada a "União Peninsular", que terminaria apenas no ano de 1640.
Para o Brasil, esse período foi uma fase altamente positiva. Exemplo: a conquista do Norte e Nordeste do País.
O Interesse de Filipe II Pelo Rio Grande
Os
franceses se fixaram no litoral potiguar sem necessidade de dominar o
nativo e, justamente por essa razão, tiveram a população local como
aliada. Escondiam suas naus no rio Potengi e, de sua base, se lançavam
contra os colonos portugueses que se encontravam na Paraíba. O Rio
Grande era, de fato, uma área estratégica. Da região, os franceses
podiam se deslocar para o norte e igualmente para o sul.
Filipe
II, ao anexar Portugal e suas colônias, sentiu a situação de abandono
em que estava parte do Nordeste e todo o Norte do Brasil. E o que era
pior: a constante ameaça que representava a permanência dos franceses no
Rio Grande. Tendo em vista essa situação, o monarca não perdeu tempo.
Através de duas Cartas Régis (9 - 11 - 1596 e 15 - 03 - 1597),
determinou a expulsão do inimigo e que fosse construída uma fortaleza e
ainda, fundada uma cidade. Em síntese: conquistar o Rio Grande,
consolidando tal feito através da colonização. Por essa razão, um fato
deve ficar bem claro: a expulsão dos franceses do Rio Grande foi uma
iniciativa de Filipe II, o que significa dizer, hispânica.
A Expedição de Manuel Mascarenhas Homem
A
conquista do Rio Grande não se apresentava como sendo uma tarefa fácil.
E foi por assim compreender que D. Francisco de Souza, governador-geral
do Brasil, determinou que o capitão-mor de Pernambuco, Manuel
Mascarenhas Homem, tomasse todas as providências para que se organizasse
uma grande expedição militar com o objetivo de que as ordens de Filipe
II fosse executadas. Assim foi feito. Uma poderosa expedição foi
organizada. Desta, uma parte iria por mar com uma esquadra formada por
sete navios e cinco caravelões, sob o comando de Francisco de Barros; e
outra seguiria caminhando por terra, liderada por Feliciano Coelho,
capitão-mor da Paraíba.
Manuel
Mascarenhas Homem assumiu o comando geral, agindo com o máximo de
empenho para que nada faltasse a fim de que os objetivos fossem
alcançados: expulsar os franceses, construir uma fortaleza e fundar uma
cidade. Participaram da jornada um grupo de religiosos: os jesuítas
Gaspar de Samperes (autor da planta da futura fortaleza) e Francisco
Lemos, e mais dois franciscanos - Bernadino das Neves, que funcionava
como intérprete, e João de São Miguel.
Narra
Câmara Cascudo: "Feliciano Coelho partiu por terra com as quatro
companhias pernambucanas e uma paraibana capitaneada por Miguel Álvares
Lobo, num total de 178 homens e 90 indígenas guerreiros de Pernambuco e
730 da Paraíba, com seus tuixauas prestigiosos e bravos: Pedra Verde
(Itaobi), Mangue, Cardo-Grande etc. a 17 de dezembro de 1597 o exército
marchou. Mascarenhas viera com as naus".
Acontece
que as forças terrestres foram atingidas pela varíola, sendo obrigadas a
retroceder, com exceção de Jerônimo de Albuquerque que se uniu à
expedição marítima. Havia uma justificativa: Jerônimo desfrutava de
grande prestígio entre os nativos.
A viagem pelo mar continuou e, no caminho, sete naus franceses fugiram para evitar um confronto com a esquadra lusitana.
No
dia 25 de dezembro, a frota luso-espanhola atingia o rio Potengi. No
final do ano de 1997 esse fato completa exatos quatrocentos anos.
A
primeira providência dos invasores foi fazer um entricheiramento com
varas de mangue para que pudessem se defender das investidas dos
potiguares. Medida acertada, porque não demorou muito os nativos
atacaram com toda violência. Era a guerra que começava. Com o passar dos
dias, os luso-espanhóis começaram a perder terreno no conflito armado. A
situação se agravou a tal ponto que ficou crítica, como narrou Vicente
Salvador: "Depois de continuar os assaltos que puseram os nossos em
tanto aperto que esacassamente podiam ir buscar água para beber a uns
poçozinhos que tinham perto da cerca".
O
quadro era muito triste: mortos, feridos e doentes. O clima ficava, a
cada momento, mais insustentável. Foi quando, providencialmente, chegou
Francisco Dias com reforço, evitando uma humilhante derrota. Servindo
para que os luso-espanhóis pudessem manter a posição onde se
encontravam. Não fosse a chegada de Feliciano Coelho, que partiu da
Paraíba com mais soldados, armas e municões, tudo estaria perdido. A
situação, ainda assim, continuava delicada. Era preciso negociar a paz
com urgência.
A Imponente Fortaleza dos Reis Magos
A
fortaleza de madeira não foi construída, como pensava Câmara Cascudo,
em um "arrecife a setecentos e cinqüenta metros da barra do Potengi". A
razão é muito simples: naquele local, a construção não suportaria o
impacto das águas. O edifício, esclarece Hélio Galvão, foi erguido na
praia.
A
planta da fortaleza, apesar de ser contestada por alguns autores, foi
feita pelo padre Gaspar de Samperes. Segundo a arquiteta Jeanne Fonseca
Leite, "a concepção 'antropomorfa' dos italianos encontrou acolhida por
parte do padre Samperes que a introduziu no seu projeto destinado à
construção da Fortaleza dos Reis Magos".
Fortaleza
e não forte, Hélio Galvão esclarece a dúvida: "Forte é uma pequena
edificação sem guarda permanente. Fortaleza, ao contrário, é um grande
edifício com um contingente de soldados permanente. A fortaleza,
localizada na barra do Potengi, se destaca pela sua beleza e pela sua
imponência. Não poderia ser de maneira alguma um forte'.
Para
Hélio Galvão, que pesquisou exaustivamente sobre a Fortaleza, o nome
correto seria Fortaleza da Barra do Rio Grande. O problema não é tão
simples. Naquela época se usava de maneira indiferente mais de um nome
para indicar um prédio público. Aquele edifício pode ser chamado também
de Fortaleza dos Reis Magos, o que não pode, certamente é designá-lo por
"Forte dos Reis Magos", que por sinal é a versão popular usada de
maneira errada pelos cronistas tradicionais.
Os
trabalhos de construção da fortaleza começaram no dia 6 de janeiro de
1598. Hélio Galvão explica o seguinte: "O trabalho se desenvolvia entre
dificuldades e imprevistos, a ameaça constante de índios e franceses, a
atenção dos homens voltada para a vigilância do acampamento. Diríamos
que Mascarenhas Homem lançou a pedra fundamental e a partir daí ninguém
parou. O material foi chegando, as pedras que vinham de Lisboa lastrando
os navios eram guardadas, acumulava-se cal e os implementos
imprescindíveis eram providenciados".
A
primeira fortaleza, a de madeira, foi concluída no dia 24 de junho de
1598. E tinha, como descreveu Câmara Cascudo, "a forma clássica do forte
marítimo, afetando o modelo do polígono estrelado".
Em
1614, o engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, realizou
trabalhos na fortaleza, fazendo pequenas modificações sem alterar a
planta original. A obra foi concluída somente em 1628.
Paz Firmada e Posse Definitiva da Terra
A
capitania se chamava, no início, do Rio Grande, passando a incluir "do
Norte" quando surgiu outra de igual nome, no Sul do País.
Não
houve, no Rio Grande, uma conquista. A expedição de Manuel Mascarenhas
Homem estava praticamente derrotada. Os missionários saíram da fortaleza
para se transformarem em embaixadores da paz. Um passo significativo
nesse sentido foi dado quando os nativos conseguiram distinguir os
militares e colonos dos sacerdotes. O padre Francisco Pinto foi, na
realidade, o grande e incansável apóstolo. Percorreu o sertão, enfrentou
múltiplas vicissitudes. Nos momentos mais difíceis conseguia reunir
novas forças graças à sua fé, operando verdadeiros milagres na obra de
persuasão.
Primeiro,
a catequese e, através dela, o padre Francisco Pinto e seus
companheiros missionários procuravam levar os silvícolas para o lado dos
portugueses. O padre Pero Rodrigues, numa carta, transcrita por Hélio
Galvão, registra o trabalho árduo e difícil dos religiosos. Os padres
ajudavam ao exército com os acostumados exercícios da Companhia, que
eram "a edificação de todos, pregando, confessando, fazendo amizades e
não se negando a nenhum trabalho, de dia e de noite, como no acudir aos
índios nossos amigos, que nos ajudavam na guerra, por adoecerem
gravemente de bexigas e, quando era possível, acudiam a curar e consolar
na morte".
No
processo de pacificação, os missionários não agiram sozinhos. Contaram
com o apoio de alguns chefes nativos: Mar Grande e Pau Seco, entre
outros. Os líderes potiguares foram negociar a paz com os brancos porque
as suas mulheres exigiram o fim das hostilidades. Contribuíram também
com o processo de cristrianização de seus irmãos ao lado dos
missionários.
Não
se pode esquecer, igualmente, o desempenho de Jerônimo de Albuquerque
que foi de suma importância. Filho de Jerônimo Santo Arco Verde (Ubirá -
Ubi) que, por sua vez, era filha do chefe nativo Arco Verde. Mestiço,
possuía sangue tupi em sua veia; corajoso e hábil, falando o idioma
nativo, desfrutava de grande influência entre os habitantes de todo o
Nordeste.
A
paz era o anseio das duas facções em luta e as negociações obtiveram
êxito. Terminadas as hostilidades, Manuel Mascarenhas Homem partiu para a
Bahia, com o objetivo de relatar os acontecimentos ao governador, D.
Francisco de Souza que, sem demora, determinou que fossem solenemente
celebradas as pazes. Isso aconteceu no dia 11 de junho de 1599, na
Paraíba, na presença de muitas autoridades - Mascarenhas Homem;
Feliciano Coelho de Carvalho, ouvidor-mor geral, e Brás de Almeida; de
diversos chefes nativos; do intérprete frei Bernadino das Neves e do
apóstolo dos potiguares, padre Francisco Pinto. As pazes foram
finalmente ratificadas e estava assim assegurada a posse definitiva da
terra, ou mais precisamente da Capitania do Rio Grande.
Um presente dado por Felipe II ao império lusitano ...
Dúvidas Históricas: A Cidade do Natal
Expulso
o francês, construída uma fortaleza, faltava apenas fundar uma cidade. E
esse era, dos três objetivos, provavelmente o mais fácil de ser
executado. Acontece que, graças à destruição de documentos pelos
holandeses, a história da fundação da capital potiguar se perdeu,
talvez, para sempre. A luta dos historiadores norte-rio-grandenses para
reconstruir tal acontecimento tem gerado uma grande controvérsia através
dos tempos. As pesquisas começaram a dar bons frutos e a questão começa
agora a ficar mais clara, com alguns problemas solucionados.
Ainda
hoje se discute quem teria sido o fundador da Cidade do Natal. Os
primeiros cronistas indicavam o nome de Jerônimo de Albuquerque,
alegando que, por sua participação no processo de pacificação, com sua
garra e valentia, teria sido o primeiro capitão-mor do Rio Grande e logo
depois fundado Natal. A informação se baseava muito mais na intuição do
que em qualquer base documental. É, portanto, compreensível que os
primeiros historiadores se confundissem. Frei Vicente Salvador, por
exemplo, narra o seguinte: "Feitas as pazes com os potiguares, como fica
dito se começou logo a fazer uma povoação no Rio Grande a uma légua do
forte, a que chamam a Cidade dos Reis, a qual governa também o capitão
do forte que El Rei costuma mandar cada três anos".
Outro
historiador, Francisco Adolfo Varnhagen, avança mais nas explicações se
valendo de detalhes: "Feitas as pazes com os índios, passou Jerônimo de
Albuquerque a fundar no próprio Rio Grande uma povoação. E como era
para isso imprópria a porção do arrecife ilhada (em preamar) onde estava
o forte, segundo ainda hoje se pode ver, escolheu para isso o primeiro
chão elevado e firme, que se apresenta às margens direitas do rio, obra
de meia légua acima de sua perigosa barra (...). A dita povoação, depois
vila e cidade, de cujo nome não conseguiu fazer - se digna por seu
correspondente crescimento, se chamou de Natal em virtude, sem dúvida,
de se haver inaugurado o seu pelourinho ou a igreja matriz a 25 de
dezembro desse ano da fundação (1599)".
Vicente
de Salvador confundiu a "povoação dos Reis" com a futura capital do Rio
Grande do Norte. Na realidade, durante a construção da fortaleza,
Manuel Mascarenhas Homem mandou erguer algumas casas para abrigar os
oficiais que participaram da tentativa de conquista. Com isso, surgiu
uma povoação que se chamou de Santos Reis. Natal seria fundada,
posteriormente, e não tinha nenhuma relação com a povoação que nasceu
próxima daquele edifício militar...
Varnhagen
vai mais além, descreve a evolução daquele núcleo urbano: "A dita
povoação, depois vila e cidade". Essa afirmação, porém, não é
sustentável. Natal como disse Câmara Cascudo, "nasceu cidade". Não há,
desse modo, nenhuma relação com a primitiva povoação que floresceu nas
proximidades da fortaleza. A razão é clara: Felipe III mandou que se
fundasse uma cidade e não uma povoação... Natal surgiu no local onde
floresceu a povoação. Natal nasceu cidade, porém, sem casas e sem ruas,
aumentando a controvérsia.
A
Capitania do Rio Grande possuía dois núcleos: uma povoação em
decadência e uma cidade que, na prática, não existia... Mas aos poucos,
com o passar do tempo, começava a surgir. Essa situação provocou muita
confusão entre os autores, como demonstram as diversas denominações que
Natal recebeu: "Natal los Reys", "Cidade dos Reis", "Cidade do Natal do
Rio Grande" e até o nome muito estranho de "Cidade de Santiago"...
Afinal, quem fundou Natal?
A
primeira versão que contou no início com a quase unanimidade dos
historiadores, inclusive dos pesquisadores da terra, era a que apontava
Jerônimo de Albuquerque como fundador da Cidade do Natal. Essa teoria,
que tem entre seus defensores ilustres nomes, como Vicente Lemos,
Tavares de Lyra e Tarcísio Medeiros, em síntese seria a seguinte:
Mascarenhas Homem nomeou Jerônimo de Albuquerque comandante da fortaleza
e depois seguiu para a Bahia com a finalidade de prestar contas da
missão que desempenhara, por determinação do governador-geral do Brasil.
Veio a seguir a pacificação dos nativos e, em seguida, a fundação da
cidade. Como Jerônimo se destacou no processo e era o capitão-mor da
Capitania do Rio Grande, logo fora ele o fundador de Natal. Tavares de
Lyra chega até a afirmar que "é de presumir". Portanto, não se tratava
de fato e, sim, de uma possibilidade.
Com
o avanço das pesquisas, ficou provado que Mascarenhas Homem não
designou Jerônimo de Albuquerque para exercer a função de capitão-mor do
Rio Grande e, o que é mais importante, Jerônimo não se encontrava
presente na data da fundação da cidade e portanto não pode ser
considerado como sendo seu fundador ...
Luís
Fernandes (1932) defendeu ter sido Manuel Mascarenhas Homem o fundador
da Cidade do Natal. Alegava que, construindo o primeiro edifício (a
fortaleza) e ainda as casas que deram origem à povoação que se formou
próxima à fortaleza, seria o verdadeiro padrinho da cidade. Argumentação
falha, considerando que o novo centro urbano não possuía nenhuma
relação com tudo o que existia anterior à data da sua fundação.
José
Moreira Brandão Castelo Branco publicou em 1950, na revista Bando, o
texto "Quem fundou Natal", onde defendia a tese de ser João Rodrigues
Colaço o provável fundador da capital potiguar. Posteriormente, esse
estudo foi publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, em 1960, provocando uma polêmica. Câmara Cascudo
chegou inclusive a apoiar a teoria defendida por Castelo Branco (1955).
Pouco tempo depois mudou de opinião, acreditando que o fundador da
cidade teria sido outro: "Para mim, o padrinho da Cidade do Natal foi
Mamuel de Mascarenhas Homem, capitão-mor de Pernambuco, comandante da
expedição colonizadora:. E argumenta: "Continuava tão interessado no
cumprimento das reais determinações que fora à Paraíba, em juno desse
1599, assistiu à solenidade do contrato das pazes com os potiguares, ato
possibilitador da criação da Cidade seis meses depois. Acontece que,
nessa época, Mascarenhas Homem estava em Natal onde concedeu, a 9 de
janeiro de 1600, data nesta fortaleza dos REIS MAGOS (...), a primeira
sesmaria, à margem esquerda do rio, numa água a que chamam da Papuna,
justamente ao capitão João Rodrigues Colaço, seu subalterno. Não
abandonaria funções de governaça se não tivesse deveres de suma
importância, como satisfazer a última parte das instruções do rei,
participando da fundação da cidade. Não outra explicação para a sua
presença em Natal. Tinha sido encarregado da missão e deveria cumpri-la
até o final".
Essa teoria se fundamenta nos seguintes pontos:
1 - A presença de Manuel Mascarenha em dois eventos:
a) Solenidade da ratificação da paz com os nativos.
b) Data da fundação da cidade.
2 - E, ainda, os seguintes argumentos:
a)
Doou a primeira sesmaria no Rio Grande do Norte a João Rodrigues
Colaço, ato administrativo que provaria que estava à frente do governo
da capitania.
b)
Mascarenhas Homem tinha como missão expulsar os franceses, construir
uma fortaleza e fundar uma cidade. Deveria executar objetivos e, assim,
teria para cumprir a última missão: a fundação de Natal.
Manuel
Mascarenhas Homem prestigiou os eventos citados como representante do
governador-geral do Brasil e foi representando D. Francisco de Souza que
doou a sesmaria a colaço. É bom lembrar que, como comandante de uma
expedição militar, ele não poderia doar sesmaria ...
Mascarenhas
Homem construiu a fortaleza de madeira, lançando os fundamentos da
fortaleza definitiva. Expulsou os franceses, mas não fundou a cidade do
Natal porque em dezembro de 1599 já existia um governante, o capitão-mor
João Rodrigues Colaço, habilitado legalmente para fundar a cidade e
iniciar o processo de colonização...
Não
se pode esquecer, também, que no documento da doação de capitão da
fortaleza, D. Manuel Mascarenhas Homem disse claramente que "por mandato
do dito Senhor vim conquistar este Rio Grande e fazer nele a fortaleza
dos Reis Magos". Não afirma que veio fundar uma cidade e, no entanto,
Natal já estava fundada! Chega-se a uma conclusão: Manuel Mascarenhas
não fundou a Cidade do Natal. Falta examinar apenas a teoria que
defender ter sido João Rodrigues Colaço o verdadeiro fundador.
Vicente
Lemos foi o primeiro historiador a afirmar que João Rodrigues Colaço
teria sido o homem que exerceu, pela primeira vez, a função de
capitão-mor do Rio Grande, numa nota publicada na revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Vol. 6, página 138: A
conquista iniciada em princípios de 1598, e na qual tanto distinguiu-se
Jerônimo de Albuquerque, remete no ano seguinte, e, ciente D. Francisco
de Souza, governador-geral do Brasil, de bom êxito da empresa, nomeou
capitão-mor do forte a João Rodrigues Colaço, o primeiro que realmente
governou a capitania".
Depois,
entretanto, Vicente de Lemos muda de opinião. No seu livro "Capitães
Mores e Governadores do Rio Grande do Norte", declarou que Jerônimo de
Albuquerque foi o fundador da Cidade do Natal.
REGIÃO ESTRATÉGICA
Capitania do Rio Grande
Novas Luzes Sobre a Fundação de Natal
Foi
o escritor José Moreira Castelo Branco quem procurou solucionar, de
maneira definitiva, o problema da fundação de Natal. Com base numa
exaustiva pesquisa, publicou um estudo intitulado "Quem Fundou Natal",
onde provou que João Rodrigues Colaço foi de fato o primeiro capitão-mor
do Rio Grande. Apresentou dois documentos, encontrados por Serafim
Leite. Um deles é uma carta do provincial Pero Rodrigues, que registrava
o trabalho de catequese realizado no Rio Grande pelos padres Francisco
Pinto e Gaspar de Samperes, e diz ainda que "a tudo isso se achava
presente o capitão da fortaleza, João Rodrigues Colaço".
Em
seguida, Castelo Branco faz o seguinte comentário: "isto ocorria em
março ou abril de 1599, porque a 19 deste último mês, já os ditos
padres, a fim de satisfazerem uma exigência do príncipe Pau Seco, para
melhor garantia e tornar a pacificação mais firme, partiam do forte do
Rio Grande, em vista às aldeias dos potiguares, até chegar às de
Capaoba, donde seguiram com destino à Paraíba".
O
segundo documento, atribuído a Gaspar de Samperes, afirma o seguinte:
"João Rodrigues Colaço, o primeiro capitão que foi daquela capitania".
Castelo
Branco, apresentando essas provas, constatou ter sido Rodrigues Colaço o
primeiro capitão-mor do Rio Grande e, ainda, através do documento em
que dom Manuel Mascarenhas Homem deu sesmaria a João Rodrigues Colaço,
se comprova que esse senhor governava a capitania em janeiro de 1600.
Após examinar tudo isso, Castelo Branco conclui dizendo que "o primeiro
capitão-mor do Rio Grande foi João Rodrigues Colaço, que governava no
ano de 1599, devendo, por isso, ter sido o fundador da Cidade do Natal".
Como
Castelo Branco não se posicionou de maneira categórica, usando,
inclusive, a expressão "devendo, por isso, ter sido o fundador", não
fechava a questão, deixando o problema em aberto. É que o autor não
dispunha de nenhum documento oficial que confirmasse a sua teoria.
A
importância do estudo de Castelo Branco, contudo, é muito grande.
Elaborou uma tese, hoje vitoriosa. Abriu novas perspectivas, trazendo
uma contribuição significativa e despertando a curiosidade de outros
historiadores. A sua teoria, portanto, ficou no terreno das
possibilidades, ou seja, uma abordagem perfeitamente válida.
Permitiu,
por outro lado, que a versão que defendia sem dom Manuel Mascarenhas
Homem o fundador da Cidade do Natal ganhasse novos adeptos: Hélio Galvão
e Luís da Câmara Cascudo.
Tarcísio
Medeiros divulgou, pela primeira vez, em fevereiro de 1973, o Alvará de
Nomeação de João Rodrigues Colaço, em seu livro "Aspectos Geopolíticos e
Antorpológicos da História do Rio Grande do Norte". Através desse
alvará se constata o seguinte:
1
- João Rodrigues Colaço foi nomeado capitão da Fortaleza, pelo
governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, confirmado,
posteriormente, pela metrópole.
2
- Não houve, portanto, interrupção, desde a data de nomeação, pelo
governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, até a designação
real, através do alvará de 18 de janeiro de 1600.
Esse alvará era, justamente, o documento oficial que Castelo Branco reclamava e que, infelizmente, não chegou a conhecer.
O
historiador Olavo de Medeiros Filho, em seu livro "Terra Natalense",
afirmou o seguinte: "Quando à transmissão do comando da fortaleza a
Jerônimo de Albuquerque, referida por frei Vicente, não há respaldo
documental. Conforme se verifica, através da leitura da Relação de
Ambrósio de Siqueira, de 24 de junho de 1598 até 5 de julho de 1603,
houve a presença de um capitão-mor da fortaleza e da Capitania do Rio
Grande, de João Rodrigues Colaço, o qual foi provido pelo governador
geral do Brasil, dom Francisco de Souza".
Essa
informação é importante porque deixa claro que João Rodrigues Colaço
recebeu o comando da fortaleza após a sua conclusão e não
posteriormente, como se dizia no passado.
Jerônimo de Albuquerque, portanto, não foi designado capitão da fortaleza por Mascarenhas Homem no dia 24 de junho de 1598.
É
possível também concluir que João Rodrigues Colaço foi, inicialmente,
designado para responder pelo comando da fortaleza, por Mascarenhas
Homem, e somente depois foi nomeado capitão-mor da Capitania do Rio
Grande, pelo governador geral do Brasil, e, finalmente, confirmado nessa
função, pelo governo metropolitano.
Examinando
os documentos encontrados pelo padre Serafim Leite e publicados no
livro "História da Companhia de Jesus no Brasil"; a "Carta de Doacão de
Sesmarias a João Rodrigues Colaço", publicada pela revista do Instituto
Histórico e Geográfico no Rio Grande do Norte; a "Relação de Ambrósio de
Siqueira", transcrita em parte - um pequeno trecho - por Olavo de
Medeiros Filho, em "Terra Natalenses"; o Alvará de Nomeação de João
Rodrigues Colaço, divulgado por Tarcísio Medeiros em "Aspectos
Geopolíticos e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte" e,
ainda, "Quem Fundou Natal", de Castelo Branco, fica claro o seguinte"
João Rodrigues Colaço foi nomeado capitão da fortaleza por dom Francisco
de Souza, sendo o primeiro a exercer tal função no Rio Grande, e como
continuava governando a capitania, em janeiro de 1600, foi ele, JOÃO
RODRIGUES COLAÇO QUEM FUNDOU A CIDADE DO NATAL, NO DIA 25 DE DEZEMBRO DE
1599.
A Nobre Sobriedade de João Rodrigues Colaço
Era militar. Casado com dona Beatriz de Menezes, filha de Henrique Muniz Teles.
Falando
sobre o caráter e a personalidade de Colaço, disse Hélio Galvão: "a
nobre sobriedade de suas respostas sobre alguns temas, revela um homem
de caráter marcado, de personalidade alheia a condicionamentos
eventuais".
Olavo
de Medeiros Filho informa que "no período de 15 de agosto de 1595 a 15
de março de 1596, era capitão de uma companhia transferida do Recife
para a Bahia. A referida companhia, àquela data, retornou a Pernambuco.
Um
fato que ninguém pode negar é que João Rodrigues Colaço pode ser
considerado um dos primeiros provoadores do Rio Grande, nascido na
Europa. Por essa razão é que requereu ao representante do governador
geral do Brasil, Manuel Mascarenhas Homem, uma sesmaria, com 2.600
braças, onde possuía inclusive roçados. Tinha, também, escravos da
Guiné.
Colaço assumiu o cargo de capitão da fortaleza no dia 24 de junho de 1598, como comprova a "Relação de Ambrósio Siqueira".
Olavo
de Medeiros Filho afirma que no "período de 26 de novembro de 1601 a 6
de março de 1602, nenhuma data e sesmaria foi concedida pelo governo de
Rodrigues Colaço". Segundo esse autor, provavelmente, nessa época, teria
acontecido um conflito entre portugueses e nativos, descrito por
Anthony Knivet. O episódio teria acontecido da seguinte maneira: os
potiguares, em grande número, cercaram a Cidade do Natal. Aprisionaram e
mataram muitos homens. Mascarenhas Homem, ao tomar conhecimento do
fato, partiu de Pernambuco e surpreendeu o inimigo que se encontrava,
naquele instante, devorando os prisioneiros mortos. Estavam ébrios. E
sem a menor condição para reagir. Foram, então, massacrados. Muitos
morreram, sendo assassinados a pancadas! O saldo da chacina: cinco mil
mortos! O chefe Pirajuva (Barnatana de um Peixe) solicitou e obteve de
Manuel Mascarenhas Homem, a paz.
João
Rodrigues Colaço, possivelmente, se encontrava ausente da capitania.
Não há registro de nenhum envolvimento de Colaço no acontecimento, antes
ou depois do ocorrido.
Frei
Vicente do Salvador narra, na sua História do Brasil, um fato
interessante, que teria se passado durante o governo de João Rodrigues
Colaço: o bispo de Leiria condenou um homem a passar três anos no
Brasil, "onde tornará rico e honrado". O degredado se casou com uma
mulher portuguesa e reuniu uma pequena fortuna. E, ainda, desfrutava da
amizade de Colaço e de sua esposa.
Não
se sabe, até o momento, de outro feito de João Rodrigues Colaço, a não
ser a fundação da Cidade do Natal. Depois de ter concluído o seu
governo, voltou para Portugal. Não se tem outras notícias da sua
presença no Brasil. Não se sabe, também, onde e quando morreu. Mas a
falta de maiores dados sobre a vida de Colaço não justifica, de maneira
alguma, a retirada do único momento de glória que ele viveu: ser o
verdadeiro fundador da Cidade do Natal.
No
momento em que Natal se prepara para comemorar os quatrocentos anos de
sua existência, ninguém pode deixar de fazer justiça ao seu humilde,
desconhecido, porém, verdadeiro fundador. Uma Cidade sem Pressa de Crescer
No
início não houve uma preocupação voltada para a construção de prédios
públicos. A fortaleza era suficiente. Outro edifício, cuja construção
foi iniciada na época da fundação da cidade, foi o da matriz.
Durante
o processo de conquista e de pacificação, a capitania conheceu apenas
duas atividades: a dos soldados, construindo a fortaleza e lutando
contra os nativos; e a segunda, marcada pela atuação dos missionários,
ajudando enfermos e buscando a conciliação com os potiguares.
Entre
outros, se destacaram os seguintes religiosos: Francisco das Neves
Pinto. Os primeiros atos missionários foram realizados dentro da própria
fortaleza.
Pedro
Moura registra a construção de uma igreja, por Martim Soares Moreno,
sob a proteção de Nossa Senhora do Patrocínio. Colheu tal informação em
Miliet, por sinal, o único cronista a falar sobre aquele edifício.
Em
1598, Natal já era freguesia e o seu primeiro vigário, padre Gaspar
Gonçalves da Rocha. Olavo de Medeiros Filho transcreveu, em "Terra
Natalense", o seguinte texto de frei Agostinho de Santa Maria: "foi
levantada uma paróquia que se dedicou à Rainha dos Anjos, Maria
Santíssima, com o título de Apresentação, quando seus santíssimos pais,
Joaquim e Ana, a foram oferecer no Templo, sendo de idade de três anos.
Na capela-mor se colocou, depois, um grande e formoso quadro de pintura,
em que se vê o mesmo mistério da Senhora historiada".
O
primeiro documento que registra a matriz, em Natal, data de 1614,
quando diz que a igreja não tinha portas. A igreja matriz teria sido
concluída em 1619. Foi, entretanto, destruída pelos holandeses.
As
datas concedidas no Rio Grande, como disse Olavo de Medeiros Filho, "no
período de 1600 a 1614, acham-se discriminadas no "Traslado do Auto da
Repartição das Terras da Capitania".
A
cidade não crescia, "andava", ou seja, se arrastava lentamente, rumo ao
futuro. Conta Luís da Câmara Cascudo que "os trinta e quatro anos de
cidade, 1599 - 1633, foram lentos, difíceis e paupérrimos. Interessava
ao rei o forte, a situação territorial. Raríssimas mulheres brancas.
Cidade apenas no nome".
Havia,
entretanto, uma coisa positiva. A pescaria que, segundo as testemunhas
da época, era da melhor qualidade. Abastecia a população local e
exportava para os Estados vizinhos, Paraíba e Pernambuco.
A
maneira de viver da população, naquela época, foi descrita por Câmara
Cascudo: "os moradores viviam espalhados nos sítios ao redor, plantando
roças, caçando, colhendo frutos nos tabuleiros, pouca criação de gado
que se desenvolveria vertiginosamente a ponto de ter 20.000 cabeças em
1633, e as pescarias, de anzol, rede e curral. Havia o sal, colhido nas
marinhas do outro lado do rio, Igapó, Aldeia Velha, antigas malocas dos
potiguares. O peixe salgado e seco foi um dos produtos mais rapidamente
divulgado, com mercados abundantes e fáceis".
Era,
de fato, um lento caminhar. A cidade não tinha pressa em crescer. Para
complicar, dentro em breve deveria de passar por sua fase mais difícil: o
período de invasão holandesa, quando teve prédios e documentos
destruídos, retardando, mais ainda, o seu desenvolvimento. Domínio Holandês
Domínio Holandês
De João R. Colaço à Invasão Holandesa
Esta
é uma fase das mais obscuras da História do Rio Grande do Norte, por
uma razão muito simples: "nos arquivos do Estado não se encontrava
nenhum documento anterior à conquista holandesa. Nesse período, que se
estende 1633 a 1654, foram todos destruídos", como narra Tavares de
Lyra.
Fica
difícil inclusive de se estabelecer a data da posse de alguns
governantes. Atualmente foi desfeita a dúvida sobre quem teria sido o
primeiro capitão-mor do Rio Grande do Norte: João Rodrigues Colaço,
fundador da Cidade do Natal.
A
primeira casa que serviu de sede da administração da capitania foi a
Fortaleza da Barra do Rio Grande ou, como é mais conhecida, Fortaleza
dos Reis Magos. Falando sobre esse fato, disse Luís da Câmara Cascudo:
"era a residência do capitão-mor, sendo administrativa, comando militar,
quartel e refúgio dos raros moradores. Os soldados moravam dentro do
forte e qualquer comoção geral levava os colonos, às carreiras, para as
muralhas imponentes que garantiam o avanço no setentrião do Brasil".
Foi nessa fortaleza que moraram e governaram a Capitania do Rio Grande, os capitães-mores, até a invasão holandesa.
Alguns historiadores elaboram listas, procurando estabelecer, por ordem cronológica, os sucessores de João Rodrigues Colaço.
Vicente
Lemos escreveu um clássico sobre o assunto: "Capitães-Mores e
Governadores do Rio Grande do Norte". Acontece, entretanto, que
permaneceram algumas dúvidas.
Varnhagen,
Tavares de Lyra, Vicente Lemos e Câmara Cascudo classificam como sendo
os primeiros governantes da Capitania do Rio Grande: Manuel Mascarenhas
Homem (comandante da expedição que tentaria a conquista), Jerônimo de
Albuquerque, João Rodrigues Colaço e novamente Jerônimo de Albuquerque.
Equívoco que, felizmente, já foi devidamente esclarecido: o primeiro
capitão-mor do Rio Grande do Norte foi Colaço. Manuel Mascarenhas Homem
não governou o Rio Grande, apenas foi o capitão da conquista que, por
sinal, não houve, porque a posse foi efetivada através de um processo de
pacificação...
A
lista dos governantes do Rio Grande do Norte começa, portanto, com João
Rodrigues Colaço, sendo que Jerônimo de Albuquerque governou apenas uma
só vez!
Os
sucessores desses dois foram os seguintes: Lourenço Peixoto Cirne,
Francisco Caldeira de Castelo Branco, Estevão Soares de Albergaria,
Ambrósio Machado de Carvalho. Como sucessor desse último, era apontado,
por alguns, Bernardo da Mota. Hoje, o equívoco foi corrigido: o sucessor
de Ambrósio Machado de Carvalho foi, na realidade, André Pereira
Temudo, que foi nomeado a 18 de março de 1621.
Tavares
de Lyra pergunta: "Quem substituiu Francisco Gomes de Melo?", para
depois, com base no que escreveu Domingos da Veira, ele mesmo responder:
"a ordem de sucessão foi esta: Francisco Gomes de Melo, Bernardo da
Mota, Porto Carreiro".
Câmara
Cascudo, escrevendo em 1961, confirma Tavares de Lyra. Depois de
Francisco Gomes de Melo, os sucessores foram: Bernardo da Mota e
Cipriano Porto Carreiro.
Quando os holandeses atacaram o Rio Grande, Pero Mendes de Gouveia governa a capitania. Os Holandeses no Brasil: A Bahia
A
primeira tentativa de implantar uma colônia no Brasil, pelos
neerlandeses, foi na Bahia. Os armadores holandeses conheciam o Brasil,
mantendo relações amistosas com os portugueses, durante os reinados de
João III, D. Sebastião e o cardeal D. Henrique. Com a anexação de
Portugal e suas colônias pela Espanha, a situação mudou. Felipe IV,
inimigo dos Países Baixos, determinou "o confisco dos navios flamengos
que estivessem nos portos de seus novos domínios, europeus, africanos,
asiáticos e americanos".
Fugitivos
da Bahia contaram na Holanda como seria fácil conquistar Salvador,
devido à precariedade do sistema montado para defender a colônia. Um
deles, Francisco Duchs, chegou a participar do ataque que resultou na
capitulação da Bahia, em 1625. Guilherme Usselinex, porém, foi quem
"propôs e defendeu a idéia da formação de uma nova companhia, semelhante
à Oriental, que na Índia havia adquirido tantos lucros e vantagens",
como disse Varnhagen.
O
sonho de dominar o Brasil era antigo, porém, como desfrutavam de lucros
com a participação no comércio, durante o governo português deixaram de
lado tal idéia. Agora, a situação era diferente. Os espanhóis se
apresentavam como inimigos. Deviam, portanto, aproveitar a oportunidade
para se apossarem do Brasil foi a criação da Companhia Privilegiada das
Índias Ocidentais, pela Carta Patente de 3 de junho de 1621.
A
companhia decidiu atacar a Bahia, mas precisamente Salvador, capital da
colônia, que, segundo eles, arrecadava 8.000 florins anuais....
E,
como narra Varnhagen, "equipou-se uma grande armada de que foi nomeado
almirante Jacob Willekens, vice-almirante o bravo e venturoso Pieter
Pieterzoon Heyn, e comandante das tropas e governador das futuras
conquistas Johan Van Dorth. Consatava a expedição de vinte e três iates,
armados com quinhentos e nove bocas de fogo, tripulados de mil e
seiscentos marinheiros e guarnecidos de mil e setecentos homens de
desembarque".
A
notícia de que a Holanda iria atacar a Bahia chegou ao Brasil. O
governador geral, Diogo de Mendonça Furtado, procurou tomar todas as
providências, porém, encontrou dificuldades, até mesmo má vontade, como
era o caso do bispo D. Marcos Teixeira.
A
8 de maio de 1624 os holandeses chegaram a Salvador e, após dois dias
de luta, dominavam a cidade. Preso Diogo de Mendonça Furtado, Johan Van
Dorth passou a governar. Os batavos, contudo, não foram felizes. O povo
que havia abandonado a cidade, passado o susto, procurou reagir,
crescendo a figura de D. Marcos Teixeira, apesar de sua idade bastante
avançada. Esgotado, não suportou as vicissitudes e veio a falecer.
Os
holandeses, entretanto, tiveram também suas baixas. Cedo perderam o
cel. Van Dorth. O seu substituto, Albert Schenteu, também morreu, sendo
sucessor Wielen Schauten. Matias de Albuquerque, em Pernambuco, assumiu o
governo da colônia e enviou para a Bahia um reforço, sob o comando de
Francisco Nunes Marinho.
A
metrópole mandou uma esquadra, chefiada por D. Francisco de Moura. A
armada, depois de passar por Pernambuco, foi para a Bahia, onde realizou
o cerco de Salvador. Era preciso, contudo, muito mais.
Filipe
II, diante da repercussão negativa pela grande derrota, cuja
conseqüência foi a perda da Bahia, resolveu tomar uma decisão mais firme
e, então, enviou ao Brasil a maior expedição militar que atingiu o
continente americano até aquele momento, com mais de 12.000 homens e 70
navios, ficando conhecida na História como "Jornada dos Vassalos". D.
Fadrique de Toledo Osório assumiu o comando. Da expedição participaram
não somente militares das duas nacionalidades, Espanha e Portugal, como
figurar ilustres.
No dia 22 de março de 1625, a armada atingiu a Bahia e a 01 de maio Salvador estava libertada.
Os holandeses, contudo, não desistiram de se apossar definitivamente do Brasil... Os Holandeses no Brasil: O Nordeste
A
Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais resolveu fazer nova
investida contra a colônia luso-espanhola. O alvo, agora, seria
Pernambuco, com mais de 130 engenhos, cuja safra ultrapassava as mil
toneladas, fazendo de Pernambuco "a principal e mais rica região
produtora de açúcar do mundo". No aspecto militar, o Nordeste brasileiro
estava desguarnecido e, assim, não tinha condições de resistir a um
ataque de uma grande esquadra.
A
notícia sobre uma nova invasão holandesa ao Brasil se espalhava,
rápida, pela Europa. Matias de Albuquerque, que se encontrava em Madri,
foi nomeado "Governador e Comandante Supremo do Nordeste". O governador
geral Diogo Luís de Oliveira recebeu instruções da metrópole para
reforçar e melhorar o sistema de defesa da Bahia e Pernambuco.
Matias
de Albuquerque partiu para o Nordeste brasileiro com poucos soldados,
um reforço verdadeiramente ridículo diante da grande ameaça. Ao chegar
em Pernambuco constatou que, para fazer frente aos holandeses, contava
apenas com tropas que, na sua maioria, eram integradas por homens
inexperientes... Não precisava, portanto, ser vidente ou estrategista
militar para prever que, em caso de uma invasão em grande escala,
haveria de se repetir exatamente o que aconteceu em Salvador.
No
dia 15 de fevereiro de 1630, uma poderosa esquadra holandesa, com mais
de 50 navios e 7.000 homens, sob a chefia de Hendrick Cornelizon Loncg,
atacou Recife com toda sua força. Resistência heróica, porém, ineficaz
e, assim, a 3 de março, caíram Olinda e Recife. Mas Matias de
Albuquerque não desistiu e, adotando a tática de guerrilha, concentrou
suas forças no Arraial do Bom Jesus. Os colonos levaram uma grande
vantagem: conheciam a terra e atiravam desse fator o máximo que podiam,
impedindo, ou melhor, retardando a vitória dos flamengos.
A
20 de abril de 1632 ocorre um fato que vai mudar o destino da guerra: a
deserção, para o lado dos invasores, de Domingo Fernandes Calabar.
Profundo conhecedor da região, passou a fornecer as informações que os
neerlandeses precisavam e, dentro em breve, ampliaram o seu domínio,
destruindo inclusive o Arraial do Bom Jesus.
A
guerra trazia enormes prejuízos. A Companhia das Índias Ocidentais
resolveu enviar o conde Jos'r Maurício de Nassau Siegen, com amplos
poderes para pacificar a população e promover o desenvolvimento da
colônia, para enfim adquirir os tão sonhados lucros. Começava outra fase
da dominação holandesa.
O
conde de Nassau veio com o título de "Governador Capitão General e
Almirante de Terra e Mar". Vinha, portanto, para administrar e
consolidar a conquista. Chegou no dia 23 de janeiro de 1637 no Recife. E
se apaixonou pelo País dos mais belos do mundo.
O
conde de Nassau era, no dizer de Jânio Quadros, uma "figura do
renascimento, amigo e protetor de letrados e artistas e comprazendo-se
na sua companhia, seria ainda um administrador capaz, culto, enérgico e
generoso".
Nassau,
apesar de ter feito uma grande administração, contudo, não se encontra
isento de críticas. Hélio Viana apresentou, de maneira objetiva, o outro
lado da personalidade do governante holandês: "interesseiramente
protegeu os judeus, que para isso pagavam-lhe uma contribuição, a ponto
de suscitar reclamações. E teve motivos inconfessáveis para amparar os
calvinistas, pois uma de suas amantes no Brasil foi exatamente a filha
do respectivo pastor. Quanto aos católicos, se por interesse político
durante algum tempo permitiu seu culto, não tardou a persegui-los,
expulsando do território ocupado".
Trouxe consigo artistas, (Frans Jasz Post) e cientistas (Jorge Marograv e Wielen Piso), ganhando fama de mecenas.
Entre
seus feitos podem ser citados os seguintes: apoio os senhores de
engenho, tomando medidas que asseguravam uma melhor produção de açúcar;
reformulou a administração pública; procurou acalmar os ânimos dos
portugueses; proibiu que se cobrasse juros de 18% ao ano, além de
promover diversão para o povo.
Na
área militar, realizou algumas conquistas (Alagoas, Ceará, Sergipe),
porém sofreu um grande revés na Bahia. O governo espanhol, satisfeito
com essa grande vitória, resolveu premiar os que nela se destacaram;
Bagnuolo foi feito príncipe de Nápoles, a D. Antônio Felipe Camarão foi
entregue uma comenda, a dos Moinhos de Soure etc.
A
derrota de Nassau despertou Madri que organizou uma grande esquadra,
sob o comando do Conde da Torre, D. Fernando Mascarenhas, para socorrer a
colônia.
No
dia 12 de janeiro de 1640, ocorreu o primeiro combate entre a esquadra
do Conde da Torre e a holandesa, comandada pelo almirante Corweliszoon
Loos e, após alguns combates - sem que houvesse uma batalha decisiva -, o
Conde da Torre desembarcou em Touros, Rio Grande do Norte, mais de mil
homens "sob comando do Mestre de Campo Luís Barbalho Bezerra, destemido
cabo de guerra que iria agora - numa travessia de centenas de léguas, em
busca da Bahia, por trilhas desconhecidas, em território ocupado por
conquistadores desalmados e bárbaras gentes, sem recurso de qualquer
natureza, forçado pela necessidade e estimulado pelo patriotismo a
escrever uma das páginas mais gloriosas da história da luta com os
invasores", segundo conta Tavares de Lyra.
Na
altura do Potengi, Gartsmanm combate os comandados de Luís Barbalho
Bezerra. É derrotado e preso sendo levado como prisioneiro para a Bahia.
Informa
Tavares de Lyra: "A 15 de fevereiro de 1641, chega a notícia da
restauração de Portugal". Com D. João IV assumindo o trono de Portugal,
estava desfeita a "União Peninsular"...
Em
1642, Portugal assinou uma trégua com a Holanda. A 18 de abril desse
ano, Nassau foi notificado que deveria voltar à Europa em 1643. Recebeu
muitas homenagens, partindo somente em 1644. A Insurreição Pernambucana
Alguns
colonos estava descontentes com o domínio holandês, ainda na
administração de Nassau. Devido ao regime, muito duro, imposto pela
Companhia das Índias Ocidentais. Por outro lado, após a trégua com a
Holanda, Portugal almejava a devolução de suas colônias, porém, a
Holanda não concordava. Gerando, assim, um clima de hostilidade entre os
dois impérios. Diante do impasse, o governo português começou,
secretamente, a fomentar a revolta nas terras ocupadas.
Em
1642, André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira já confabulavam,
animados com a restauração do Maranhão. Não estavam sozinhos. O
governador geral Antônio Teles da Silva enviou em 1644, experientes
militares, liderados por Antônio Dias Cardoso, para Pernambuco, para que
atuassem como instrutores. Ainda nesse ano, André Negreiros e João
Fernandes, juntos elaboravam um plano para iniciar a reação contra os
holandeses, tudo feito secretamente porque a trégua entre Holanda e
Portugal não permitia se agisse às claras. Dentro desse contexto, em
1644, Henrique Dias e seu batalhão negro seguiam da Bahia para
Pernambuco, como se estivessem fugindo. E, logo depois, D. Antônio
Felipe Camarão, com seus nativos, segue o mesmo rumo, oficialmente
perseguindo os fugitivos ...
Em
15 de maio de 1645, João Fernandes Vieira e Antônio Cavalcanti, na
várzea de Capibaribe. Assumiam um compromisso para lutar "em nome da
liberdade divina". Pouco dias depois, ou seja, 23 de maio, os dois
juntamente com outras personalidade (16), assinavam um documento onde
demonstravam sua disposição de lutar pela "restauração de nossa pátria".
A
insurreição começou no dia 3 de junho de 1645, na várzea do Capibaribe.
Em agosto, os comandados de João Fernandes Vieira ultrapassavam mil
homens!
Entre
as batalhas que obtiveram maior significação podem ser apontadas: a de
Tabocas, em 1645, quando os revoltosos venceram os batavos do coronel
Hans e do capitão Blauer. E as duas batalhas de Guararapes. A primeira,
em 19 de abril de 1648, com os revoltosos sendo chefiados pelo
mestre-de-campo general Francisco Barreto e, ainda, as tropas de André
Vidal, de Henrique Dias, de Antônio Felipe Camarão e de Vieira. Os
holandeses tinham no tenente-general Sigismundo von Schoppe seu
principal líder. A vitória sorriu para os coloniais. A segunda, que se
realizou em 18 de fevereiro de 1649, foi mais uma derrota dos
neerlandes. Era, praticamente, o fim do domínio holandês no Brasil.
A
Holanda passava por uma crise, estando envolvida na "Guerra de
Navegação" contra os ingleses, forçando desviar a atenção e recursos que
seriam destinados ao Brasil. A Inglaterra, interessada na destruição de
sua rival, passou a ajudar a colônia portuguesa em sua luta contra os
batavos. Através do "Ato de Navegação", de Cromwell, ficaram os
holandeses sem liberdade de ação no mar, onde até aí haviam gozado de
inegável supremacia', como disse Hélio Vianna.
A
expulsão dos holandeses foi, sobretudo, uma grande vitória dos
portugueses, mestiços e, também, uma bela participação de negros e
nativos. Fez nascer, ou pelo menos reforçou, o sentimento nativista,
nacionalista. Demonstrou toda a força de um novo tipo que estava
nascendo: o brasileiro, e lançava as bases de uma futura nação
independente: o Brasil. A Preparação Para Conquistar o RN
A
Fortaleza da Barra do Rio Grande, pela sua beleza, impunha respeito. Os
holandeses sabiam da importância de cunho estratégico daquele edifício
militar. Possuíam, ao mesmo tempo, um certo temor. Começar, então, a
recolher o maior número de informações para elaborar um plano eficaz
para capturá-la.
A 19 de julho de 1625, o capitão Uzel Johannes de Laet fez um reconhecimento, encontrando no Rio Grande um engenho e muito gado.
Em
1630, Adriano Verbo vinha com a "missão especial de ver, ouvir e
cantar", como resumiu Câmara Cascudo. Mesmo com essas informações, os
flamengos não se arriscaram a armar uma esquadra e tentar se apossar da
fortaleza.
No
outro ano, o nativo Marcial, fugitivo dos portugueses, se apresentou ao
Conselho Político do Brasil Holandês. Objetivo: realizar uma aliança
com os batavos. Fornecendo, naturalmente, preciosos dados aos flamengos.
O Conselho Político, contudo, foi prudente... Enviou Elbert Simient e
Joost Closte ao Rio Grande, em 1631, para adquirir maior conhecimento da
região.
Foi
nessa expedição que os batavos conseguiram, por sua sorte, importante
dados que se encontravam em poder dos portugueses e que facilitaram,
posteriormente, a conquista do Ceará. Os documentos se encontravam com
um português chamado João Pereira, que foi morto.
Massacres no Rio Grande do Norte
Tentativas de Conquista
O Fracasso do Primeiro Assalto
Após tantos estudos, os holandeses decidiram, finalmente, realizar a conquista do Rio Grande.
Narra
Câmara Cascudo: "A 21 de dezembro de 1631 partiram do Recife quatorze
navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois conselheiros da
Companhia assumiram a direção suprema, Servaes Carpenter e Van Der
Haghen. As tropas eram comandadas pelo Tenente-Coronel Hartman Godefrid
Van Steyn-Gallefels. Combinaram desembarcar em Ponta Negra, três léguas
ao sul de Natal, marchando sobre a cidade".
O
capitão-mor Cipriano Pita Carneiro reagiu, ordenando que seus liderados
abrissem fogo contra os invasores. Os holandeses, contudo, desistiram
de realizar a conquista. Depois, passaram por Genipabu, agindo como
verdadeiros salteadores, legando duzentas cabeças de gado...
Fracassou, assim, a primeira tentativa dos flamengos para dominar o Rio Grande.
A Rendição e a Tomada da Fortaleza
Ao
que parece, os holandeses temiam encontrar uma fonte resistência por
parte dos defensores da fortaleza. Precisavam conquistar o Rio Grande,
sobretudo porque a captura desta capitania significava a solução para o
abastecimento de carne bovina para os batavos. Richshoffer, quando
esteve em Genipabu, não escondeu o seu entusiasmo: "consumimos mais
carne fresca do que no decurso de todo o ano anterior"...
Em 1632, não se realizou nenhum ataque.
Por que a tomada da fortaleza foi tão fácil?
A
Fortaleza da Barra do Rio Grande estava apenas com um efetivo de
oitenta homens, sendo seu capitão-mor Pero Mendes de Gouveia, que lutou
como um bravo, mas cometeu um erro que lhe seria fatal: abandonou as
dunas próximas da fortaleza. Essas dunas deveriam ser defendidas. Caso
contrário, se os inimigos colocassem ali sua artilharia, transformariam
aquele edifício num alvo fácil de ser atingido. Foi exatamente o que
aconteceu.
O
capitão-mor Pero Mendes Gouveia agiu como se acreditasse que as
muralhas da fortaleza fossem inexpugnáveis... Erro tático, que o levou
para uma derrota inglória...
Os
holandeses, ao contrário dos lusitanos, agiram como verdadeiros
profissionais da guerra, segundo interpretação de Hélio Galvão: "A
operação foi pré-traçada, dentro do quadro militar rígido: uma operação
combinada".
No
dia 5 de dezembro de 1633, partiu do Recife a esquadra sob o comando do
almirante Jean Cornelis Sem Lichtard. Comandava as tropas o
tenente-coronel Baltazar Bijma.
Afirma
Câmara Cascudo: "Todo o dia 9 é de artilharia. Os holandeses montam as
peças de 12 libras e os morteiros lança-granadas erguem trincheiras com
cestões e sobem os canhões para os morros, a cavaleiro do forte. De lá
atiram, quase de pontaria, desmontando as peças portuguesas. Assim 10,
com trocas de descargas, gritos, toque de cornetas e granadas. Dia 11
foi a mesma tarefa".
Tenente-coronel
Bijma intimou o capitão-mor Pero Mendes Gouveia para que se rendesse,
através de uma carta. Resposta de Gouveia: "V. Excia. deve saber que
este forte foi confinado à minha guarda por S.M. Católica e só a ela ou
alguém de sua ordem o posso entregar". Atitude heróica, porém inútil. A
artilharia flamega, montada nas dunas próximas da fortaleza falava mais
alto...
Segunda-feira,
dia 12 hasteada a bandeira branca pelos sitiados. O capitão-mor Gouveia
estava gravemente ferido. Por essa razão, não participou das
negociações para a entrega da fortaleza ao inimigo. Enfermo, não possuía
mais o comando. Fala-se, inclusive, em traição... Na realidade, as
negociações da rendição foram realizadas por pessoas estranhas, como
registra Hélio Galvão: 'Sargento Pinheiro Coelho, foragido de uma prisão
na Bahia; Simão Pita Ortigueira, preso na fortaleza, condenado à morte;
Domingos Fernandes Calabar, que viera na expedição".
Caía a Fortaleza da Barra do Rio Grande. Começava, a partir daquela data, o domínio holandês no Rio Grande do Norte.
Os Massacres
A Destruição na Capela de Cunhaú
Segundo
Câmara Cascudo, "o engenho Cunhaú foi construído na sesmaria dada por
Jerônimo de Albuquerque em 2 de maio de 1604 aos seus filhos Antônio e
Matias. Constava de 500 quadradas na várzea de Cunhaú e mais duas léguas
em Canguaretama".
No
início do século, o engenho exportava açúcar para Recife. Possuía um
fortim, sob o comando do capitão Álvaro Fragoso de Albuquerque. Foi
construído por marinheiros de Dunquerque.
Esse fortim foi atacado, vencido e destruído pelo coronel Artichofski, em outubro de 1634.
A Companhia confiscou o engenho de Antônio Albuquerque Maranhão.
Depois, o engenho passou por várias mãos.
No
dia 15 de julho de 1645, sábado, Jacob Rabbi apareceu em companhia dos
janduís, liderados por Jererera, no engenho de Cunhaú. A simples
presença dos tapuias e de potiguares causou pânico na população.
Jacob
Rabbi trazia instruções de Paul Linge. Publicou um documento,
convidando a população para, no domingo, comparecer à capela para
participar de uma reunião, quando seriam transmitidas determinações do
Conselho Supremo.
A capelinha tinha como padroeira Nossa Senhora das Candeias.
A maioria do povo atendeu ao convite, lotando o templo. Tiveram, entretanto, que deixar suas armas do lado de fora.
O
padre André de Soveral, paulista de São Vicente, missionário e
tupinólogo, começou a celebrar a missa, considerando que a reunião seria
realizada após o ato religioso. Possuía entre 70 e 90 anos. Era muito
querido pelos seus paroquianos.
Os
nativos se aproximaram da capela. Fecharam as portas. Os fiéis
compreenderam o que iria acontecer. Tarde demais. Quando o padre André
Soveral elevou a hóstia, era o sinal combinado, começou o massacre. As
vítimas mal tiveram tempo de pedir perdão de seus pecados. Gritos,
súplicas, gemidos.
Alguns tapuias procuraram atingir o sacerdote, André Soveral, então, disse:
- "Aquele que tocar no padre ou nas imagens do altar terá os braços e as pernas paralisados!"
Os
tapuias recuaram, porém Jererera acertou um golpe violento no
sacerdote, que caiu. Ainda conseguiu se erguer, mas por pouco tempo,
tombando sem vida. Morreram, ao todo sessenta e nove pessoas.
A
notícia se espalhou, provocando revolta. Iniciando, pouco depois, a
fase das represálias. Em outubro de 1645, apareceu o capitão João
Barbosa Pinto, matando holandês, com fúria selvagem. Em janeiro de 1646,
Felipe Camarão e o capitão Paulo da Cunha só não fizeram o mesmo porque
não encontraram inimigo para matar.
Após
a expulsão dos holandeses, em 1645, a capela foi reconstruída pela
família Albuquerque Maranhão, conforme registrou Fernando Távora.
Torturas Lendárias de Uruaçu
Nenhum massacre tinha ocorrido após o de Cunhaú e não havia, igualmente, sinais de algum levante próximo ao Rio Grande.
Acontece
que, no dia 2 de outubro de 1645, chegou de Recife o conselheiro
Bullestraten. E se reuniu, secretamente, com Gatdtzman. Tudo indica que
trazia ordens para executar os portugueses.
Pelo menos, os acontecimentos futuros levaram a pensar em tal hipótese.
No
dia seguinte, 3 de outubro de 1645, os colonos que se encontravam no
Castelo Ceulen foram levados para Uruaçu: Antônio Vilela, Cid, seu
filho, Antônio Vilela Júnior, João Lostau Navarro, Francisco de Bastos,
José do Porto, Diogo Pereira, Estevão Machado de Miranda, Francisco
Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira, Simão
Correia e o padre Ambrósio Francisco Ferro, que exercia as funções de
vigário de Natal.
Ao
chegar em Uruaçu, a tropa formou um quadrado e, no interior desse
quadrado, ficaram o sacerdote mais os colonos. Foi dada a seguinte
ordem: que eles se despissem e se ajoelhassem. Os portugueses
compreenderam, então, o que iria acontecer. O padre Ambrósio Ferro, com
tranqüilidade, deu a absolvição.
O
pastor Astetten fez uma exortação para que os prisioneiros abjurassem a
fé católica. Obteve, entretanto, uma resposta negativa de todos, numa
atitude firme e corajosa dos portugueses. Os colonos se despediram uns
dos outros, praticando atos de devoção. Isso irritou profundamente o
pastor e seus companheiros. Começaram a torturar as vítimas com tanto
ódio, que somente o fanatismo religioso poderia explicar tal insanidade.
Não ficam satisfeitos. Jacob Rabbi chamou os nativos para que eles
completassem o massacre. Fizeram corpos em pedaços. Arrancaram olhos,
línguas, etc.
Esse foi apenas o primeiro ato. O segundo não demoraria muito tempo.
Os
holandeses se dirigiram até o arraial, afirmando que chegaram ordens do
Supremo Conselho, determinado que eles deveria assinar alguns
documentos. Os homens se despediram de seus familiares, chorando, porque
sabiam que iriam caminhar para a morte. Durante o caminho, rezavam. Os
pressentimentos se realizaram.
Os cronistas fizeram relatos minuciosos. Narram, entre outros detalhes, o seguinte:
"Antônio Baracho foi amarrado a uma árvore e arrancam-lhe, quando ainda estava vivo, a língua.
Abriram o corpo de Matias Moreira e tiraram o seu coração. Antes de morrer, ele disse: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".
Espatifaram, com o pau, a cabeça de uma criança, filha de Antônio Vilela.
A filha de Francisco Dias teve o seu corpo partido em duas partes.
A
mulher de Manuel Rodrigues Moura, depois que o marido morreu, teve
cortado os pés e as mãos. A vítima sobreviveu, ainda, três dias ao lado
do marido morto.
Os
nativos procuraram salvar oito rapazes. Os holandeses ofereceram uma
oportunidade para que os jovens conseguissem a liberdade: eles teriam
que passar para o lado dos holandeses. João Martins deu a seguinte
resposta: "não me desamparará Deus dessa maneira, a minha Pátria e o meu
rei. Matai-me logo, pois tenho inveja da morte e da glória dos meus
companheiros".
Uma moça, muito bonita, foi vendida aos nativos, ou melhor, trocada por um cão de raça.
Dois
jovens, Manuel Álvares e Antônio Bernardes, com várias feridas, puxaram
suas armas brancas, investindo contra os tapuias, matando alguns
inimigos antes de morrer.
Uma
menina, de nome Adriana, ao saber que seus pais seriam mortos, se
recolheu a uma casa, chorando, em seguida. Foi quando a Virgem
Santíssima apareceu, procurando consolar aquela criança. E prometeu que
seus pais seriam vingados".
Pouco tempo depois, Camarão foi até o Rio Grande, punindo, com energia, os batavos.
"D.
Beatriz, esposa de Joris Gardtzman, comandante do Castelo Ceulen, por
piedade crista, levou as viúvas dos portugueses que tinham falecido em
Uruaçu, para Natal.
Durante
a noite, Gardtzman e sua mulher, juntamente com outros holandeses,
ouviram uma música, belíssima vindo do local onde ocorreu o morticínio".
Não
se discute, até hoje, a veracidade dessas informações. Diferem apenas
em alguns detalhes. No essencial, ou seja, que os holandeses promoveram
dois grandes massacres, liderados por Jacob Rabbi, com a participação
dos janduís, constituem um fato indiscutível. Com relação aos dois
últimos itens é que, de uma maneira geral, existem dúvidas, colocando,
ambos no plano das lendas, fruto do espírito religioso e da ingenuidade
do povo daquela época.
Na atualidade, contudo, é preciso ir além dos simples relatos para fazer uma análise de toda a problemática.
Uma Pequena Análise Sobre as Ações Cruéis
Os
massacres que os flamengos promoveram no Rio Grande do Norte não
constituem um caso isolado da colonização européia (ingleses, franceses,
espanhóis, portugueses e holandeses), nas terras americanas. Herbert
Aptheker, resumiu numa palavra de ação inglesa, com relação aos nativos:
GENOCÍDIO!
Frei
Bartolomeu de Las Casas, como lembra Eduardo Bueno, chamou os espanhóis
de "sujos ladrões", "tiranos cruéis" e "sangrentos destruidores".
Georgi
Friederici, em texto citado anteriormente no fascículo I desta coleção,
descreve com realismo como foi feita a conquista de Ceuta pelos
portugueses.
Os
conquistadores não respeitavam nada, interessados apenas em conseguir
ouro e, na falta desse metal, qualquer mercadoria que desse lucro...
Tudo dentro da filosofia mercantilista.
Os
europeus se julgavam detentores da "civilização" nas terras incultas da
América, agiram como se fossem verdadeiros bárbaros...
No caso específico do Rio Grande, porém, ocorreram determinadas circunstâncias, que merecerem algumas observações.
Em
primeiro lugar, os flamengos resolveram eliminar duas coisas ao mesmo
tempo: os portugueses e a religião católica. O morticínio de Cunhaú, por
exemplo, foi realizado dentro de uma capela, durante uma missa,
justamente na hora em que o celebrante erguia a hóstia, numa
demonstração clara de desmoralização da religião das vítimas.
Em
Uruaçu não havia um templo católico. Existe, entretanto, a presença de
um pastor que pretendia os católicos para a sua doutrina. A recusa firme
dos colonos em mudar de crença, provocou nos holandeses um ódio insano,
inclusive do pastor que, de maneira incompreensível, participou do
processo de tortura. Fizeram coisas terríveis com o vigário Ambrósio
Francisco Ferro, quando ele ainda estava vivo. Somente um ódio muito
grande justificaria tal atitude. Provocado pelo fanatismo religioso.
Outro
aspecto, que não é possível esquecer: os holandeses só iniciavam o
massacre quando estavam certos de que as vítimas não tinham a menor
chance de reagir. Apareciam com promessas de paz para, desarmadas as
vítimas, praticarem a violência.
Não
foi igualmente uma luta de um povo dominado contra seu opressor. Não a
iniciativa partiu do dominador para eliminar o povo subjugado. Os
janduís receberam ordem para matar. Agiram como soldados. Dentro de um
contexto onde a violência fazia parte do existir. Os batavos, sem
dúvida, contrariaram os seus princípios, ou seja, "não matar", que
dizer, massacrar! E até a maneira de viver de pessoas CIVILIZADAS ...
A Igreja Católica do Rio Grande do Norte iniciou, recentemente, um processo para a canonizar os mártires de Cunhaú e Uruaçu.
A
questão deve ser colocada da seguinte maneira: as vítimas foram
sacrificadas porque não renunciaram à sua fé ou, na realidade, porque
defenderam a causa lusitana? Eliminar o português teria sido um problema
político. Acontece que matar mulheres e crianças inocentes, sem nenhum
envolvimento político, não é justificável, a não ser pelo ódio do grupo
dominador ao catolicismo.
Estava
tudo preparado. Os tapuias só entrariam em cena caso os colonos não
aceitassem passar para o lado flamengo e renegassem a fé dos
dominadores. Foi, ao mesmo tempo, uma demonstração de patriotismo e,
sobretudo, de fé. Quando tomaram consciência de que seriam mortos,
pronunciaram frases como, por exemplo, "LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO
SACRAMENTO".
Não
se pode, também, colocar Jacob Rabbi como o único responsável. Após o
morticínio de Cunhaú, ele deveria ter sido afastado de suas funções. Não
foi, entretanto, demitido, por uma razão muito simples: os holandeses
precisavam de Rabbi e da presença dos janduís para, pelo terror,
assegurar o domínio do Rio Grande. Os holandeses optaram, portanto, pela
violência. Antes dos massacres, vieram ordens de Recife. A conclusão é
clara: o governo holandês, localizado no Recife, é o responsável pelos
massacres na Capitania do Rio Grande!
O Fim de Jacob Rabbi e do Morticínio
Existe
uma unanimidade entre os historiadores sobre o caráter violento e
desnecessário dos massacres promovidos pelos batavos, e seus aliados
janduís, na Capitania do Rio Grande.
A
execução dessas matanças foram comandadas, como já foi demonstrado,
pelo judeu-alemão Jacob Rabbi, que veio para o Brasil com o conde João
Maurício de Nassau, em 1637, originário de Waldeck.
Para
Câmara Cascudo, ele era violento e astuto, cruel e sem escrúpulo,
saqueador e mandante de assassinatos, é a figura mais sinistra e
repelente do domínio holandês no Nordeste brasileiro, denegrida e
acusada por todos os historiadores do seu tempo".
Olavo
de Medeiros Filho completa o perfil de Jacob Rabbi, afirmando que o
judeu-alemão possuía "certa cultura, poliglota (pelo menos falava os
idiomas alemão, holandês, português, tupi e taraiui). De sua pena deixou
uma crônica famosa, ou relação de viagem contendo preciosas informações
sobre a geografia da capitania, bem como sobre a etnografia dos
tapuias".
Câmara
Cascudo chama a atenção para outro aspecto: "todos os assaltos, saques,
tropelias, morticínios dos janduís rendiam gado, roupa, jóias, ao amigo
Rabbi". Como resultado, o judeu conseguiu acumular uma pequena fortuna.
Jacob
Rabbi permaneceu durante quatro anos vivendo entre os selvagens. Com o
passar do tempo, crescia a afinidade entre o europeu e os tapuias, Rabbi
foi assimilando os costumes nativos. Passava por um processo de
indianização. De fato, na interpretação de Câmara Cascudo, "o sórdido e
desconfiado europeu inteligente e branco, que era por dentro um cariri
autêntico, desde o temperamento aos costumes diários".
Rabbi
vivia com uma nativa, de nome Domingas, num sítio de sua propriedade,
chamado "Ceará". Segundo Olavo de Medeiros Filho, "o sítio corresponde
atualmente à localização denominada Araça, ribeira do Ceará-Mirim entre
Massagana e Estivas, e mesmo ao norte da cidade de Extremoz".
No
massacre de Uruaçu, foi morto João Lostau Navarro, sogro de Gardtzman
que, revoltado, decidiu se vingar, afirmando "que o mundo nada perderia
se desembaraçassem de semelhante canalha". Chegou, inclusive, a entrar
em contato com dois homens para que matassem Jacob Rabbi. Primeiro foi
com Wilhelm Jansen, que colocou uma série de dificuldades. A outra
pessoa foi Roeloff Baron, que concordou em realizar a sinistra missão,
caso recebesse ordens do Alto Conselho Secreto. Nesses contatos,
portanto, Gardtzman não conseguiu efetivar seu intento. Mas não desistiu
de eliminar Rabbi.
Mais
adiante, convidou o seu desafeto para uma reunião, com a finalidade de
promover um entendimento e esquecer as mágoas passadas. O judeu-alemão
aceitou, finalmente, participar de uma ceia que aconteceria na casa de
Dirk Mulden Van Mel, a qual, segundo Câmara Cascudo, estava localizada
nas proximidades de Refoles. Olavo Medeiros afirma que a casa de Muller
"fica à margem direita do então chamado riacho Guajaí (água dos
caranguejos), entre os distritos de Igapó e Santo Antônio do Potengi.
Dista cerca de 10,5 km da matriz".
Ainda
participaram desse encontro outros militares: Wilhelm Becke, Roulox
Baro, Jacob de Bolan, Denys Baltesen, Johannes Hoeck, Wilhelm Tenberghe
etc.
Após
a realização da conferência ente os dois desafetos, Gardtzman saiu
primeiro. Pouco depois é que Rabbi saiu. E não demorou muito tempo para
que se ouvissem dois disparos de fuzil. Caía, mortalmente ferido, Jacob
Rabbi. A vítima recebeu, além dos tiros, golpes de sabre que deformaram
partes do cadáver.
Ficou
provado, mais, uma vez, que a violência provoca violência, Jacob Rabbi,
que praticou assaltos e crimes, sendo um dos responsáveis, pelos
massacres de Cunhaú e Uruaçu, morreu como conseqüência do ódio, tendo
seu corpo deformado por golpes de sabre. Olavo Medeiros descreve a
situação em que o corpo foi encontrado: "Um dos tiros penetra-lhe do
lado esquerdo do corpo, fazendo-lhe um ferimento muito profundo, em que
Muller pudera introduzir até o fim dos seus dedos. A outra bala
varara-lhe o lado direito das costelas falsas. Seis golpes de armas
branca haviam-lhe deformado o rosto, a cabeça e o braço direito. Um dos
olhos do cadáver estava aberto; as suas algibeiras achavam-se voltadas e
esvaziadas. Faltava-lhe um anel de ouro, que ainda trazia no dedo
quando se retirara da casa de Muller".
O crime ocorreu na noite de 4 de abril de 1646.
Jacob Rabbi foi sepultado no lugar onde morreu. Gardtzman, ao ser informado do crime, cinicamente disse:
- "Antes ele do que eu".
Apesar
de ter negado se o mandante do crime, ficou provado que houve um acordo
entre Gardtzman e Bolan para matar e depois roubar os bens de Jacob
Rabbi.
Domingas foi despojada, totalmente, dos bens de seu companheiro.
Os janduís, decepcionados, voltaram para o sertão. Não houve mais morticínio na Capitania do Rio Grande.
O Brasão Holandês do Rio Grande
O
conde Maurício de Nassau, e, 1639, deu a cada capitania o seu brasão. O
do Rio Grande foi descrito por Barléu desta maneira: "A província Rio
Grande tinha por armas um rio, em cujas margens pisava ave. Havia,
ainda, uma estrela de prata, na parte superior e o mote: velociter".
Para
alguns autores, a ema foi escolhida para ilustrar o brasão, porque essa
ave existia em grande número na referida região. Câmara Cascudo,
contudo, discorda e afirma: "a ema nunca foi em tempo algum
característica da fauna norte-rio-grandenses e especialmente no domínio
holandês ". Mais um argumento apresentado por Câmara Cascudo" "caso
Nassau desejasse colocar algo característico da capitania, teria,
naturalmente, escolhido o gado, uma das razões para a conquista da
região". E aponta outro motivo para a escolha da ema: uma homenagem de
Nassau a um grande chefe cariri, Janduí, amigo dos holandeses,
desenvolvendo uma argumentação convincente: "Janduí é o chefe das tropas
fiéis, prontas, irresistíveis (...) Janduí é nome tupi, corrução de
NHANDU, uma pequena e por autonomia, o corredor, o que corre muito. Daí o
lema, VELOCITER", num estudo publicado na regista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Câmara
Cascudo chegou a dizer o seguinte: "sem Janduí a companhia não sustinha
o Rio Grande duas semanas. Natural, portanto, que Nassau prestasse uma
homenagem ao fiel amigo. E, ainda, os janduís eram notáveis pela rapidez
com que se deslocavam. Justificando, assim, o mote "VELOCITER". Razão,
portanto, tem Câmara Cascudo quando concluiu que "Janduí é a ema do
brasão holandês no Rio Grande do Norte".
O Governo Holandês no RN
As
se apossarem do Rio Grande, os holandeses mudaram o nome da fortaleza
para Castelo Ceulen. Natal passou a se chamar Amsterdã (ou Nova
Amsterdã). Logo após a conquista, Joris Gardtzman assumiu o governo
sozinho.
Em
1637 foram criadas as Câmaras dos Escabinos, presididas pelo esculteto,
cargo que correspondia ao de prefeito, na atualidade. Havia ainda os
curadores autonomia.
O Rio Grande não possuía autonomia administrativa, "dependia da justificação da Paraíba onde residia um diretor".
Durante
o domínio holandês, nada foi feito que dignificasse um governo. Havia
somente duas preocupações: dominar e explorar economicamente a região.
Isso significa dizer eliminar qualquer resistência, que política, quer
religiosa, para assegurar a exploração econômica. Subjugar pelas armas
para garantir o fornecimento de carne bovina e de farinha. Nesse
aspecto, a administração batava, no Rio Grande, obteve êxito, garantindo
o alimento necessário para que os invasores pudessem ser mantidos em
Recife. Caso contrário, eles teriam duas opções: abandonar Pernambuco ou
morrer de fome...
Como
mostra Tarcísio Medeiros, "a mestiçagem continuou no período holandês: a
dos bugres com portugueses ou holandeses, que produzia, no dizer de um
cronista flamengo "belos tipos de mulheres e homens. Do contato de
mulheres brasileiras, tanto com portugueses como com neerlandeses,
nascem muitos bastardos, entre os quais não raro se encontram formosos e
delicados tipos quer de homens, quer de mulheres". Tarcísio Medeiros
transcreveu essa última parte do texto do livro de "História do Brasil",
vol. 2. De Ernani Silva Bruno. E cita o testemunho de Gilberto Freyre:
"Seriam tais louros, em alguns casos, restos de normandos ou de
flamengos do século XVI".
Em
1654 termina, para a felicidade dos que ainda restavam da população, o
domínio holandês no Rio Grande. Quando o capitão Francisco de
Figueirora, comandando 850 soldados,. Vinha reassumir o governo da
capitania, o Rio Grande era apenas abandono e ruínas, inclusive a
capital que praticamente foi destruída.
O Potiguar Antonio Felipe Camarão
Existe
uma controvérsia na historiografia norte-rio-grandense a respeito de um
chefe nativo, dos potiguares, chamado Poti (Potiguaçu), que ao receber o
batismo, passou a se chamar Antônio Felipe Camarão.
Para
alguns historiadores, em lugar de um tuixaua, teriam existido dois com o
mesmo nome Poti, sendo que o primeiro participou das negociações de paz
entre portugueses e potiguares na Capitania do Rio Grande. E o outro,
filho dele, se destacou com brilhantismo durante a guerra contra os
holandeses.
Olavo
de Medeiros Filho, no seu mais recente livro "Aconteceu na Capitania do
Rio Grande", divulgou parte de uma carta escrita por Felipe Camarão,
que diz o seguinte: "mi Padre fue ator de loss pazes tan desseadas que
mi nacion, y gente hizieron com los portugueses".
Antonio
Felipe Camarão, ao dizer que seu pai foi o autor das pazes, comprovou a
existência de dois chefes potiguares, com o mesmo nome, seu pai e ele.
Segundo o grupo de pesquisadores, o pai seria norte-rio-grandense e o filho teria nascido em terras pernambucanas.
Essa
tese, entretanto, não apresenta uma sólida argumentação. A grande
prova, apresentada pelos defensores dessa teoria, é, a existência, na
Torre do Tombo, em Lisboa, de um depoimento prestado por Antonio Felipe
Camarão, num processo instaurado pela Inquisição de Lisboa contra o
padre Manuel de Moraes, quando o chefe potiguar afirmou que morava na
aldeia de Meratibi.
O historiador pernambucano Mário Mello colocou a aldeia de Meraribi (Miritiba) nas terras de sua família.
Ingenuidade ou simples coincidência?
Pedro
Moura constata, através "de uma carta de doação e sesmaria, passada por
Ordem do Capitão do Rio Grande na Cidade de Natal, em 28 de fevereiro
de 1706, SEBASTIÃO NUNES COLLARES, mais de três léguas de terra de rio
abaixo anexados com s que os religiosos Carmelitas já tinham obtido
anteriormente. Esta fazenda do Carmo está situada à margem da estrada
real que vai da cidade de Assu à cidade de Mossoró, na ribeira do
Panema, cujo rio corre e deságua em território exclusivamente
rio-grandense do Norte, com o mesmo leito que tinha, quando nasceu,
viveu e morreu Potyguaçu.
Após
transcrever esse texto, Pedro Moura fez o seguinte comentário: "Foi
nessa ribeira do Panema, no seu afluente Meiritupe, que se encontrava a
aldeia Meretipe ou Meretibe, aonde residia DOM ANTÔNIO FELIPE CAMARÃO,
como diz ele no seu depoimento, no processo do padre MANOEL DE MORAES e
foi desse SERTÃO DONDE DESCEU, trazendo consigo todos os índios que lhe
eram sujeitos, como todas as suas mulheres e filhos, como diz Calado.
Meretibe ou Merebiti, aldeia de potiguares, jamais pertenceu à Capitania
de Pernambuco e sim à do Rio Grande. Estava ao lado do rio do mesmo
nome, descoberto por GEDEÃO MORRIS, com mais outro dois rios, oo
lwypanim e Wararacury, quando lá esteve em 1641".
DOS BÁRBAROS A 1917
O Governador dos Índios
Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho
A
simples existência de uma aldeia com o nome de Meratibi, em Pernambuco,
não significa que essa aldeia tenha sido a povoação à qual dom Antônio
Felipe Camarão se referiu em seu testemunho. E mesmo que o historiador
pernambucano estivesse certo, a palavra que se encontras no documento
citado é "residia" e, claro, existe uma diferença entre "residir" e
"nascer". Esse documento, portanto, não prova que o chefe potiguar tenha
efetivamente nascido em Pernambuco...
Meratibi
é o nome de uma aldeia pernambucana com grafia semelhante à de outra
aldeia potiguar chamada de Merebiti ou Meretibi. O escritor Mário Mello
aproveitou essa semelhança para forjar a sua teoria de que Felipe
Camarão teria nascido em Pernambuco.
Outro
aspecto que se deve destacar: Luís da Câmara Cascudo provou que existe
no Rio Grande do Norte uma tradição popular sobre dom Antônio Felipe
Camarão entre pessoas iletradas, no interior e na época em que ele
realizou a pesquisa, na década de trinta. As mulheres que foram
consultadas desconheciam totalmente a controvérsia sobre Felipe Camarão.
Disse Câmara Cascudo: "Essa tradição popular da naturalidade de Camarão
é um ponto de referência de singular força argumentadora. Nenhum outro
Estado disputante de seu berço pode empregar as mesmas armas. Essa
tradição oral só existe no Rio Grande do Norte, onde dom Antônio Felipe
Camarão é tido como conterrâneo".
Caso
Felipe Camarão tenha morado realmente na Mirituba pernambucana - Pedro
Moura provou que não -, ele já havia nascido e se encontrava na idade
adulta, dirigindo o seu povo. Foi assim que ele deixou o Rio Grande para
lutar contra os holandeses em Pernambuco.
Falta
ainda comentar outro argumento a favor da tese pernambucana. Em uma
carta, Henrique Dias disse o seguinte: "Meus senhores Olandeses, meu
Camarada o Camarão não está aqui, porém eu respondo por ambos. Vossas
Mercês, saibam que Pernambuco é sua pátria e minha, e que já não podemos
sofrer tanta ausência d'ella! Aqui havemos de deitar vossas mercês fora
d'ella".
A
questão é fácil de explicar. Com a palavra, novamente, Pedro Moura: "De
fato, Camarão nasceu nesta província, isto é, na circunscrição naquele
tempo criada por D. Diogo de Menezes, Capitania do Rio Grande do Estado
do Brasil", sujeita a um só governo geral, como parte integrante de uma
província militar - Pernambuco".
"Da
mesma maneira frei Calado chamou "índios brasileiros, índios da terra,
índios pernambucanos", os nossos índios, indistintamente, nascido na
província limitar de Pernambuco, fossem eles tabajaras, fossem
potyguares, fossem cahetés".
Em
síntese, a "pátria pernambucana" não significava apenas Pernambuco,
porém uma área bem mais ampla que incluía inclusive o Rio Grande. E
Antônio Felipe Camarão, ao dizer que lutava pela pátria pernambucana,
estaria também se referindo ao seu pequeno Rio Grande.
Henrique
Dias, ao dizer "pátria", não estava se referindo exclusivamente à
Capitania de Pernambuco, porque ele não pretendia expulsar os holandeses
apenas de uma capitania, mas de todo o Nordeste.
A
conclusão que se extraia de tudo o que foi dito é o seguinte: existiram
realmente dois chefes potiguares, pai e filho, que possuíam o mesmo
nome - Poti. O filho foi quem partiu do Rio Grande para lutar contra os
holandeses, em Pernambuco. O que não se comprova é que ambos nasceram no
Rio Grande do Norte.
As
controvérsias não terminam aqui. Antes se imaginava que havia só um
Poti. Agora, provado que existiam dois, não fica fácil esclarecer os
fatos em que ambos se envolveram. Quem fez tal empreendimento, foi o pai
ou o filho? É preciso realizar, urgentemente, uma investigação séria
sobre o problema.
Dom Antônio Felipe Camarão nasceu, provavelmente, na Aldeia Velha, no ano de 1580.
Com
relação ao seu batismo, Nestor Lima aponta para o dia 13 de junho de
1612 e parece estar certo. Naquele dia, ao se tornar cristão, o potiguar
tomou o nome de Antônio Felipe Camarão. O primeiro nome teria sido uma
homenagem ao santo do dia, Santo Antônio. O segundo nome seria uma
homenagem a Felipe IV, rei da Espanha. E, finalmente, Camarão, que é
tradução portuguesa do seu nome primitivo em tupi: Poti.
No
dia seguinte ao do seu batizado, Felipe cassou com uma de suas mulheres
que, na pia batismal, recebeu o nome de Clara. As solenidades do
batizado e do casamento foram realizadas em grande estilo na Capela de
São Miguel de Guajerú.
Antonio
Soares, no "Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte",
transcreve a opinião de D. Domingas do Loreto: "Na guerra da restauração
de Pernambuco, ostentou D. Clara, mulher do governador dos índios. D.
Antônio Felipe Camarão, o seu insigne valor com os mais ilustres
realces: porque, armada de espada e broquel, e montada em um cavalo, foi
vista nos conflitos mais arriscados ao lado do seu marido, com
admiração do holandez e aplauso dos nossos".
D.
Antônio Felipe Camarão, além de grande guerreiro, foi igualmente hábil
estrategista. Sua maior vitória foi contra o general Arcizewski, que
sentiu humilhado ao perder para um chefe nativo. São suas as seguintes
palavras, transcritas por Antônio Soares, no "Dicionário Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte" : "Há mais de quarenta anos - disse o
general - que não milito na Polônia, Alemanha e Flandres, ocupando sem
interrupção postos honrosos, mas só o índio brasileiro Camarão veio
abater-me o orgulho".
O
valente chefe potiguar, pelo seu desempenho contra os inimigos, recebeu
diversas honrarias: o título de "Dom", dado por Felipe IV; Brasão de
Armas; "Capitão Mor e Governador de Todos os índios do Brasil", e as
comendas "Cavaleiro da Ordem de Cristo" e dos "Moinhos de Saure".
Dom Antonio Felipe Camarão morreu, segundo alguns autores, a 24 de agosto de 1648, sendo sepultado na Várzea, em Pernambuco.
A Guerra dos Bárbaros
Um Prenúncio de Forte Tempestade
Após
a expulsão dos holandeses, a Capitania do Rio Grande apresentava o
seguinte quadro, descrito por Câmara Cascudo: "a Capitania ficou
devastada. A população quase desapareceu. Plantios, gado, destruídos. Os
flamengos tinham incendiado as casas principais, queimando livros de
registro".
Antônio
Vaz Gondim assimiu o governo, tomando medidas para reorganizar a
capitania, partindo praticamente do nada. Reconstruindo edifícios
)Fortaleza e Matriz), organizando a defesa da cidade, mas, sobretudo,
iniciando uma política de povoamento. Lançou os fundamentos de uma
infra-estrutura para que fosse possível efetivamente governar a
capitania.
Nuvens negras, contudo, começavam a se acumular no horizonte, num prenúncio de tempestade...
Os
colonos que viviam no interior, sem recursos para a aquisição de
escravos africanos, capturavam nativos. Mais do que isso, os sesmeiros
provocavam os naturais da terra para que eles lutassem contra os seus
vizinhos, ou, então contra os brancos, que assim promoveriam a chamada
"guerra justa", obtendo maior número de escravos. As vítimas tinham duas
opções: submeter-se, sofrendo todo o tipo de humilhação, ou
recebelar-se.
A
situação se agravou porque, como disse Tavares de Lyra, os holandeses
voltaram ao Nordeste com um único objetivo: levantar os silvícolas do
Rio Grande do Norte contra os portugueses. Os holandeses que se casaram
com as viúvas lusitanas pleiteavam os bens de suas esposas ...
Tavares
de Lyra chama a atenção para o fato e acrescenta: "dada a situação esta
consulta faz entrever, é provável que mais tarde, quando ainda se
arrastavam na Europa as negociações para ajustes internacionais, os
ex-dominadores mantivessem insidiosamente as ferramentas de agitação na
colônia, para deles tirar partido, assim como que incitassem a virem
para o Brasil fazer causa comum com os revoltados".
Os
portugueses cobiçavam as terras dos silvícolas, procurando se apossar
delas, através do extermínio ou empurrando os nativos para o interior.
Irritando, dessa maneira, os tapuias e os potiguares.
Tarcísio
Medeiros é mais taxativo: "Essa forma de expansão sem respeito aos bens
dos índios, que ainda eram preados para o eito escravo, concorreu para
os primeiros atritos, o correr de sangue de uma guerra que, por espaço
de cinqüenta anos, chamada "Guerra dos Bárbaros", o Rio Grande, mal
nascido, só conheceu violências, extorsões, vilipêndio e rapinagem".
Ambição dos Colonos Revolta os Índios
Não foi uma guerra comum.
Os
nativos, diante das constantes provocações dos colonos, revoltaram-se.
As tribos às vezes se aliavam e, em outras oportunidades, lutavam
sozinhas. Não houve, entretanto, nenhuma confederação. Muito menos um
comando único, ao qual todos obedecessem. Tratava-se muito mais der uma
reação contra as perseguições dos brancos que, inclusive, tinham
interesse em manter acesso o fogo da revolta: com a manutenção do
conflito, aos poucos, os naturais da terra seriam exterminados.
Em
1685, os janduís já demonstravam descontentamento. Em 1687, a situação
se agravou, sendo descrita por Câmara Cascudo da seguinte maneira: "Os
indígenas corriam incendiando, matando o gado e os vaqueiros e
plantadores do sertão (...). Mais de cem homens mortos".
O
capitão-mor Pascoal Gonçalves de Carvalho, desesperado, pediu ajuda aos
seus colegas de Pernambuco e Paraíba, além do Senado da Câmara de
Olinda.
A
situação era crítica de fato. Os silvícolas avançavam rumo à capital.
Atingiram Ceará-Mirim, próximo de Natal. Para se defenderem, os colonos
construíram casas-fortes e paliçadas.
Alguns
reforços foram enviados para a capitania, como o terço dos paulistas e,
posteriormente, Domingos Jorge Velho. Não conseguiram terminar a
guerra, apesar de seus esforços. É que a solução para o conflito
dependia muito mais de visão administrativa, habilidades e espírito de
justiça do que força e armas. O que mantinha a guerra era, sem dúvida, a
ambição e a crueldade de determinados colonos que almejavam a todo
preço as terras que pertenciam aos nativos... Mesmo que, para isso,
fosse preciso exterminar os verdadeiros donos das terras! Mas os
portugueses e seus descendentes necessitavam da proteção dos soldados
para atingir tais objetivos... Acontece que, por falta de recursos, os
soldados não estavam sendo pagos. Passando fome, desertavam. E mais,
como disse Cascudo, as tropas "estavam obstruídas pela displicência,
indiferença, descaso, ignorância, os pecados dos desinteresse que a
distância multiplica".
A
guerra, portanto, continuava variando de intensidade. E continuaria
sempre, caso não fosse enviado para o Rio Grande do Norte um líder que
desejasse acabar com o conflito, lutando contra os interesses dos
oportunistas e dos aventureiros, devendo se impor pela energia e,
sobretudo, por seu espírito de justiça!
Fim do Conflito e Paz com os Nativos
Em
1695, Bernardo Vieira de Melo assumiu o governo da capitania. Veio com
objetivo de pacificar os nativos. Todo o seu trabalho foi desenvolvido
nesse sentido. Fundou o Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, em 24 de
abril de 1696. Permaneceu dois meses na região, tomando todas as medidas
que fossem necessárias para manter a paz entre os colonos e os nativos.
Enfrentou mil e uma dificuldade. Que deveriam ser mantidos pela
população local. Sobre a sua atuação, disse Tarcísio Medeiros: "Bernardo
Vieira de Melo, com atitudes firmes e demonstrações de suas forças,
somente usou desses recursos para fazer-se respeitar e, ao mesmo, atrair
e agradar os silvícolas, criando, desta forma, um clima de confiança
que permitiu o diálogo entre as partes e o ajuste de condições capazes
de satisfazer a todos".
Diante
de sua atuação, o Senado da Câmara de Natal pediu a prorrogação do
mandato de Bernardo Vieira de Melo. A solicitação foi aceita. O
capitão-mor, contudo, além de enfrentar uma série de vicissitudes,
sofreu alguns aborrecimentos com a rebeldia e os desmandos de Moraes
Navarro que, finalmente, foi forçado a entregar os nativos que estavam
presos, sob pena de ser excomungado pelo bispo D. Frei Francisco de
Lima. Navarro teve que se retirar da região, vencendo a causa o
capitão-mor do Rio Grande.
Bernardo
Vieira de Melo conseguiu mais duas conquistas: que fosse dada "a cada
Missão uma légua de terra em quadrado, medida e demarcada", e que a
Capitania do Rio Grande passasse da jurisdição da Bahia para Pernambuco,
fato que ocorreu em 11 de janeiro de 1701.
E foi graças ao seu esforço, energia e persistência que Vieira de Melo conseguiu pacificar os nativos.
Feitos e Sonhos de Vieira de Melo
Nasceu
em Muriboca (hoje Jaboatão), no Estado de Pernambuco, sendo filho de
Bernardo Vieira de Melo. Em primeira núpcias, casou-se com D. Maria de
Barros, com a qual não teve filhos. Casou-se, pela segunda vez, com D.
Catarina Leitão, tendo quatro filhos.
Antonio
Soares considera Bernardo Vieira de Melo um homem "enérgico,
justiceiro, operoso, patriota". Como Bernardo Vieira de Melo se envolveu
em acontecimentos trágicos, contrariando interesses e, ainda, defendeu
idéias perigosas, como a proclamação de uma república para o Brasil, foi
duramente criticado, sendo preso e morrendo na prisão.
O que não se pode negar é que foi um grande soldado.
Exerceu
as seguintes funções, antes de governar a Capitania do Rio Grande:
Capitão do Rio Grande: Capitão de Infantaria das Ordenanças, Capitão de
Cavalos e Tenente-Coronel. Distinguiu-se na luta contra o Quilombo de
Palmares.
Foi
também um bom administrador. Ocupou os cargos de capitão-mor do Rio
Grande, quando pacificou a região que vivia num clima de permanente
hostilidade entre os nativos e os colonos portugueses. Homem
inteligente, compreendeu logo que os silvícolas se rebelavam porque eram
provocados pelos brancos. E adotou como lema, conforme relata Tarcísio
Medeiros, "não combater o nativo de forma desumana". Coerente com esse
princípio, não promoveu nenhuma guerra contra o gentio. Evitou, com
energia, que os nativos fossem provocados, porque a ameaça era realmente
a ambição dos portugueses que desejavam as terras dos selvagens...
Agiu, portanto, sem derramar sangue.
A luta era, porém, árdua e difícil. Cansado, pediu substituto no dia 5 de junho de 1700.
Bernardo
Vieira de Melo foi um homem de princípios rígidos, que não permitia o
menor deslize. Ao saber que seu filho, segundo informações maldosas,
estava sendo traído pela esposa, agiu rápido e precipitadamente. Mandou
matar o possível amante de D. Ana Tereza, capitão-mor e morgado de cabo,
João Paes Barreto. Pouco depois, D. Ana Tereza foi assassinada...
Vieira
de Melo também ousou sonhar com uma república independente de Portugal,
como esclarece Tarcísio Medeiros: "Líder da corrente emancipacionista
que no Senado da Câmara de Olinda propões a instituição de uma república
à moda de Veneza, livre da tutela portuguesa". Possuindo tais idéias,
foi acusado, justamente com seu filho André, do crime de inconfidente e
de lesa-majestade. Não suportando a perseguição, os dois, pai e filho,
se apresentaram às autoridades. Foram levados para Lisboa, ficando na
prisão de Limoeiro, onde vieram a falecer. O fim trágico desses dois
homens foi narrado, por Tarcísio Medeiros, da seguinte maneira:
"Bernardo, numa noite muito fria, acendera no quarto um fogareiro de
carvão e pela manhã foi encontrado morto, sufocado pelas emanações de
gás carbônico. Quanto ao filho André, morria logo depois de um ataque
cardíaco, quando se entretinha a jogar com outros presos".
Administração e Economia
O Poder Executivo na Fase Colonial
O
poder Executivo era exercido pelo capitão-mor (de 1598 até 1821), com
exceção de período sob a dominação holandesa. Como disse Tarcísio
Medeiros, "a sua ação exercia-se mais imediatamente na manutenção da
ordem pública, na inspeção das tropas e fortalezas, na proteção devida
às autoridades outras da capitania, às quais podiam representar, ficando
todos os seus atos sujeitos à devassa, quando deixassem o governo".
Era
nomeado através de um documento chamado Carta-Patente, menos o
primeiro, João Rodrigues Colaço, designado inicialmente pelo governador
geral do Brasil e confirmado no cargo posteriormente por um Alvará
Régio.
O
cargo recebeu várias denominações "Capitão-Mor do Rio Grande (até
1739), "Capitão-Mor co Rio Grande do Norte", para diferenciar de outra
capitania, na região meridional do Brasil, Rio Grande do Sul, cuja
colonização foi consolidada pelo Tratado de Madri. Em 1797, mais um nome
"Governador e Capitão-Mor do Rio Grande do Norte" e, finalmente, de
1811 até o último, em 1816, nova mudança para Governador do Rio Grande
do Norte.
Além do Executivo, havia o Provedor da Fazenda que recebia os impostos.
A
administração municipal estava entregue ao Senado da Câmara,
funcionando no consistório da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.
Presidida por um juiz ordinário. Durante o império, foi transformado em
Câmara Municipal (25/03/1824).
Até 1770, seis de seus membros substituíam o capitão-mor, por sua morte ou qualquer outro impedimento.
A
partir daquela data, o capitão-mor passou a ser substituído por uma
junta, formada pelos seguintes membros; vereador mais velho, comandante
da fortaleza e o juiz ouvidor.
A
capitania tinha apenas um município: Natal. Depois, surgiram São José
do Mipibu, Arês, Vila Flor, Vila do Príncipe, Vila Nova e Vila do
Regente.
Estrutura do Poder Judiciário
A autoridade máxima da comarca era o ouvidor. Primeiro, nomeado pelos donatários das capitanias, e depois, pelo próprio rei.
Ivoncísio
Meira de Medeiros, entretanto, esclarece o seguinte: nunca tivemos,
nessa fase, um Ouvidor ou um Juiz de fora. Quando se pensou na nomeação
de um Juiz de fora para esta capitania, o Senado da Câmara fez ver ao
Conselho Ultramarino, em Lisboa, a inconveniência dessa Nomeação". (...)
"Uma
organização judiciária autônoma somente conquistamos em 18 de março de
1818, quando, por força de alvará de D. João VI, passamos a constituir
uma comarca, com sede em Natal e independente da Paraíba".
Além
dessas duas autoridades citadas, havia outras, que eram as seguintes:
juiz ordinário, almotacé (ou almotacel, inspetor encarregado da
aplicação exata dos pesos e medidas e da taxação dos gêneros
alimentícios), juiz da vintena e, ainda, alcaides, escrivãs dos
almotacés etc.
O Pelourinho e Seus Significados
Falando
sobre o Pelourinho, disse Câmara Cascudo: "Símbolo de sua autonomia e
jurisdição municipal, atesta a presença da justiça permanente e os
direitos da população governar-se por intermédio de seus eleitos".
E
mais adiante acrescenta o seguinte "O Pelourinho é a imagem originária
da Independência Municipalista, a liberdade administrativa dos
conselhos, a soberania democrática expressa na letra dos forais".
Pelourinho é lembrado, por alguns, como o lugar onde os criminosos eram
punidos publicamente, sobretudo, os escravos. Era, dessa maneira, a
deformação do significado do Pelourinho. Câmara Cascudo explica o porquê
dessa mudança: "Depois é que com a predominância dos reis, usurpando
pela força as liberdades do município, o Pelourinho, encimado pela coroa
Real, dizia ser uma testemunha da onipotência arbitrária do monarca".
O
Pelourinho da cidade ficava na atual praça André de Albuquerque, em
frente ao Senado da Câmara e cadeia, informa Câmara Cascudo.
Não
se sabe a data no qual o Pelourinho foi erigido. Em 1695 já se colocava
editais ou bandos no Pelourinho, costume que se tornou tradição até,
possivelmente, em 1806.
Nas
comemorações da Independência do Brasil, o Pelourinho foi derrubado
porque, na opinião dos manifestantes, certamente representava o símbolo
da opressão imperial.
Atualmente,
depois de mudar de lugar algumas vezes, o Pelourinho se encontra na
sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Ciclos Econômicos e Períodos de Seca
O
primeiro ciclo econômico do Rio Grande do Norte, foi, como ocorreu com o
Brasil de forma geral, o do "pau-brasil". Além dos portugueses, outros
europeus se beneficiaram da extração dessa madeira cobiçada.
Principalmente os franceses, que entraram em contato com os nativos e,
contando com a amizade dos potiguares, exploraram e contrabandearam o
pau-brasil para a Europa.
Expulso
o francês, o desenvolvimento se arrastava de maneira muito lenta.
Predominou, no início da colonização portuguesa, o interesse militar: a
defesa da região e a expansão rumo ao Norte.
Em
1615, havia apenas o engenho de Cunhaú funcionando. A capitania
apresentava uma situação melhor em 1630: "iniciava-se a produção
açucareira e o ciclo do gado progredia:, ressaltou Câmara Cascudo.
Começava o povoamento do sertão, seguindo-se a expansão da criação de
gado rumo aos vales do Açu e Apodi e, igualmente, à região do Seridó,
Istvam Lázio A'rbocz analisa esse processo: "o ciclo do gado promoveu o
desenvolvimento e o povoamento, embora de maneira muito esparsa, de toda
a Capitania do Rio Grande do Norte - condicionada pela própria
atividade econômica básica (...) A atividade agrícola desenvolvia-se
mediocremente à sombra dos "currais", voltada para o abastecimento das
populações locais".
O
ciclo do gado criou uma maneira de viver própria, ou seja, uma cultura
especial caracteriza pelo "individualismo do seu participante", segundo
Câmara Cascudo. Continua o mesmo autor: "Dá-lhe a noção imediata de
independência, de improvisação, de autonomia, de livre arbítrio, de
arrojo pessoal".
No
século XVIII, a economia se baseava, principalmente, em duas fontes: a
agricultura e a indústria pastoril. A cultura da mandioca chegou a
produzir cerca de 56.400 alqueires de farinha. Por outro lado, a
indústria pastoril cresceu bastante. Como lembra Tarcísio, "além de
fornecer gado às feiras da Paraiba e Pernambuco, os criadores de Mossoró
ou Açu nas oficinas" exploravam a indústria de carne seca.
Garibaldi
Dantas, em um estudo realizado no início do século XX, trata da
dependência da agricultura da "boa ou má distribuição do regime
pluviométrico". Essa afirmação é perfeitamente válida para os séculos
anteriores. Dois fatores, portanto, influenciavam a produção agrícola: a
seca e os açudes. O primeiro fator, a seca, foi definido por Garibaldi
Dantas da seguinte maneira: "As secas são fenômenos climatológicos
caracterizados pela deficiência, a irregularidade ou má distribuição das
precipitações pluviáticas".
A
seca, ao contrário do que possa imaginar, "vêm de datas antiquíssimas
na nossa cronologia histórica". A primeira que se tem notícia data de
1600, em pleno século XVII. A seca atinge, e muito, a pecuária,
desorganização a criação de gado.
No
século XVII foram registradas cerca de quatro secas (1600, 1614, 1691,
1692) e no período seguinte o fenômeno se repetiu em número bem maior,
num total de vinte e uma: 1710, 1711, 1723, 1724, 1726, 1727 etc.
Segundo
D. José Adelino Dantas, "foi nesse século que se verificou a mais longa
e mais calamitosa de todas as secas do Nordeste, abrangendo cinco anos
consecutivos, de 1723 a 1727, inclusive".
O
gado bovino apresenta semelhança com a raça "Garaneza", provavelmente
introduzida no Estado pelos franceses, e "Cacacú, possivelmente vinda do
Ceará. O fato é que o gado se apresentava com uma grande fecundidade.
Como comprova Garibaldi Dantas: "cinco anos após uma seca, o criador vê
recompor-se rebanhos por ela destruídos".
Conjuntura da Época Gera Várias Rebeliões
A
existência do "pacto colonial, que desde o descobrimento regulamentava
as relações "colônia-metrópole, vai ser responsável por uma série de
rebeliões no período compreendido entre 1680 e 1817. Estão incluídas as
Revoluções de Beckmam (Maranhão/1684), Guerra dos Emboabas (região da
descoberta do ouro/1709), Guerra dos Mascate (Permanbuco/1710), Revolta
de Felipe dos Santos (Vila Rica/1720), Conjuração Mineira (Vila Rica
1789), Conjuração Baiana (Bahia/1798) e finalmente Revolução
Pernambucana (Nordeste/1817).
Esses
movimentos representaram no seu conjunto, apesar das particularidades
locais de cada um deles, uma resposta à metrópole que, através do rígido
sistema da exclusividade comercial, sufocava economicamente a colônia.
Para
o Nordeste brasileiro, o mais significativo desses movimentos foi a
rebelião de 1817 que, tendo se iniciado em Pernambuco, estendeu-se por
quase toda região.
O Movimento em Pernambuco
Como
as demais rebeliões da época, a de 1817 teve entre suas causas
principais a rivalidade entre portugueses e brasileiros. Afirma-se que
os brasileiros nunca alcançavam postos elevados nas milícias, que eram
sempre comandadas por portugueses. Mas nesse contexto, o quadro
econômico não pode ser esquecido. Secas constantes, queda no mercado
internacional do preço do açúcar e do algodão levaram a uma recessão
econômica de grande significado. Os abusivos impostos, cobrados pela
metrópole para manter a corte portuguesa que ainda se encontrava no
Brasil, completou o panorama do qual a revolução deflagraria.
Informado
de que se tramava no Recife um movimento de caráter nativista, e também
sobre o nome dos envolvidos na conspiração, o então governador,
capitão-general Caetano Pinto de Miranda Montenegro, ordenou a prisão de
todos os comprometidos. A prisão dos civis foi efetuada quase sem
reação. Porém, ao receber a ordem de prisão, o capitão José Barros Lima.
"O Leão Coroado", reagiu ferindo mortalmente o enviado ao governo que
tentava detê-lo.
Iniciou-se,
assim, o movimento que tratou de organizar um governo provisório, no
qual havia representantes de quase todos os segmentos da sociedade.
Faziam parte do grupo; Domingos José Martins, o representante do
comércio; José Luís Mendonça, pela magistratura; Domingos Teotônio
Jorge, escolhido o comandante em armas pelos militares; o padre João
Ribeiro, pelo clero; Manuel Correia de Araújo, pelos agricultores, e
como secretário do interior foi nomeado o padre Miguelinho. Para
conselheiros foram escolhidos o ouvidor (autoridade judiciária) Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada; o dicionarista Antonio de Morais Silva, e o
comerciante Gervásio Pires Ferreira. Para autoridades eclesiástica, o
deão Luís Ferreira.
Uma
nova "Lei orgânica" foi adotada pelo governo, que vigoraria até a
elaboração de uma Carta Constitucional. Dentre outras providências, a
nova lei determinava:
forma republicana de governo;
liberdade de imprensa e religião;
manutenção do direito de propriedade e da escravidão.
A
reação foi organizada por D. Marcos de Noronha e Brito, que contou com o
apoio de comerciantes portugueses do Recife e de alguns rebeldes mais
moderados que temiam o caráter socialista do movimento. Recife foi
bloqueada e, em maio de 1817, já estavam presos os revoltados, depois de
violenta repressão.
O
fim do movimento não apagou definitivamente a chama revolucionária no
Nordeste. Ela voltaria a aparecer em 1824, na "Confederação do Equador".
Adesão de André de Albuquerque Maranhão
A
Capitania do Rio Grande do Norte, à época da revolução, era governada
por José Inácio Borges que, ao ser informado do movimento pernambucano,
preparou-se para resistir. Tratou de entrar em contato com o comandante
de Divisão do Sul, André de Albuquerque Maranhão, que se encontrava em
Goianinha. Chegaram a conferenciar por cerca de duas horas sobre a
segurança da capitania frente aos acontecimentos de Pernambuco. No
retorno a Natal, o governador pernoitou no Engenho Belém, próximo à
atual cidade de Nísia Floresta. Ao amanhecer, José Inácio Borges viu que
o engenho estava cercado pelas tropas sob o comando do próprio André de
Albuquerque, que aderira ao movimento. Preso, o agora ex-governador
José Inácio Borges foi enviado a Recife.
André
de Albuquerque Maranhão entra solenemente em Natal com sua tropa no dia
28 de março, dando início ao governo revolucionário, cuja sede seria o
Edifício das Provedorias da Fazenda ou Real Erário, onde atualmente
funciona o memorial Câmara Cascudo.
Da
junta governamental faziam parte Antônio Germano Cavalcanti de
Albuquerque , capitão de infantaria; coronel de milícias Antonio da
Rocha Bezerra e o padre Feliciano José Dornelas, vigário de freguesia.
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