Professor Janildo Arantes - desde 16 de agosto de 2009: * História do Rio Grande do Norte (Parte 5 de 5): CRISE DE 1964 E POSTERIOR PAZ Marcos Empreendedores Preocupações Sociais, Jornalismo e Política ... Textos escritos antes da reforma ortográfica de 2009
História do Rio Grande do Norte (Parte 5 de 5)
Marcos Empreendedores
Preocupações Sociais, Jornalismo e Política
Depois de
criar o Instituto Padre João Maria e organizar o Abrigo Juvino Barreto,
em 1943, Aluízio Alves partiu para uma iniciativa maior: criou a Escola
de Serviço Social.
Durante a
Segunda Guerra Mundial, o jornalista realizou o grande feito de
entrevistar, com ajuda de um intérprete, Eleanor Roosevelt, que veio a
Natal em campanha para eleger seu marido, Delano Roosevelt, presidente
dos Estados Unidos.
Nesse
período, Aluízio Alves tinha dois programas radiofônicos. Aos domingos,
levava ao ar "Glórias do Brasil", com o objetivo de mobilizar a opinião
pública a favor dos aliados. O outro, chamado 'Ave Maria', era diário e
começava às 6 horas.
O Serviço de
Proteção ao Menor se estendeu ao interior e, com a ajuda dos bispos de
Caicó e de Mossoró, chegou a reunir mais de 10.000 menores, em regime de
semi-internato.
No governo do interventor general Dantas, Aluízio Alves foi o diretor do SERAS, instituição por ele organizada.
Aos 23 anos,
Aluízio foi eleito deputado federal, sendo o mais moço da Assembléia
Nacional Constituinte, em 1946, causando sensação no Rio de Janeiro, por
ser apenas não o mais jovem, mas também o único deputado que era
estudante. O artigo da Constituição de 1946 sobre assistência aos
menores e à maternidade é de sua autoria.
Reeleito
deputado federal nos anos de 1950, 1954 e 1958, foi o responsável pela
criação do programa de Crédito de Emergência, para o período de seca no
Nordeste. E no ano de 1960 foi eleito governador, por maioria absoluta.
Deixando o
governo, continuou fazendo política, conseguindo expressivos resultados.
Elegeu o seu sucessor, monsenhor Walfredo Gurgel, com 54%
dos votos, e seu irmão, Agnelo Alves, chegava à prefeitura de Natal, com 61% dos votos.
Com o golpe
militar de 1964, os partidos (PSD, UDN, etc) foram extintos. Em seu
lugar foram criados dois novos partidos: ARENA e PMDB.
Aluízio Alves voltou à Câmara Federal em 1966, quando obteve 60.000 votos.
Em 1969, a
grande frustração: foi cassado pelo Ato Institucional nº 5. Afastado
oficialmente da vida política, reagiu, fazendo com que seus aliados mais
fiéis se transferissem para o MDB.
Em 1970,
Odilon Ribeiro Coutinho perdeu a eleição para o Senado. O vitorioso foi
Dinarte Mariz. Henrique Alves, filho de Aluízio, foi eleito deputado
federal, com grande votação.
Um marco na
vida de Aluízio Alves, em sua profissão de jornalista, foi quando
fundou, juntamente com Carlos Lacerda, o jornal "Tribuna da Imprensa",
no Rio de Janeiro. Lacerda assumiu a direção e Aluízio, o cargo de
redator-chefe. Quando Carlos Lacerda partiu para o exílio, depois da
eleição de Juscelino Kubistchek, Aluízio assumiu a direção geral do
órgão de imprensa.
Outra
importante iniciativa nessa área é a fundação, no dia 24 de março de
1950, em Natal, da "Tribuna do Norte", empresa em que seu fundador
exerceu a direção. Posteriormente, adquiriu a Rádio Cabugi. Surgia,
assim, o Sistema Cabugi de Comunicações que, na atualidade, é formado
pela Tribuna do Norte, TV Cabugi, Rádio Cabugi AM, Rádio Difusa de
Mossoró, Rádio Cabugi do Seridó e líder FM, de Parnamirim.
Cassado de
seus direitos políticos, Aluízio Alves investiu em sua carreira de
empresário, fundando, no Rio de Janeiro, a Editora Nosso Tempo. É assim
que ele resume a sua atuação como empreendedor: "diretor industrial de
um grupo empresarial, construindo no Rio Grande do Norte a primeira
indústria de cartonagem: uma grande indústria de confecções, a Sparta; a
primeira e até agora única fábrica de tecidos, a Seridó, depois,
Coteminas; o Hotel Ducal Palace, na época, entre os três melhores do
Nordeste. No Sul, era presidente de indústrias e de duas grandes
empresas comerciais do mesmo grupo, com mais de 100 lojas em São Paulo,
Rio e Minas".
Como
escritor, Aluízio Alves publicou alguns livros, entre eles "Angicos" (em
1997 foi lançada a 2ª edição, pela Fundação José Augusto), "A Primeira
Campanha Popular do Rio Grande do Norte", "Sem ódio e sem medo". A
verdade que não é secreta etc.
No dia 16 de
agosto de 1992, Aluízio Alves tomou posse na Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras, em solenidade realizada após 17 anos de
eleição no Salão dos Grandes Atos, da Fundação José Augusto. Foi saudado
pelo acadêmico Mário Moacyr Porto, que encerrou o seu discurso com as
seguintes palavras: "Ingressai nesta casa de homens de letras, senho
acadêmico Aluízio Alves, pela porta larga do talento. Não se aplica à V.
Excia, o apelido de imortal por adulação estatutária, mas de quem
alcançará, pelos seus feitos, um lugar destacado na admiração dos
pós-terros. Sede bem-vindo".
Aluízio, num
longo discurso, lembrou importantes fases de sua vida na suas diversas
facetas: jornalista, político e escritor. E suas grandes amizades, como,
por exemplo, a de Hélio Galvão. Confessou que "jamais foi minha ambição
pessoal chegar à Academia".
Concluido,
disse: "E por isso, diante de todos, posso repetir, quando 72 anos
tentam inutilmente reduzir-me o ânimo, e apagar, na noite das
vicissitudes, a chama da esperança, uma palavra que, numa hora difícil
se tornou meu apelo e meu caminho: "a luta continua".
Aluízio
Alves foi também ministro de Estado por duas vezes: ministro de
Administração do governo de José Sarney e, por sete meses, ocupou como
titular o Ministério da Integração Regional, no governo Itamar Franco,
quando elaborou o Projeto de Transposição das águas do São Francisco,
beneficiando os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e da Paraíba.
O Golpe de 1964
Deposição de João Goulart
No final de
1963 já se delineava uma crise no Brasil. O governo João Goulart
reforçava sua linha de governo de caráter nacionalista e reformista,
fazendo com que as forças conservadoras se aglutinassem para derrubá-lo.
San Tiago Dantas procurou unificar os grupos esquerdistas numa frente
única, sem sucesso. A cada dia que passava, o radicalismo aumentava.
Um decreto
que obteve grande repercussão foi o que autorizava a SUPRA
(Superintendência da Reforma Agrária) "para concluir convênio destinado a
delimitar as áreas marginais às estradas e açudes, com fins de
expropriação, para distribuições de terras".
O tempo
passava e esquerdistas e direitistas se acusavam, mutuamente, dizendo
abertamente que estavam se preparando para um conflito armado.
Em janeiro
de 1964, o deputado federal Leonel Brizola denunciava: "não existe
ninguém no poder do País, neste momento". Era uma verdade. O presidente
João Goulart tinha perdido o comando, não podendo evitar o rumo dos
acontecimentos.
Resolveu,
então, partir para a extrema esquerda, precipitando os acontecimentos. A
situação se agravou quando da realização de um comício, promovido pelo
governo, que se realizou no dia 13 de março de 1964, na praça Cristiano
Otôni, na Guanabara. Como a praça se localizava na fronteira da Estação
D. Pedro II, da Central do Brasil, ficou conhecido como sendo o "Comício
da Central".
O governo
pretendia demonstrar força, fazendo com que seus ministros
comparecessem. Alguns governadores se fizeram presentes: Miguel Arraes,
de Pernambuco; Seixas Dória, de Sergipe; Badger Silveira, do Rio de
Janeiro. O presidente da República, na ocasião, assinou dois decretos.
Um encampava as refinarias de petróleo particulares e o outro tratava da
desapropriação de terras.
O conflito
caminhava para o desenlace. Os distúrbios, nas ruas, começavam a surgir.
A disciplina na Marinha foi quebrada. A crise também atingia as forças
armadas.
Em São Paulo
foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", que
contava com um grande número de senhoras da sociedade, autoridades civis
e o apoio do clero.
Marinheiros e fuzileiros se rebelaram e o destacamento destinado a prendê-los aderiu ao movimento.
A essa
altura dos acontecimentos, ninguém mais podia evitar. A crise haveria de
terminar num conflito armado. Não poderia vir da esquerda, que estava
com o governo. A reação deveria partir da extrema direita, que pretendia
acabar com o "comunismo no Brasil". E comunista, para as classes
conservadoras, era qualquer pessoa que se apresentasse como sendo de
esquerda; defendesse o nacionalismo, combatendo o "entreguismo" contra,
portanto o capitalismo internacional... Por causa desses equívocos,
muita injustiça foi cometida!
No dia 31 de março de 1964 eclodiu o movimento militar para derrubar o governo João Goulart.
Sem
condições de resistir ao golpe planejado pelos altos chefes militares,
com o apoio de parcelas da sociedade, em 1º de abril de 1964, o
presidente João Goulart partiu de Brasília para o Rio Grande do Sul e,
logo em seguida, viajou para o Uruguai como exilado político. Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara Federal, foi provisoriamente empossado
presidente da República.
O movimento
militar de 64 se consolidou com a promulgação do Ato Institucional e a
posse do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como presidente.
Confroto e Rede de Investigação no RN
A radicalização entre esquerda e direita atingiu também o Rio Grande do Norte.
A causa
esquerdista, no Estado era defendida por Djalma Maranhão e seus
correligionários e, ainda, por grande parte dos estudantes e de
operários. Essas forças defendiam os ideais do nacionalismo e lutavam
contra a direita.
Quando a
crise ideológico-militar explodiu no Sul, o prefeito Djalma Maranhão, de
imediato, ficou solidário com João Goulart. Foi mais além, transformou o
prédio da prefeitura como sendo "o quartel-general da legalidade e da
resistência".
O governador
Aluízio Alves divulgou uma nota, onde dizia que o governo "pede ao povo
que se conserve calmo, evitando atos ou manifestações que aprofundem as
divisões desta hora em que todos os esforços devem ser feitos para a
restauração da paz e preservação da democracia".
Começou,
então, a fase de investigações com a Comissão Geral de Investigações
instalada pelos militares e mais duas comissões criadas pelo Ato
Institucional nº 2.
No dia 1º de
abril, Djalma Maranhão publicou uma nota oficial, do governo municipal
do Natal, concluindo com as seguintes palavras: "a legalidade é Jango!".
No dia 2 de
abril foram presos, o prefeito Djalma Maranhão e o seu vice. Luís
Gonzaga dos Santos. Foram levados para o QG da Guarnição Militar de
Natal. Depois, foi comunicado aos vereadores que os dois, sendo
comunistas, não poderiam exercer os seus mandatos. Como a comunicação
foi verbal, a Mesa da Câmara solicitou ao comando militar que fosse
enviado um ofício, para dar um caráter administrativo à questão. A
Câmara Municipal ficou reunida, esperando a comunicação oficial, que
chegou por volta das 22 horas. Os vereadores declararam o "impeachemet"
de Djalma Maranhão e de Luís Gonzaga dos Santos. O vereador Raimundo
Elpídio assumiu, em caráter interino, a função de prefeito. Mais tarde,
os vereadores elegeram, em definitivo, o almirante Tertius César Pires
de Lima Rebelo como prefeito e Raimundo Elpídio, vice-prefeito.
Os
vitoriosos consolidaram o movimento no Rio Grande do Norte, porém,
deixando profundas marcas no seio da família potiguar, como demonstra o
desabafo da escritora Mailde Pinto Galvão: "Por uma suspeita
absolutamente infundada e sem sentido, invadiam as residências, prendiam
pessoas e expunham as famílias ao vexame das investigações na vida
pessoal e profissional. Perdia-se a privacidade, o direito de defesa e a
estabilidade nos empregos".
Para José
Wellington Germano, "na verdade, não foi esboçada nenhuma tentativa
concreta de resistência. As forças principais trataram logo de ocupar,
na manhã do dia 1º de abril, os principais pontos da cidade, cercado
alguns sindicatos, e na noite do mesmo dia, intervindo e dissolvendo uma
assembléia de estudantes que se realizava no restaurante universitário
da Av. Deodoro; também foi desfeito o QG da legalidade pelas próprias
forças militares que penetraram no edifício da prefeitura".
O mesmo
autor ainda informa que os sindicatos marítimos de Areia Branca e Macau
entraram em greve, a Federação dos Trabalhadores Rurais colocou à
disposição do presidente da República cerca de cinqüenta mil camponeses e
a União Estadual de Estudantes lançou um manifesto.
O prefeito
Raimundo Elpídio da Silva, no dia 3 de abril de 1964, exonerou o
professor Moacyr de Góes da função de secretário de Educação. A função
foi assumida, posteriormente, pelo capitão-de-corveta Tomaz Edson
Goulart do Amarante.
No dia 7 de abril, foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", para comemorar a vitória do golpe militar.
O novo
governo municipal demitiu vários funcionários, considerados perigosos:
"Omar Pimenta, da diretoria do Ensino Municipal; Mailde Pinto, da
diretoria de Documentação e Cultura; a professora Maria da Conceição
Pinto de Góes e, ainda, o professor Geniberto Campos, respectivamente
dos cargos de diretor e vice-diretor do Ginásio Municipal", narrou José
Wellington Germano.
Uma grande
preocupação dos novos detentores do poder foi a de eliminar livros que,
para eles, continham ensinamentos de uma ideologia marxista. Para
realizar tal missão, invadiram bibliotecas, destruindo muitos volumes.
E como
sempre acontece nesses casos, alguns militares, por excesso de zero ou
por ignorância, cometeram arbitrariedade. Exemplo: quando invadiram a
casa do professor Moacyr de Góes, colocaram uma metralhadora na cabeça
da mãe do ex-secretário de Educação, já bastante idosa e que merecia,
portanto, maior respeito".
Vários
inquéritos militares foram instaurados, dos quais resultaram diversas
prisões: Hélio Xavier de Vasconcelos, Omar Fernandes Pimenta, Moacyr de
Góes, Vulpiano Cavalcanti de Araújo, Eider Toscano de Moura, Danilo
Bessa, Marcos José de Castro Guerra, Carlos Alberto de Lima, Luiz
Ignácio Maranhão Filho, etc.
Nas prisões,
houve uma série de torturas. Como disse Moacyr de Góes, "é fácil
implantar o terror numa cela. Fácil e covarde. Basta que os carcereiros
empreguem a força bruta no espancamento dos prisioneiros em sucessivos
interrogatórios. Ou então que aos mesmos carcereiros seja permitido
criar condições tais de insegurança para os prisioneiros que estes
sintam o real risco de não sair do cárcere com vida".
O Jogo Claro de Djalma Maranhão
Djalma
Maranhão nasceu em Natal, no dia 27 de novembro de 1915. Filho de Luís
Inácio de Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão,
teve os seguintes filhos: Lamarck (falecido), Marcos e Ana Maria.
Djalma
Maranhão foi um homem simples, inteligente e que sabia exatamente o que
queria da vida. Não transigia nas suas idéias. Amaca os mais humildes e
lutava para atender às reivindicações das classes menos favorecidas.
Nacionalista, denunciava, gritava, protestava. Expressava sua ideologia
de maneira clara e inequívoca, acreditando na vitória do socialismo,
convicto de que "somente a dialética marxista-leninista libertará as
massas da opressão e da fome através da socialização dos meios de
produção e da entrega da terra aos camponeses".
Como não se
acomodava às intrigas políticas, nem concordava ou se adaptava a
qualquer tipo de corrupção, foi expulso de alguns partidos.
Militante
comunista, quando era cabo do exército participou da Intentona Comunista
de 35, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão que diz: "Andei pelos
presídios políticos e pelos campos de concentração, martirizado pelos
esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas".
Em 1946, foi
expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido
como desonestos. Foi eliminado, quando se encontrava ausente de
plenário, sem que pudesse se defender. A acusação feita por Djalma
Maranhão foi escrita.
Era de fato
um homem temperamental. Às vezes, contudo, sabia se conter. Exemplo:
durante a campanha de 1960 para prefeito de Natal, Djalma Maranhão
entrou irado na sala de redação da "Folha da Tarde" com um exemplar na
mão. Perguntou, então, quem tinha escrito a manchete de seu jornal, que
dizia o seguinte: "Lott - Jango - Walfredo - Maranhão - Gonzaga. Vote do
primeiro do sexto". Ao saber que o autor da manchete foi Moacyr de
Góes, de conteve e disse: "A manchete está certa. É assim mesmo. Não
vamos ficar em cima do muro. Jogo claro. Honrar as alianças".
Mantinha
cordiais relações com a Igreja. Certo dia, uma funcionária criticou as
pessoas que trabalhavam para a Arquidiocese. Djalma Maranhão sorriu e
disse: "Deixe o padre fazer o trabalho dele. E nós faremos o nosso".
Na campanha
"De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" trabalhavam cristãos (católicos e
protestantes), espíritas e marxistas. Por essa razão, o professor
Moacyr de Góes chamou o movimento de uma "frente".
Profundamente
humano. Intransigente contra a falsidade e a desonestidade, admitia o
erro, desde que fosse cometido por alguém que desejasse acertar.
Para ele, governar era realizar. Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo.
Nas eleições
de 31/10/1954, foi eleito deputado estadual pelo Partido Social
Progressista, obtendo ótima votação em Natal. Como legislador, teve um
grande desempenho, sendo inclusive autor do projeto que deu autonomia ao
município de Natal.
Em 1955,
Djalma Maranhão apoiou Dinarte Mariz para governador, na coligação
PSP-UND. Mariz derrotou Jocelyn Vilar, do PSD. Como conseqüência do
acordo dessas eleições, Djalma Maranhão foi designado prefeito da Cidade
do Natal, cuja posse ocorreu no dia 1/2/1956.
De acordo
com Moacyr de Góes, "nessa primeira administração de Djalma Maranhão, a
Prefeitura vai implantar o programa municipal de ensino, através das
escolinhas de alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal".
No ano de
1959, Djalma Maranhão rompeu com Dinarte Mariz. Suplente, assumiu o
cargo de deputado federal, onde se destacou como membro atuante da
Frente Parlamentar Nacionalista.
Em 1960, se
candidatou a prefeito, participando da coligação "Cruzada da Esperança",
juntamente com Aluízio Alves, candidato ao governo do Estado.
Vitorioso,
no dia 5/11/60 Djalma Maranhão assumiu novamente a Prefeitura de Natal,
sendo dessa vez através do voto. Foi, portanto, o primeiro prefeito
natalense eleito diretamente pelo povo, obtendo 66% dos voto.
Em sua
segunda administração, Djalma Maranhão demonstrou toda a sua capacidade
de trabalho e de liderança política. Aos poucos conquistou a confiança e
o respeito da classe média, aumentando seu prestígio junto das classes
populares.
Djalma
Maranhão não foi apenas um político. Atuou, igualmente, como jornalista.
Segundo Leonardo Arruda Câmara, "a imprensa foi a grande vocação.
Revisor, repórter esportivo, repórter político, redator, secretário de
redação, editorialista, diretor e proprietário de jornais, percorreu na
carreira de jornalista todos os postos e funções. Fundou o "Monitor
Comercial", o "Diário de Natal" e a "Folha da Tarde".
"Foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal".
Como
escritor, publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", pelo
Departamento de Imprensa Nacional, edição da Frente Parlamentar
Nacionalista, no Rio de Janeiro, em 1960, e "Cascudo", Mestre do
Folclore Brasileiro", lançado em 1963. Tem também uma obra póstuma:
"Carta de um Exilado".
Com o golpe
militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado, posteriormente,
através de um "habeas corpus", concedido pelo Supremo Tribunal Federal,
conseguiu se asilar na Embaixada do Uruguai, indo morar naquele país,
onde veio a faleceu, no dia 30 de julho de 1971.
No último
livro produzido pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "O povo Brasileiro - A
formação e o sentido do Brasil", publicado em 1997, o escrito refere-se à
morte e ao apego de Djalma Maranhão ao Brasil, sem contudo citar seu
nome. "Pude sentir, no exílio, como é difícil para um brasileiro viver
fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna
extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos. O
prefeito de Natal morreu em Montevidéu de pura tristeza. Nunca quis
aprender espanhol, nem o suficiente para comprar uma caixa de fósforo",
relata Darcy Ribeiro.
Segundo
Leonardo Arruda Câmara, Djalma Maranhão "foi sepultado em Natal no
Cemitério do Alecrim, graças à interferência do senador Dinarte Mariz,
acompanhado de grande multidão no maior enterro já realizado em nossa
capital que atestou o quanto ele era amado e querido por sua gente".
Pausa no Radicalismo
Uma Obra Para o Bem da Coletividade
O processo
político no Rio Grande do Norte sempre se caracterizou pelo radicalismo.
Houve, entretanto, um período de paz e tranqüilidade na terra potiguar,
implantado por um homem inteligente, justo e honesto: monsenhor
Walfredo Gurgel. Ele buscou a paz com tenacidade. Ao traçar as
diretrizes de sua administração, disse: "sou homem que pretende governar
com a simplicidade da minha formação e do meu temperamento. Desejo e
espero o convívio cordial de todos os que me cercam e a todos darei o
exemplo de tolerância e de compreensão".
Deixou bem
claro que não aceitaria apoio em troca de benefícios: "não procurarei
adversários. Não buscarei adesões. Não transacionarei apoio. Mas não
recusarei ajuda nobre e espontânea à administração que estou iniciando
porque não tenho o direito de repelir aqueles que se disponham a
trabalhar pelo Rio Grande do Norte. Não perseguirei adversários. Não
procurarei ferir ninguém. Numa palavra: desejo que haja respeito ao
governo e o governo respeitará a todos, aliados ou adversários".
Cumpriu com a
palavra. Jamais se afastou desses princípios. Outra característica do
seu governo, talvez a maior, foi a austeridade. "Quando aos critérios
administrativos, o meu governo será de austeridade, de contenção de
despesas supérfluas", afirmou.
Fugiu sempre
da ostentação. Por essa razão, não admitiu no seu governo que se
colocasse nas placas, que anunciavam as obras públicas, o nome de
qualquer autoridade. Como disse Bianor Medeiros, "o governo para ele não
era o seu nome, mas a obra que surgia para o bem da coletividade".
A principal
obra do seu governo foi, na realidade, a ponte rodo-ferroviária de
Igapó. Procurou melhorar as rodovias, pensando na circulação das
riquezas do Estado.
Na área da
agricultura, segundo Bianor Medeiros, "construiu parques, armazéns e
atacou o setor através da melhoria dos rebanhos e forragens".
O Hospital
Walfredo Gurgel, foi obra da sua administração. E, ainda, a construção
do prédio da Telern, no centro da cidade. Fundou a Biblioteca Câmara
Cascudo, além de diversas escolas.
Não se pode
esquecer o grande desenvolvimento que te o Banco do Rio Grande do Norte
durante sua administração, inaugurando diversas agências na capital e em
várias cidades do interior (Caicó, Ceará-Mirim, Mossoró, etc).
Mas a grande
contribuição do seu governo foi, sem dívida, a construção de um clima
de paz, evitando qualquer tipo de antagonismo que pudesse gerar ódio,
sendo por essa razão respeitado pela posição. Bianor Medeiros declarou
que Monsenhor Walfredo Gurgel "nunca cometeu ou permitiu uma violência,
nem a mais leve injustiça contra os seus mais rancorosos adversários;
com estes sempre foi de uma exemplar generosidade, quando os via em
situação difícil".
Exemplos do Monsenhor Walfredo Gurgel
Nasceu no
dia 2 de dezembro de 1908, na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte.
Filho de Pedro Gurgel do Amaral e Oliveira e dona Joaquina Dantas
Gurgel.
Perdeu o pai
aos dez anos. Tempos difíceis, e o menino Walfredo, para ajudar a
família, vendia banana. Continuou. Entretanto, seus estudos no Grupo
Escolar Senador Guerra, onde fez o curso primário.
Queria ser
padre, porém, havia uma dificuldade: sua mãe, viúva e pobre, não podia
financiar sua estadia no seminário. D. José Pereira Alves, bispo
diocesano, contornou a situação. E assim, "em 3 de fevereiro de 1922,
ingressava no Seminário de São Pedro o menino caicoense que, após 4
anos, concluía o curso de Seminário Menor".
"Aluno
laureado, ao lado do Santo gênio, padre Monte, foi contemplado com uma
bolsa de estudos para, em Roma, cursar Filosofia e Teologia". Concluindo
esses dois cursos, "doutorou-se, a seguir, em Direito Canônico, pela
universidade Gregoriana, ordenando-se padre no dia 15 de outubro de
1931, na Capela do Pontifício Colégio Pio-Americano".
Voltou ao
Brasil no dia 14 de agosto de 1932. Foi recebido com grandes festas,
inclusive um banquete, ao qual compareceram figuras expressivas da
região. O ágape foi realizado na Intendência de sua cidade.
O novo
sacerdote, inteligente e culto, assumiu o cargo de reitor do Seminário
de São Pedro, além de lecionar algumas disciplinas, como Teologia.
A exemplo de grande número de intelectuais católicos de sua época, ingressou na Ação Integralista Brasileira.
Mais tarde, foi designado vigário de Acari, Freguesia de Nossa Senhora da Guia e, depois, vigário de Caicó.
Homem
dinâmico, participou, ao lado de outros seridoenses, de luta pela
criação da Diocese de Caicó. Essa causa se tornou vitoriosa, com D. José
de Medeiros Delgado nomeado bispo de Caicó. Walfredo Gurgel assumiu a
função de vigário-geral.
Professor e
sacerdote, Walfredo Gurgel se preocupou muito com a educação dos jovens
do Seridó. Batalhou então, pela construção de uma escola, a nível de
primeiro grau, para os meninos. Em 1942, o seu sonho se realizava, com a
inauguração do Ginásio Diocesano. Assumiu a sua direção e o ensino de
algumas disciplinas. Incansável, fazia praticamente tudo, como narra o
seu biógrafo, Bianor Medeiros: "contador, administrador da obra em
andamento e, ainda, sobrava-lhe tempo para treinar os times de futebol,
de vôlei e assistir aos ensaios da banda de música, que organizava e que
tinha, com regente, o querido e estimado mestre Bedé".
Sendo um
líder, era natural que um dia, mais cedo ou mais tarde, ele ingressasse
na vida política. Seguindo o mesmo caminho de um José Augusto de
Medeiros e de um Dinarte de Medeiros Mariz... Convidado por Georgino
Avelino, foi para o Partido Social Democrático, PSD. Dez parte do
Diretório Regional do seu partido. Nessa legenda, conseguiu se eleger
deputado federal na Constituinte, ao lado de Dioclécio Duarte, José
Varela e Mota Neto na sua legenda.
Continuando
sua carreira política, Walfredo Gurgel conseguiu se eleger
vice-governador do Estado, com Aluízio Alves, governador. Presidiu,
nessa função, a Assembléia Legislativa Estadual. Não chegou a concluir o
seu mandato, porque após outra vitória nas urnas, chegou ao Senado da
República, com grande votação.
Sofreu
críticas de alguns de seus adversários, que não compreenderam nem
perdoavam o seu êxito. Foi forçado a ir na tribuna do Senado, algumas
vezes, para defender seus correligionários: "Lamento mais uma vez, ser
compelido a ocupar a tribuna do Senado para tratar de assuntos
regionais, mas às vezes, somos levados a isso - quando há tantos
problemas de ordem nacional que exigem a nossa palavra, que exigem o
nosso esforço e a nossa inteligência (...) A todos estimo, porque, mesmo
sendo adversários políticos, são meu amigos pessoais, meus companheiros
nesta Casa, onde defendemos os interesses do povo e devemos trabalhar,
incessantemente, pela felicidade e grandeza de nossa pátria".
Com essa postura, conseguiu se impor ao respeito de todos.
Definia a
política como algo transitório, que não justificava a intriga e o ódio. O
importante era conservar as amizades, porque elas sim deveriam ser
duradouras. Disse Bianor Medeiros: "A cada resposta que dava, a qualquer
esclarecimento que prestava, a cada aparte que recebia, sempre se
erguia como verdadeiro estadista, diplomata, sereno e seguro".
Este era o perfil do senador Walfredo Gurgel.
Aconteceu,
entretanto, que o povo do Rio Grande do Norte convocou Walfredo Gurgel
para mais uma missão: governar o Estado. O seu vice foi Clóvis Mota.
Nessa nova missão, continuou agindo com a mesma serenidade e honradez.
Após deixar o
governo, realizou uma viagem de 45 dias ao continente europeu,
visitando vários países: Portugal, Alemanha, Espanha, Áustria,
Inglaterra, etc.
No dia 3 de
outubro de 1971, foi constatado que Walfredo Gurgel sofria de câncer no
pulmão, durante um exame que fez no Instituto de Radiologia de Natal.
Logo a seguir, agravou o seu estado de saúde, falecendo no dia 3 de
novembro de 1971, em Natal.
Sobre o
velório e a partida do corpo para Caicó, Bianor Medeiros, seu biógrafo,
narrou os acontecimento da seguinte maneira: "Velado pelo povo o corpo
do Monsenhor Walfredo Gurgel permaneceu na câmara-ardente armada no
saguão do primeiro andar do Palácio do Governo durante toda a noite até
às seis horas da manhã de ontem, quando foi transladado para a Catedral
Metropolitana".
"Em fila
dupla o povo subiu até o saguão do Palácio para ver o monsenhor pela
última vez e rezar pela sua alma, entregue a Deus. A fila muitas vezes
chegava até a Ulisses Caldas, e não rara vezes dava volta pela praça
Sete de Setembro.
"Todos os
ex-secretários do governo do monsenhor estavam presentes. Na praça Sete
de Setembro, o povo permanecia silencioso, triste, enquanto algumas
pessoas rezavam e outras choravam (...) Exatamente às 5h50, o caixão
fechado (...) A pé, acompanhado por uma multidão enorme, o corpo é
trasladado para a Catedral Metropolitana. Nas calçadas do próprio
Palácio e da Praça André de Albuquerque, o povo se comprime (...) A
missa foi celebrada por doze padres, à frente o arcebispo Dom Nivaldo
Monte. Eram exatamente 6h05. Silêncio profundo na igreja, somente
quebrado por soluços de pessoas (muitas) que choravam".
"Após a
missa teve lutar a encomendação do corpo por Dom Nivaldo Monte,
coadjuvado por todos os vigários que concelebravam a missa. Às 7 horas o
corpo é levado pelos auxiliares do monsenhor Walfredo Gurgel até o
carro fúnebre, já a esta altura a multidão era muito maior. O povo
chorava nas calçadas. Todos queriam ainda tocar no caixão. Todos queriam
ver o monsenhor pela última vez".
"Dezenas de
carros foram acompanhando o cortejo, que foi precedido por um carro da
rádio-patrulha que, de sirena aberta, abria passagem para o féretro.
Muitas pessoas foram até Macaíba, de onde voltaram após o último adeus. E
o corpo no monsenhor seguiu para ser sepultado na sua cidade natal:
Caicó".
CRISE DE 1964 E POSTERIOR PAZ
Preocupações Sociais, Jornalismo e Política
Depois de
criar o Instituto Padre João Maria e organizar o Abrigo Juvino Barreto,
em 1943, Aluízio Alves partiu para uma iniciativa maior: criou a Escola
de Serviço Social.
Durante a
Segunda Guerra Mundial, o jornalista realizou o grande feito de
entrevistar, com ajuda de um intérprete, Eleanor Roosevelt, que veio a
Natal em campanha para eleger seu marido, Delano Roosevelt, presidente
dos Estados Unidos.
Nesse
período, Aluízio Alves tinha dois programas radiofônicos. Aos domingos,
levava ao ar "Glórias do Brasil", com o objetivo de mobilizar a opinião
pública a favor dos aliados. O outro, chamado 'Ave Maria', era diário e
começava às 6 horas.
O Serviço de
Proteção ao Menor se estendeu ao interior e, com a ajuda dos bispos de
Caicó e de Mossoró, chegou a reunir mais de 10.000 menores, em regime de
semi-internato.
No governo do interventor general Dantas, Aluízio Alves foi o diretor do SERAS, instituição por ele organizada.
Aos 23 anos,
Aluízio foi eleito deputado federal, sendo o mais moço da Assembléia
Nacional Constituinte, em 1946, causando sensação no Rio de Janeiro, por
ser apenas não o mais jovem, mas também o único deputado que era
estudante. O artigo da Constituição de 1946 sobre assistência aos
menores e à maternidade é de sua autoria.
Reeleito
deputado federal nos anos de 1950, 1954 e 1958, foi o responsável pela
criação do programa de Crédito de Emergência, para o período de seca no
Nordeste. E no ano de 1960 foi eleito governador, por maioria absoluta.
Deixando o
governo, continuou fazendo política, conseguindo expressivos resultados.
Elegeu o seu sucessor, monsenhor Walfredo Gurgel, com 54% dos votos, e
seu irmão, Agnelo Alves, chegava à prefeitura de Natal, com 61% dos
votos.
Com o golpe
militar de 1964, os partidos (PSD, UDN, etc) foram extintos. Em seu
lugar foram criados dois novos partidos: ARENA e PMDB.
Aluízio Alves voltou à Câmara Federal em 1966, quando obteve 60.000 votos.
Em 1969, a
grande frustração: foi cassado pelo Ato Institucional nº 5. Afastado
oficialmente da vida política, reagiu, fazendo com que seus aliados mais
fiéis se transferissem para o MDB.
Em 1970,
Odilon Ribeiro Coutinho perdeu a eleição para o Senado. O vitorioso foi
Dinarte Mariz. Henrique Alves, filho de Aluízio, foi eleito deputado
federal, com grande votação.
Um marco na
vida de Aluízio Alves, em sua profissão de jornalista, foi quando
fundou, juntamente com Carlos Lacerda, o jornal "Tribuna da Imprensa",
no Rio de Janeiro. Lacerda assumiu a direção e Aluízio, o cargo de
redator-chefe. Quando Carlos Lacerda partiu para o exílio, depois da
eleição de Juscelino Kubistchek, Aluízio assumiu a direção geral do
órgão de imprensa.
Outra
importante iniciativa nessa área é a fundação, no dia 24 de março de
1950, em Natal, da "Tribuna do Norte", empresa em que seu fundador
exerceu a direção. Posteriormente, adquiriu a Rádio Cabugi. Surgia,
assim, o Sistema Cabugi de Comunicações que, na atualidade, é formado
pela Tribuna do Norte, TV Cabugi, Rádio Cabugi AM, Rádio Difusa de
Mossoró, Rádio Cabugi do Seridó e líder FM, de Parnamirim.
Cassado de
seus direitos políticos, Aluízio Alves investiu em sua carreira de
empresário, fundando, no Rio de Janeiro, a Editora Nosso Tempo. É assim
que ele resume a sua atuação como empreendedor: "diretor industrial de
um grupo empresarial, construindo no Rio Grande do Norte a primeira
indústria de cartonagem: uma grande indústria de confecções, a Sparta; a
primeira e até agora única fábrica de tecidos, a Seridó, depois,
Coteminas; o Hotel Ducal Palace, na época, entre os três melhores do
Nordeste. No Sul, era presidente de indústrias e de duas grandes
empresas comerciais do mesmo grupo, com mais de 100 lojas em São Paulo,
Rio e Minas".
Como
escritor, Aluízio Alves publicou alguns livros, entre eles "Angicos" (em
1997 foi lançada a 2ª edição, pela Fundação José Augusto), "A Primeira
Campanha Popular do Rio Grande do Norte", "Sem ódio e sem medo". A
verdade que não é secreta etc.
No dia 16 de
agosto de 1992, Aluízio Alves tomou posse na Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras, em solenidade realizada após 17 anos de
eleição no Salão dos Grandes Atos, da Fundação José Augusto. Foi saudado
pelo acadêmico Mário Moacyr Porto, que encerrou o seu discurso com as
seguintes palavras: "Ingressai nesta casa de homens de letras, senho
acadêmico Aluízio Alves, pela porta larga do talento. Não se aplica à V.
Excia, o apelido de imortal por adulação estatutária, mas de quem
alcançará, pelos seus feitos, um lugar destacado na admiração dos
pós-terros. Sede bem-vindo".
Aluízio, num
longo discurso, lembrou importantes fases de sua vida na suas diversas
facetas: jornalista, político e escritor. E suas grandes amizades, como,
por exemplo, a de Hélio Galvão. Confessou que "jamais foi minha ambição
pessoal chegar à Academia".
Concluido,
disse: "E por isso, diante de todos, posso repetir, quando 72 anos
tentam inutilmente reduzir-me o ânimo, e apagar, na noite das
vicissitudes, a chama da esperança, uma palavra que, numa hora difícil
se tornou meu apelo e meu caminho: "a luta continua".
Aluízio
Alves foi também ministro de Estado por duas vezes: ministro de
Administração do governo de José Sarney e, por sete meses, ocupou como
titular o Ministério da Integração Regional, no governo Itamar Franco,
quando elaborou o Projeto de Transposição das águas do São Francisco,
beneficiando os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e da Paraíba.
O Golpe de 1964
Deposição de João Goulart
No final de
1963 já se delineava uma crise no Brasil. O governo João Goulart
reforçava sua linha de governo de caráter nacionalista e reformista,
fazendo com que as forças conservadoras se aglutinassem para derrubá-lo.
San Tiago Dantas procurou unificar os grupos esquerdistas numa frente
única, sem sucesso. A cada dia que passava, o radicalismo aumentava.
Um decreto
que obteve grande repercussão foi o que autorizava a SUPRA
(Superintendência da Reforma Agrária) "para concluir convênio destinado a
delimitar as áreas marginais às estradas e açudes, com fins de
expropriação, para distribuições de terras".
O tempo
passava e esquerdistas e direitistas se acusavam, mutuamente, dizendo
abertamente que estavam se preparando para um conflito armado.
Em janeiro
de 1964, o deputado federal Leonel Brizola denunciava: "não existe
ninguém no poder do País, neste momento". Era uma verdade. O presidente
João Goulart tinha perdido o comando, não podendo evitar o rumo dos
acontecimentos.
Resolveu,
então, partir para a extrema esquerda, precipitando os acontecimentos. A
situação se agravou quando da realização de um comício, promovido pelo
governo, que se realizou no dia 13 de março de 1964, na praça Cristiano
Otôni, na Guanabara. Como a praça se localizava na fronteira da Estação
D. Pedro II, da Central do Brasil, ficou conhecido como sendo o "Comício
da Central".
O governo
pretendia demonstrar força, fazendo com que seus ministros
comparecessem. Alguns governadores se fizeram presentes: Miguel Arraes,
de Pernambuco; Seixas Dória, de Sergipe; Badger Silveira, do Rio de
Janeiro. O presidente da República, na ocasião, assinou dois decretos.
Um encampava as refinarias de petróleo particulares e o outro tratava da
desapropriação de terras.
O conflito
caminhava para o desenlace. Os distúrbios, nas ruas, começavam a surgir.
A disciplina na Marinha foi quebrada. A crise também atingia as forças
armadas.
Em São Paulo
foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", que
contava com um grande número de senhoras da sociedade, autoridades civis
e o apoio do clero.
Marinheiros e fuzileiros se rebelaram e o destacamento destinado a prendê-los aderiu ao movimento.
A essa
altura dos acontecimentos, ninguém mais podia evitar. A crise haveria de
terminar num conflito armado. Não poderia vir da esquerda, que estava
com o governo. A reação deveria partir da extrema direita, que pretendia
acabar com o "comunismo no Brasil". E comunista, para as classes
conservadoras, era qualquer pessoa que se apresentasse como sendo de
esquerda; defendesse o nacionalismo, combatendo o "entreguismo" contra,
portanto o capitalismo internacional... Por causa desses equívocos,
muita injustiça foi cometida!
No dia 31 de março de 1964 eclodiu o movimento militar para derrubar o governo João Goulart.
Sem
condições de resistir ao golpe planejado pelos altos chefes militares,
com o apoio de parcelas da sociedade, em 1º de abril de 1964, o
presidente João Goulart partiu de Brasília para o Rio Grande do Sul e,
logo em seguida, viajou para o Uruguai como exilado político. Ranieri
Mazzilli, presidente da Câmara Federal, foi provisoriamente empossado
presidente da República.
O movimento
militar de 64 se consolidou com a promulgação do Ato Institucional e a
posse do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como presidente.
Confronto e Rede de Investigação no RN
A radicalização entre esquerda e direita atingiu também o Rio Grande do Norte.
A causa
esquerdista, no Estado era defendida por Djalma Maranhão e seus
correligionários e, ainda, por grande parte dos estudantes e de
operários. Essas forças defendiam os ideais do nacionalismo e lutavam
contra a direita.
Quando a
crise ideológico-militar explodiu no Sul, o prefeito Djalma Maranhão, de
imediato, ficou solidário com João Goulart. Foi mais além, transformou o
prédio da prefeitura como sendo "o quartel-general da legalidade e da
resistência".
O governador
Aluízio Alves divulgou uma nota, onde dizia que o governo "pede ao povo
que se conserve calmo, evitando atos ou manifestações que aprofundem as
divisões desta hora em que todos os esforços devem ser feitos para a
restauração da paz e preservação da democracia".
Começou,
então, a fase de investigações com a Comissão Geral de Investigações
instalada pelos militares e mais duas comissões criadas pelo Ato
Institucional nº 2.
No dia 1º de
abril, Djalma Maranhão publicou uma nota oficial, do governo municipal
do Natal, concluindo com as seguintes palavras: "a legalidade é Jango!".
No dia 2 de
abril foram presos, o prefeito Djalma Maranhão e o seu vice. Luís
Gonzaga dos Santos. Foram levados para o QG da Guarnição Militar de
Natal. Depois, foi comunicado aos vereadores que os dois, sendo
comunistas, não poderiam exercer os seus mandatos. Como a comunicação
foi verbal, a Mesa da Câmara solicitou ao comando militar que fosse
enviado um ofício, para dar um caráter administrativo à questão. A
Câmara Municipal ficou reunida, esperando a comunicação oficial, que
chegou por volta das 22 horas. Os vereadores declararam o "impeachemet"
de Djalma Maranhão e de Luís Gonzaga dos Santos. O vereador Raimundo
Elpídio assumiu, em caráter interino, a função de prefeito. Mais tarde,
os vereadores elegeram, em definitivo, o almirante Tertius César Pires
de Lima Rebelo como prefeito e Raimundo Elpídio, vice-prefeito.
Os
vitoriosos consolidaram o movimento no Rio Grande do Norte, porém,
deixando profundas marcas no seio da família potiguar, como demonstra o
desabafo da escritora Mailde Pinto Galvão: "Por uma suspeita
absolutamente infundada e sem sentido, invadiam as residências, prendiam
pessoas e expunham as famílias ao vexame das investigações na vida
pessoal e profissional. Perdia-se a privacidade, o direito de defesa e a
estabilidade nos empregos".
Para José
Wellington Germano, "na verdade, não foi esboçada nenhuma tentativa
concreta de resistência. As forças principais trataram logo de ocupar,
na manhã do dia 1º de abril, os principais pontos da cidade, cercado
alguns sindicatos, e na noite do mesmo dia, intervindo e dissolvendo uma
assembléia de estudantes que se realizava no restaurante universitário
da Av. Deodoro; também foi desfeito o QG da legalidade pelas próprias
forças militares que penetraram no edifício da prefeitura".
O mesmo
autor ainda informa que os sindicatos marítimos de Areia Branca e Macau
entraram em greve, a Federação dos Trabalhadores Rurais colocou à
disposição do presidente da República cerca de cinqüenta mil camponeses e
a União Estadual de Estudantes lançou um manifesto.
O prefeito
Raimundo Elpídio da Silva, no dia 3 de abril de 1964, exonerou o
professor Moacyr de Góes da função de secretário de Educação. A função
foi assumida, posteriormente, pelo capitão-de-corveta Tomaz Edson
Goulart do Amarante.
No dia 7 de abril, foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", para comemorar a vitória do golpe militar.
O novo
governo municipal demitiu vários funcionários, considerados perigosos:
"Omar Pimenta, da diretoria do Ensino Municipal; Mailde Pinto, da
diretoria de Documentação e Cultura; a professora Maria da Conceição
Pinto de Góes e, ainda, o professor Geniberto Campos, respectivamente
dos cargos de diretor e vice-diretor do Ginásio Municipal", narrou José
Wellington Germano.
Uma grande
preocupação dos novos detentores do poder foi a de eliminar livros que,
para eles, continham ensinamentos de uma ideologia marxista. Para
realizar tal missão, invadiram bibliotecas, destruindo muitos volumes.
E como
sempre acontece nesses casos, alguns militares, por excesso de zero ou
por ignorância, cometeram arbitrariedade. Exemplo: quando invadiram a
casa do professor Moacyr de Góes, colocaram uma metralhadora na cabeça
da mãe do ex-secretário de Educação, já bastante idosa e que merecia,
portanto, maior respeito".
O Jogo Claro de Djalma Maranhão
Djalma
Maranhão nasceu em Natal, no dia 27 de novembro de 1915. Filho de Luís
Inácio de Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão,
teve os seguintes filhos: Lamarck (falecido), Marcos e Ana Maria.
Djalma
Maranhão foi um homem simples, inteligente e que sabia exatamente o que
queria da vida. Não transigia nas suas idéias. Amaca os mais humildes e
lutava para atender às reivindicações das classes menos favorecidas.
Nacionalista, denunciava, gritava, protestava. Expressava sua ideologia
de maneira clara e inequívoca, acreditando na vitória do socialismo,
convicto de que "somente a dialética marxista-leninista libertará as
massas da opressão e da fome através da socialização dos meios de
produção e da entrega da terra aos camponeses".
Como não se
acomodava às intrigas políticas, nem concordava ou se adaptava a
qualquer tipo de corrupção, foi expulso de alguns partidos.
Militante
comunista, quando era cabo do exército participou da Intentona Comunista
de 35, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão que diz: "Andei pelos
presídios políticos e pelos campos de concentração, martirizado pelos
esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas".
Em 1946, foi
expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido
como desonestos. Foi eliminado, quando se encontrava ausente de
plenário, sem que pudesse se defender. A acusação feita por Djalma
Maranhão foi escrita.
Era de fato
um homem temperamental. Às vezes, contudo, sabia se conter. Exemplo:
durante a campanha de 1960 para prefeito de Natal, Djalma Maranhão
entrou irado na sala de redação da "Folha da Tarde" com um exemplar na
mão. Perguntou, então, quem tinha escrito a manchete de seu jornal, que
dizia o seguinte: "Lott - Jango - Walfredo - Maranhão - Gonzaga. Vote do
primeiro do sexto". Ao saber que o autor da manchete foi Moacyr de
Góes, de conteve e disse: "A manchete está certa. É assim mesmo. Não
vamos ficar em cima do muro. Jogo claro. Honrar as alianças".
Mantinha
cordiais relações com a Igreja. Certo dia, uma funcionária criticou as
pessoas que trabalhavam para a Arquidiocese. Djalma Maranhão sorriu e
disse: "Deixe o padre fazer o trabalho dele. E nós faremos o nosso".
Na campanha
"De Pé no Chão Também se Aprende a Ler" trabalhavam cristãos (católicos e
protestantes), espíritas e marxistas. Por essa razão, o professor
Moacyr de Góes chamou o movimento de uma "frente".
Profundamente
humano. Intransigente contra a falsidade e a desonestidade, admitia o
erro, desde que fosse cometido por alguém que desejasse acertar.
Para ele, governar era realizar. Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo.
Nas eleições
de 31/10/1954, foi eleito deputado estadual pelo Partido Social
Progressista, obtendo ótima votação em Natal. Como legislador, teve um
grande desempenho, sendo inclusive autor do projeto que deu autonomia ao
município de Natal.
Em 1955,
Djalma Maranhão apoiou Dinarte Mariz para governador, na coligação
PSP-UND. Mariz derrotou Jocelyn Vilar, do PSD. Como conseqüência do
acordo dessas eleições, Djalma Maranhão foi designado prefeito da Cidade
do Natal, cuja posse ocorreu no dia 1/2/1956.
De acordo
com Moacyr de Góes, "nessa primeira administração de Djalma Maranhão, a
Prefeitura vai implantar o programa municipal de ensino, através das
escolinhas de alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal".
No ano de
1959, Djalma Maranhão rompeu com Dinarte Mariz. Suplente, assumiu o
cargo de deputado federal, onde se destacou como membro atuante da
Frente Parlamentar Nacionalista.
Em 1960, se
candidatou a prefeito, participando da coligação "Cruzada da Esperança",
juntamente com Aluízio Alves, candidato ao governo do Estado.
Vitorioso,
no dia 5/11/60 Djalma Maranhão assumiu novamente a Prefeitura de Natal,
sendo dessa vez através do voto. Foi, portanto, o primeiro prefeito
natalense eleito diretamente pelo povo, obtendo 66% dos voto.
Em sua
segunda administração, Djalma Maranhão demonstrou toda a sua capacidade
de trabalho e de liderança política. Aos poucos conquistou a confiança e
o respeito da classe média, aumentando seu prestígio junto das classes
populares.
Djalma
Maranhão não foi apenas um político. Atuou, igualmente, como jornalista.
Segundo Leonardo Arruda Câmara, "a imprensa foi a grande vocação.
Revisor, repórter esportivo, repórter político, redator, secretário de
redação, editorialista, diretor e proprietário de jornais, percorreu na
carreira de jornalista todos os postos e funções. Fundou o "Monitor
Comercial", o "Diário de Natal" e a "Folha da Tarde".
"Foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal".
Como
escritor, publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", pelo
Departamento de Imprensa Nacional, edição da Frente Parlamentar
Nacionalista, no Rio de Janeiro, em 1960, e "Cascudo", Mestre do
Folclore Brasileiro", lançado em 1963. Tem também uma obra póstuma:
"Carta de um Exilado".
Com o golpe
militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado, posteriormente,
através de um "habeas corpus", concedido pelo Supremo Tribunal Federal,
conseguiu se asilar na Embaixada do Uruguai, indo morar naquele país,
onde veio a faleceu, no dia 30 de julho de 1971.
No último
livro produzido pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "O povo Brasileiro - A
formação e o sentido do Brasil", publicado em 1997, o escrito refere-se à
morte e ao apego de Djalma Maranhão ao Brasil, sem contudo citar seu
nome. "Pude sentir, no exílio, como é difícil para um brasileiro viver
fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que torna
extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos. O
prefeito de Natal morreu em Montevidéu de pura tristeza. Nunca quis
aprender espanhol, nem o suficiente para comprar uma caixa de fósforo",
relata Darcy Ribeiro.
Segundo
Leonardo Arruda Câmara, Djalma Maranhão "foi sepultado em Natal no
Cemitério do Alecrim, graças à interferência do senador Dinarte Mariz,
acompanhado de grande multidão no maior enterro já realizado em nossa
capital que atestou o quanto ele era amado e querido por sua gente".
Pausa no Radicalismo
Uma Obra Para o Bem da Coletividade
O processo
político no Rio Grande do Norte sempre se caracterizou pelo radicalismo.
Houve, entretanto, um período de paz e tranqüilidade na terra potiguar,
implantado por um homem inteligente, justo e honesto: monsenhor
Walfredo Gurgel. Ele buscou a paz com tenacidade. Ao traçar as
diretrizes de sua administração, disse: "sou homem que pretende governar
com a simplicidade da minha formação e do meu temperamento. Desejo e
espero o convívio cordial de todos os que me cercam e a todos darei o
exemplo de tolerância e de compreensão".
Deixou bem
claro que não aceitaria apoio em troca de benefícios: "não procurarei
adversários. Não buscarei adesões. Não transacionarei apoio. Mas não
recusarei ajuda nobre e espontânea à administração que estou iniciando
porque não tenho o direito de repelir aqueles que se disponham a
trabalhar pelo Rio Grande do Norte. Não perseguirei adversários. Não
procurarei ferir ninguém. Numa palavra: desejo que haja respeito ao
governo e o governo respeitará a todos, aliados ou adversários".
Cumpriu com a
palavra. Jamais se afastou desses princípios. Outra característica do
seu governo, talvez a maior, foi a austeridade. "Quando aos critérios
administrativos, o meu governo será de austeridade, de contenção de
despesas supérfluas", afirmou.
Fugiu sempre
da ostentação. Por essa razão, não admitiu no seu governo que se
colocasse nas placas, que anunciavam as obras públicas, o nome de
qualquer autoridade. Como disse Bianor Medeiros, "o governo para ele não
era o seu nome, mas a obra que surgia para o bem da coletividade".
A principal
obra do seu governo foi, na realidade, a ponte rodo-ferroviária de
Igapó. Procurou melhorar as rodovias, pensando na circulação das
riquezas do Estado.
Na área da
agricultura, segundo Bianor Medeiros, "construiu parques, armazéns e
atacou o setor através da melhoria dos rebanhos e forragens".
O Hospital
Walfredo Gurgel, foi obra da sua administração. E, ainda, a construção
do prédio da Telern, no centro da cidade. Fundou a Biblioteca Câmara
Cascudo, além de diversas escolas.
Não se pode
esquecer o grande desenvolvimento que te o Banco do Rio Grande do Norte
durante sua administração, inaugurando diversas agências na capital e em
várias cidades do interior (Caicó, Ceará-Mirim, Mossoró, etc).
Mas a grande
contribuição do seu governo foi, sem dívida, a construção de um clima
de paz, evitando qualquer tipo de antagonismo que pudesse gerar ódio,
sendo por essa razão respeitado pela posição. Bianor Medeiros declarou
que Monsenhor Walfredo Gurgel "nunca cometeu ou permitiu uma violência,
nem a mais leve injustiça contra os seus mais rancorosos adversários;
com estes sempre foi de uma exemplar generosidade, quando os via em
situação difícil".
Exemplos do Monsenhor Walfredo Gurgel
Nasceu no
dia 2 de dezembro de 1908, na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte.
Filho de Pedro Gurgel do Amaral e Oliveira e dona Joaquina Dantas
Gurgel.
Perdeu o pai
aos dez anos. Tempos difíceis, e o menino Walfredo, para ajudar a
família, vendia banana. Continuou. Entretanto, seus estudos no Grupo
Escolar Senador Guerra, onde fez o curso primário.
Queria ser
padre, porém, havia uma dificuldade: sua mãe, viúva e pobre, não podia
financiar sua estadia no seminário. D. José Pereira Alves, bispo
diocesano, contornou a situação. E assim, "em 3 de fevereiro de 1922,
ingressava no Seminário de São Pedro o menino caicoense que, após 4
anos, concluía o curso de Seminário Menor".
"Aluno
laureado, ao lado do Santo gênio, padre Monte, foi contemplado com uma
bolsa de estudos para, em Roma, cursar Filosofia e Teologia". Concluindo
esses dois cursos, "doutorou-se, a seguir, em Direito Canônico, pela
universidade Gregoriana, ordenando-se padre no dia 15 de outubro de
1931, na Capela do Pontifício Colégio Pio-Americano".
Voltou ao
Brasil no dia 14 de agosto de 1932. Foi recebido com grandes festas,
inclusive um banquete, ao qual compareceram figuras expressivas da
região. O ágape foi realizado na Intendência de sua cidade.
O novo
sacerdote, inteligente e culto, assumiu o cargo de reitor do Seminário
de São Pedro, além de lecionar algumas disciplinas, como Teologia.
A exemplo de grande número de intelectuais católicos de sua época, ingressou na Ação Integralista Brasileira.
Mais tarde, foi designado vigário de Acari, Freguesia de Nossa Senhora da Guia e, depois, vigário de Caicó.
Homem
dinâmico, participou, ao lado de outros seridoenses, de luta pela
criação da Diocese de Caicó. Essa causa se tornou vitoriosa, com D. José
de Medeiros Delgado nomeado bispo de Caicó. Walfredo Gurgel assumiu a
função de vigário-geral.
Professor e
sacerdote, Walfredo Gurgel se preocupou muito com a educação dos jovens
do Seridó. Batalhou então, pela construção de uma escola, a nível de
primeiro grau, para os meninos. Em 1942, o seu sonho se realizava, com a
inauguração do Ginásio Diocesano. Assumiu a sua direção e o ensino de
algumas disciplinas. Incansável, fazia praticamente tudo, como narra o
seu biógrafo, Bianor Medeiros: "contador, administrador da obra em
andamento e, ainda, sobrava-lhe tempo para treinar os times de futebol,
de vôlei e assistir aos ensaios da banda de música, que organizava e que
tinha, com regente, o querido e estimado mestre Bedé".
Sendo um
líder, era natural que um dia, mais cedo ou mais tarde, ele ingressasse
na vida política. Seguindo o mesmo caminho de um José Augusto de
Medeiros e de um Dinarte de Medeiros Mariz... Convidado por Georgino
Avelino, foi para o Partido Social Democrático, PSD. Dez parte do
Diretório Regional do seu partido. Nessa legenda, conseguiu se eleger
deputado federal na Constituinte, ao lado de Dioclécio Duarte, José
Varela e Mota Neto na sua legenda.
Continuando
sua carreira política, Walfredo Gurgel conseguiu se eleger
vice-governador do Estado, com Aluízio Alves, governador. Presidiu,
nessa função, a Assembléia Legislativa Estadual. Não chegou a concluir o
seu mandato, porque após outra vitória nas urnas, chegou ao Senado da
República, com grande votação.
Sofreu
críticas de alguns de seus adversários, que não compreenderam nem
perdoavam o seu êxito. Foi forçado a ir na tribuna do Senado, algumas
vezes, para defender seus correligionários: "Lamento mais uma vez, ser
compelido a ocupar a tribuna do Senado para tratar de assuntos
regionais, mas às vezes, somos levados a isso - quando há tantos
problemas de ordem nacional que exigem a nossa palavra, que exigem o
nosso esforço e a nossa inteligência (...) A todos estimo, porque, mesmo
sendo adversários políticos, são meu amigos pessoais, meus companheiros
nesta Casa, onde defendemos os interesses do povo e devemos trabalhar,
incessantemente, pela felicidade e grandeza de nossa pátria".
Com essa postura, conseguiu se impor ao respeito de todos.
Definia a
política como algo transitório, que não justificava a intriga e o ódio. O
importante era conservar as amizades, porque elas sim deveriam ser
duradouras. Disse Bianor Medeiros: "A cada resposta que dava, a qualquer
esclarecimento que prestava, a cada aparte que recebia, sempre se
erguia como verdadeiro estadista, diplomata, sereno e seguro".
Este era o perfil do senador Walfredo Gurgel.
Aconteceu,
entretanto, que o povo do Rio Grande do Norte convocou Walfredo Gurgel
para mais uma missão: governar o Estado. O seu vice foi Clóvis Mota.
Nessa nova missão, continuou agindo com a mesma serenidade e honradez.
Após deixar o
governo, realizou uma viagem de 45 dias ao continente europeu,
visitando vários países: Portugal, Alemanha, Espanha, Áustria,
Inglaterra, etc.
No dia 3 de
outubro de 1971, foi constatado que Walfredo Gurgel sofria de câncer no
pulmão, durante um exame que fez no Instituto de Radiologia de Natal.
Logo a seguir, agravou o seu estado de saúde, falecendo no dia 3 de
novembro de 1971, em Natal.
Sobre o
velório e a partida do corpo para Caicó, Bianor Medeiros, seu biógrafo,
narrou os acontecimento da seguinte maneira: "Velado pelo povo o corpo
do Monsenhor Walfredo Gurgel permaneceu na câmara-ardente armada no
saguão do primeiro andar do Palácio do Governo durante toda a noite até
às seis horas da manhã de ontem, quando foi transladado para a Catedral
Metropolitana".
"Em fila
dupla o povo subiu até o saguão do Palácio para ver o monsenhor pela
última vez e rezar pela sua alma, entregue a Deus. A fila muitas vezes
chegava até a Ulisses Caldas, e não rara vezes dava volta pela praça
Sete de Setembro.
"Todos os
ex-secretários do governo do monsenhor estavam presentes. Na praça Sete
de Setembro, o povo permanecia silencioso, triste, enquanto algumas
pessoas rezavam e outras choravam (...) Exatamente às 5h50, o caixão
fechado (...) A pé, acompanhado por uma multidão enorme, o corpo é
trasladado para a Catedral Metropolitana. Nas calçadas do próprio
Palácio e da Praça André de Albuquerque, o povo se comprime (...) A
missa foi celebrada por doze padres, à frente o arcebispo Dom Nivaldo
Monte. Eram exatamente 6h05. Silêncio profundo na igreja, somente
quebrado por soluços de pessoas (muitas) que choravam".
"Após a
missa teve lutar a encomendação do corpo por Dom Nivaldo Monte,
coadjuvado por todos os vigários que concelebravam a missa. Às 7 horas o
corpo é levado pelos auxiliares do monsenhor Walfredo Gurgel até o
carro fúnebre, já a esta altura a multidão era muito maior. O povo
chorava nas calçadas. Todos queriam ainda tocar no caixão. Todos queriam
ver o monsenhor pela última vez".
"Dezenas de
carros foram acompanhando o cortejo, que foi precedido por um carro da
rádio-patrulha que, de sirena aberta, abria passagem para o féretro.
Muitas pessoas foram até Macaíba, de onde voltaram após o último adeus. E
o corpo no monsenhor seguiu para ser sepultado na sua cidade natal:
Caicó".
EDUCAÇÃO E CULTURA
A Tradição e a Renovação
Evolução do Ensino e das Escolas no RN
As ordens religiosas, sobretudo a dos jesuítas, foram as instituições que primeiro se dedicaram ao ensino no Brasil.
No Rio
Grande do Norte, o processo educativo começou quando foram instaladas as
vilas, que ficaram sob a administração dos missionários, inclusive com a
tarefa da instrução civil e religiosa.
As meninas foram excluídas do ensino.
Quando as
missões religiosas foram extintas, o missionário foi substituído pelo
mestre-escola nas sete vilas que existiam no Rio Grande do Norte.
Em 1827,
surgiram as primeiras escolas primárias. Foram duas: uma pertencia a
dona Francisca Josefa Câmara e a outra, a Francisco Pinheiro Teixeira.
As primeiras
escolas do interior surgiram dez anos depois: São José de Mipibu,
Princesa, Goianinha, Arês, Touros, Mossoró, Acari, Apodi.
Em 1834, o
ensino primário foi desmembrado do secundário, e os governos provinciais
passaram a manter os cursos chamados de "Humanidades" ou "Aulas
Maiores".
Basílio
Quaresma Torreão fundou o Ateneu que passou a funcionar no dia 3 de
fevereiro de 1834. Basílio Quaresma escolheu o nome da escola, da versão
portuguesa de Athénaion. Como explicou Câmara Cascudo, "no Ateneu de
Atenas os poetas liam os poemas e os historiadores o relato das jornais
pelas terras estranhas e misteriosas".
O Ateneu
passou a funcionar numa dependência do Quartel do Batalhão de Linha,
porque o prédio estava desocupado. Foi extinto em 1852. O presidente da
Província, Antônio Bernardo de Passos, fez a escola voltar a funcionar
em 1856, mas só se considerou a partir de 1º de março de 1859, quando o
presidente Nunes Gonçalves instalou-a num edifício novo.
No dia 11 de
março de 1954, reinstalou-se o Ateneu em um prédio moderno, em forma de
X, com um ginásio coberto, para a prática de esportes e de educação
física, graças aos esforços do professor Severino Bezerra de Melo,
diretor do Departamento de Educação, e do interesse do governador Sylvio
Pedrosa, em cujo governo a obra foi concluída. O nome foi modificado
para Instituto de Educação porque se pretendia, de fato, fazer funcionar
um instituto de Educação, inclusive com um Grupo Escolar Modelo. Essa
proposta não foi concretizada na sua totalidade. O Ateneu absorveu tudo.
Conforme Chicuta Nolasca Fernandes, "a Escola Normal ocupou uma
perninha do X, exatamente onde nem sequer havia sanitários. "Por essa
razão, ela desabafou: "A Escola Normal era uma hóspede indesejável no
Ateneu". E numa entrevista com Sylvio Pedrosa fez reivindicações. Como
conseqüência dessa conferência, o governo construiu outro edifício,
destinado à Escola Normal, Escola de Aplicação e Jardim Modelo, formando
um novo Instituto de Educação.
O ensino que
visava preparar professores, para lecionar no ensino primário, teve um
começo dos mais difíceis. A primeira Escola Normal, criada pelo
presidente João Capistrano Bandeira de Melo Filho, foi inaugurada no dia
1º de março de 1874, funcionando numa dependência do Ateneu, sendo
extinta pelo presidente José Nicolau Tolentino de Carvalho.
Foram
criadas, outras duas escolas normais. Ambas, entretanto, não chegaram a
funcionar. A quarta Escola Normal foi a que frutificou, segundo Câmara
Cascudo. Fundada em 24/4/1908, como a primeira, anexada ao Ateneu até
1910.
A 2 de janeiro de 1911, iniciou os seus trabalhos no prédio do Grupo Escola Augusto Severo.
Em março de
1966, no governo Aluízio Alves, a Escola Normal, após ser "hóspede" do
Instituto de Educação e funcionar na praça Pedro Velho, foi transferida
para novas instalações, em Lagoa Nova, com linhas arquitetônicas
modernas, passando a se chamar Instituto Presidente Kennedy. Inaugurado
quando o senador norte-americano Roberto Kennedy veio a Natal.
Revolução no
ensino primário, em Natal, foi realizado pela Campanha 'De Pé no Chão
Também se Aprende a Ler", na administração Djalma Maranhão (61/64).
Em 1962, Djlama Maranhão fundou o Centro de Formação de Professores, com o Ginásio Normal e o Pedagógico.
Na administração do prefeito Tertius César Pires Rebello, o Centro passou a se chamar Instituto Municipal de Educação,
O ensino
normal teve seu grande momento em 1966, quando o professor Alberto
Pinheiro de Medeiros, diretor do IME, idealizou uma semana do
normalista, promovida em conjunto pelas Escolas Normais de Natal.
Contou, de imediato, com o apoio da professora Chicuta Nolasco
Fernandes, diretora do Instituto Presidente Kennedy.
Participaram
do evento o Instituto Municipal de Educação, Instituto Presidente
Kennedy, Instituto Nossa Senhora Auxiliadora e o Colégio Imaculada
Conceição. A 1ª Semana do Normalista Conjunta , ocorreu no período de 10
a 14 de outubro de 1966. Houve desfile, conferências, debates e jogos.
Foi encerrada, solenemente, com um festival artístico, no Teatro Alberto
Maranhão. Circulou um jornal. "O normalista", que publicou trabalhos
das alunas.
Voltando a
falar sobre o Ateneu, é preciso dizer que o nome Instituto de Educação
teve curta duração. Passou, pouco depois, a se chamar Colégio Estadual
do Rio Grande do Norte, porém, no dia 3 de fevereiro de 1959, durante o
governo de Dinarte Mariz, recebeu a denominação de Colégio Estadual do
Ateneu Norte-Rio-Grandense.
Desde os
primeiros tempos, o Ateneu se tornou um centro de cultura, como disse
Tarcísio Medeiros: "em derredor da vida docente e discente do Ateneu,
pode-se dizer sem susto, criou-se e expandiu-se a cultura potiguar. Os
alunos graduados por ele formaram instituições outras que existem até
hoje. Criaram centros literários, jornais e associações nos quais
imprimiram culto de moral e civismo".
Após a
proclamação da República, o ensino progredia, abrindo, inclusive, novas
oportunidades às pessoas do sexo feminino. Em 1903, as primeiras
mulheres prestam exames de Humanidades, no Ateneu. Algumas mulheres se
destacaram na vida intelectual potiguar: Isabel Gondim, Dionísia
Gonçalves Pinto (Nísia Floresta) e Auta de Sousa.
O século XX
marca o aparecimento de outras escolas. Em Natal: Colégio da Imaculada
Conceição (1901), Colégio Diocesano Santo Antônio (1903), Colégio Nossa
Senhora das Neves (1932). No interior: Colégio Coração de Maria (Mossoró
- 1912), Colégio Santa Terezinha do Menino Jesus (Caicó - 1952),
Colégio Santa Águida (Ceará-Mirim - 1937), Colégio Nossa Senhora das
Vitórias (Açu - 1927), etc.
A 10 de
setembro de 1914, foi criada a Escola Doméstica, a primeira do Brasil na
sua especialidade, sendo um de seus fundadores, Henrique Castriciano de
Sousa e contava no seu corpo docente com professoras francesas,
inglesas, norte-americanas e suíças. O corpo discente era formado também
por alunas vindas de outros Estados, porém, a maioria das alunas eram
jovens de famílias interioranas, filhas de fazendeiros, comerciantes e
criadores.
Em 24 de
junho de 1917, surgiu uma instituição que desempenhou grande influência
na formação moral e cívica da juventude natalense: "Associação dos
Escoteiros do Alecrim", fundada por um grupo de idealistas (Luís Soares
Correia de Araújo, Elói de Souza, Meira e Sá, Henrique Castriciano,
Moisés Soares e Monteiro Chaves).
O ensino
fundamental começou a ser ministrado no século XX, com a fundação da
Escola do Comércio de Natal, no dia 8 de dezembro de 1919. E, sob a
inspiração do segundo bispo de Natal. D. Antônio dos Santos Cabral, foi
instalada a Escola Feminina de Comércio, que teve uma experiência
efêmera. Depois, surgiu outra, que funcionou no Colégio Imaculada
Conceição, em 1932. Três anos depois, Mossoró instalava uma escola de
comércio. No ano de 1940, o Colégio Nossa Senhora das Neves ganhava a
sua.
O
crescimento do ensino nessa área culminou com a criação de duas escolas
de nível superior. Em Natal, foi fundada a Faculdade de Ciências
Econômicas e Contábeis (1957). Um pouco depois, 1961, a União Caixeiral
de Mossoró fundou a Faculdade de Ciências Econômicas.
O primeiro
estabelecimento de ensino superior, entretanto, foi fundado em 1923,
pelo decreto nº 192: Faculdade de Farmácia, que conseguiu formar apenas
dois alunos. Álvaro Torres Navarro e José de Almeida Júnior, fechando
logo depois. Um de seus professores, contudo, Varela Miranda, criou um
produto que ainda hoje é comercializado com o nome de "Sanarina".
Após 1934, o ensino secundário passou por algumas transformações, até chegar o ensino de primeiro grau e de segundo grau.
Nessa época,
somente os estudantes filhos de pais ricos ou que pertenciam a uma
família que tivesse bons recursos financeiros poderiam estudar em
faculdades, em outras capitais do Nordeste ou mesmo do Sul do País.
Acontece que
Natal passou por grande mudanças, devido à Segunda Guerra Mundial,
possibilitando, como disse Itamar de Souza, "às elites locais um
intercâmbio como personagem de uma cultura, mais cosmopolita. (...) A
guerra desprovincializou Natal".
Outro fator
importante: o movimento operário cresceu no País, com os deputados
federais debatendo na Câmara questões sociais, com reflexos no Rio
Grande do Norte. Cresceu, em Natal, o prestígio de Café Filho nas
classes mais humildes, José Augusto de Medeiros, adversário político de
João Café Filho, eleito governador do Estado, criou a 1º de maio de
1925, numa solenidade realizada no Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto
Maranhão), a primeira universidade popular do Rio Grande do Norte. As
aulas eram administradas através de conferências, sendo assistidas por
grande número de operários.
Surgiram, posteriormente, as universidades populares de Goianinha e a de Touros, ambas em 1925.
Em 1944, por
iniciativa de D. Marcolino Dantas, o curso de Filosofia dos padres
salesianos, que era ministrado em Jaboatão (PE), foi transferido para
Natal. Tratava-se, como disse Itamar de Souza, "do Instituto Filosófico
São João Bosco, destinado a formar os clérigos salesianos em filosofia,
ciências e letras". Esse instituto funcionou até 1959.
Atualmente,
no Colégio Santo Antônio (Marista) funcionava o Curso Superior de
Ciências Religiosas, do Instituto de Humanidades Marcelino Champagnat,
pertencente à Universidade Católica do Paraná. O curso é dirigido pelo
irmão Inácio Ferreira Dantas.
A Escola de Serviço Social foi fundada em 1945
Câmara
Cascudo fundou a universidade popular, sendo instalada no dia 1º de maio
de 1948, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte.
Com a
multiplicação das escolas de nível superior, começava a se formar a base
da futura universidade federal: Faculdade de Medicina (1955), Escola de
Auxiliar de Enfermagem (1955), Faculdade de Filosofia (1955), Escola de
Engenharia (1957).
Dr. Onofre
Lopes, após grandes esforços, conseguiu ver seu sonho realizado: a
universidade estadual foi criada pela lei 2.307, de 25/06/1958, no
governo de Dinarte Mariz. Dr. Onofre Lopes da Silva foi o seu primeiro
reitor. Incansável, iniciou a luta pela federalização. Essa aspiração se
concretizou pela lei no 3.849, em 18/12/1960, assinada pelo presidente
da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Como
conseqüência de um verdadeiro "boom" universitário no Brasil, a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte passou por um período de
expansão, ocorrido sobretudo nos anos compreendidos entre 1971 e 1979,
nas administrações de Genário Alves Fonsêca (1971 a 1975) e de Domingos
Gomes de Lima (1976 a 1979).
Com Genário
Alves Fonseca, em 1972, foi implantada a TV Universitária . Em 1974,
algumas unidades foram transferidas para o campus e foram, também,
criados novos cursos de graduação: Arquitetura, Engenharia Elétrica,
Química, etc.
No ano de
1973, a universidade partia para conquistar o interior, com a instalação
do Núcleo Avançado de Caicó. Depois, viram os campi de Currais Novos,
Macau e Santa Cruz.
Anteriormente,
a universidade tinha criado o CRUTAC, que prestou grandes serviços à
comunidade norte-rio-grandense, com alunos estagiando e atuando em
diversas áreas.
A
administração do professor Gomes de Lima foi sintetizada da seguinte
maneira por Itamar de Souza: "Este foi o quadriênio de maior dinamismo
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A capacidade de trabalho
do Magnífico Reitor, professor Domingos Gomes de Lima, transformou a
vida universitária em todos os setores".
Em síntese, a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte não apenas substituiu o
papel exercido antes pelo Ateneu, como foi mais além, dando uma efetiva
contribuição ao desenvolvimento do Estado.
Na Zona
Oeste, foi instalada a Universidade Regional do Rio Grande do Norte que
também se expandiu, desenvolvendo um papel de relevo naquela região.
O Instituto
Presidente Kennedy, no governo de José Agripino, quando Marcos Guerra
exercia as funções de secretário de Educação, foi redimensionado,
através de uma proposta com o objetivo de formar um novo professor.
Passou, então, a ofertar um convênio entre a Universidade Regional do
Rio Grande do Norte, que legalmente oferta o curso, Secretaria de
Educação do Estado, contando com a assessoria do professor Michel Brault
(Programa de Cooperação Técnica Brasil-França). Mantém o 1º Grau como
escola laboratório.
A primeira
diretora, a partir da execução desse projeto, foi a professora Eleika
Bezerra Guerreiro, contando com a consultora pedagógica Maria Isaura
Pinheiro, com larga experiência na formação de professores.
Os professores-alunos pertencem ao Estado e a alguns municípios.
O diretor atual é o professor e psiquiatra Quinho Chaves.
O sistema
cooperativista de ensino foi implantado em Natal, no ano de 1993, quando
começou a funcionar o Colégio Cooperativista Independente, fundado por
funcionários do Banco do Brasil.
Outra escola
que funcionava nesse sistema é o Colégio Cooperativista Freinet,
fundado em 1996. Para Eleika Bezerra Guerreiro, uma das fundadoras do
Freinet, "trata-se de garantir aos pais a opção de um ensino de
qualidade a preços acessíveis. Com isto estaremos contribuindo para a
diminuição de um grave problema social".
Poetas, Escritores e Intelectuais
A vida
intelectual, no Rio Grande do Norte, estava ligada ao jornalismo
político. E a "modinha", no dizer de Câmara Cascudo, representava a
"exteriorização literária".
O mesmo
autor descreve o contexto da época: "os poetas ficavam na classe
populesca dos improvisados ou dos modinheiros, versos eram musicados e
cantados nas serenatas, acompanhados pelos vilões sonoros".
Alguns
poetas que se destacaram na época foram Miguel Vieira de Melo
(1821-1856), Gustavo da Silva (1832-1856), Rafael Aracanjo da Fonseca
(1811-1882), etc.
O primeiro jornal do Rio Grande do Norte, o "Nordeste", foi fundado pelo padre Francisco Brito Guerra, em 1832.
Depois, João Manuel de Carvalho, fundou o primeiro órgão de imprensa de caráter literário, chamado 'O Recreio'.
Outros
jornais foram surgindo com maior ou menor duração, revelando para a
comunidade diversos jornalistas e intelectuais: Joaquim Fagundes
(1857-1877) e José Teófilo (1852-1879), por exemplo.
Na década 1870 - 1880, os bailes, que eram mensais, se transformaram em locais onde as pessoas cantavam e declamavam poesias.
Merece
destaque uma potiguar que passou vinte e oito anos na Europa e se tornou
célebre pela sua luta a favor do soerguimento da mulher, sendo
igualmente, uma grande escritora. Dionísia Gonçalves Pinto, mais
conhecida pelo seu pseudônimo Nísia Floresta, nasceu no sítio Floresta,
em Papari (hoje Nísia Floresta, em sua homenagem), no dia 12 de outubro
de 1810, falecendo na França, em Rouen, a 24 de abril de 1885. A sua
bibliografia é ampla: "Daciz ou a Jovem Completa" (Rio, 1847),
"Itineraire d'un voyage en Allemagne" (Paris, 1857), "A Mulher"
(Londres, 1856), etc.
Falando
sobre Nísia Floresta, Maria Eugênia M. Montenegro classificou-a como
"ilustre pensadora e idealista, a autodidata, a revolucionária, a
enfermeira, a jornalista e abolicionista e republicana, que pregava a
igualdade das províncias e das casas. "(Revista Brasília, no LXX, abril -
maio de 1996).
Constância
Lima Duarte publicou, em 1995, um livro sobre a vida e obra de Nísia
Floresta, onde constata "que a história de Nísia Floresta não se limita
às primeiras páginas onde apresento dados específicos referentes a sua
vida e obra. Nem termina realmente ao final da análise do último texto.
Se cada um deles introduz dados, revela traços de sua personalidade, de
suas lutas, de suas obsessões, de seus conflitos, a figura de Nísia
Floresta Brasileira Augusta fica por ainda se compor, a partir de tudo
isso que aí está, e de tudo o mais, que teima em se manter oculto aos
nossos olhos".
Luís Carlos
Lins Wanderley é o autor de "Mistério de um Homem", em dois volumes. É
apontado por alguns como sendo o primeiro romance escrito no Rio Grande
do Norte.
Isabel
Urbana de Albuquerque Gondim nasceu, provavelmente, em 1839, também em
Papari. Foi professora, poetisa e a primeira historiadora do Estado.
Escreveu várias obras, como 'Sedição de 1817, na Capitania do ora Estado
do Rio Grande do Norte"(1919), "O Sacrifício do Amor" (1919), "Lira
Singela" (1933), etc.
No movimento abolicionista, brilhou Segundo Wanderley.
Vem, depois,
a geração do Oásis que, como disse Câmara Cascudo, "nasceu literalmente
com o advento republicano". Dessa fase se destacaram dois irmãos:
"Henrique Castriciano e Auta de Souza.
Henrique
Castriciano, bacharel em Direito, muito viajado, e possuidor de uma
grande cultura, chegou a ser vice-governador do Estado. Como disse
Romulo Wanderley, foi "jornalista, escritor, crítico, impões-se aos seus
contemporâneos pelo talento, pela cultura e pela inspiração poética".
São seus os seguintes versos:
"Ah! Como é triste o aboio! Ah, como é triste o canto sem palavras - tão vago - a saudade exprimindo.
Das selvas do sertão, no mês de junho rindo.
Pelos olhos azuis das crianças, enquanto
No tamarinho verde, asas abertas, trina
À beira dos currais, o galo de campina!
Auta de Souza, poetisa, escreveu apenas um livro, "Horto", com várias edições.
A poesia "Meu Pai", começa assim:
"Desce, meu Pai, a noite baixou mansa
Nem uma nuvem se vê mais no céu:
Aninham-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa".
Os primeiros
teatros de Natal foram barracões de palha, construídos no local onde
hoje é a praça Gonçalves Lêdo. Todos os três foram destruídos pelo fogo.
Os grupos de amadores, contudo, não desanimam. "Representavam em teatrinhos improvisados", disse Câmara Cascudo.
O
comerciante João Crisóstomos de Oliveira fundou o Teatro de Santa Cruz,
localizado na atual João Pessoa, em 1880. Não dava lucro. Os amadores se
apresentavam de graça. Falando sobre a importância desse teatro, Câmara
Cascudo fez o seguinte comentário: "De 1880 em diante o Santa Cruz
reúne todas demonstrações literárias da terra. Com a abolição aí se
funda a Libertadora Natalense. Com a República, aí discursaram os
tribunos, Olinto Meira, Braz de Melo, Nascimento de Castro, Augusto
Severo, Pedro Velho. Nas cisões políticas, aí acampam os oposicionistas
com o Clube Republicano 15 de novembro. Ali a companhia de José de Lima
Penante recebeu aplausos e deixou saudades".
No dia 17 de abril de 1894, caiu a cobertura do teatro que desapareceu nesse momento.
O século XX é a frase da Oficina Literária, onde se destacaram Francisco Cavalcanti, Jorge Fernandes, Clementino Câmara.
Um grande
poeta dessa geração foi Manoel Virgílio Ferreira Itajubá, que nasceu em
Natal, escrevendo versos como os que se seguem:
"Vi-te. Era noite. A lua decorada
Brilhava nas paragens luminosas
E a noite estava toda embalsamada,
Porque exalavam no canteiro as rosas".
No dia
29/3/1902, foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte, por um grupo de intelectuais, entre eles, Vicente Lemos, autor
do clássico "Capitães Mores e Governadores do Rio Grande do Norte".
Faziam parte do instituto Luís Fernandes, Manoel Dantas,. Pedro Soares e
tantos outros. O instituto publica, ainda hoje, uma revista. O seu
atual presidente é o advogado Enélio Lima Petrovich.
O Teatro
Carlos Gomes foi inaugurado em 1904, no primeiro governo de Alberto
Maranhão. O ilustre político, não satisfeito, ao assumir o governo pela
segunda vez, promoveu grandes reformas no teatro que hoje tem o seu
nome. Câmara Cascudo descreveu que "nasceu outro teatro, amplo,
confortável, arejado, moderno".
No início do
século, o coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo fundou "A
Imprensa" (1914-1926), que teria brilhante trajetória. O Centro
Polimático (1920-1924) lançou uma revista que publicava importantes
estudos, que segundo Humberto Hermenegildo de Araújo, foi "de valor
fundamental para a compreensão do processo de criação de uma
consciência, digamos "potiguar". "Apareceu também uma revista feminina,
chamada Via Láctea (1914-1915), onde se destacaram Palmira e Carolina
Wanderley.
Foi uma
época de grande efervescência literária, onde brilharam nomes como
Nascimento Fernandes, Anfilóquio Câmra, Armando Seabra, Jayme Wanderley.
Segundo Humberto Hermenegildo de Araújo, "publicaram-se, naquela
década, alguns títulos que ainda hoje são de fundamental importância
para a compreensão do início da nossa vida literária: "Alma patrícia"
(1921) e "Joio" (1924), ambos de Luís da Câmara Cascudo; "Poetas
Rio-Grandenses do Norte" (1922), de Ezequiel Wanderley", "Versos"
(1927), de Lourival Açucena'e "Terra Natal" (1927), de Ferreira
Itajubá".
Câmara
Cascudo, atendendo a um apelo da Federação das Academias de Letras, com
um grupo de amigos e intelectuais, fundou a Academia Norte-Rio-Grandense
de Letras, em 14/11/1936, na sede do Instituto de Música, sendo eleito
Henrique Castriciano, presidente. Entre os fundadores da academia, podem
ser citados os seguintes intelectuais: Adauto Câmara, Otto de Brito
Guerra, H. Castriciano, Edgar Barbosa, Antonio Soares de Araújo, Nestor
dos Santos Lima, Januário Cicco, Floriano Cavalcanti, Lu;is Gonzaga do
Monte.
O atual presidente dessa academia é o advogado Diógenes da Cunha Lima.
A partir do
século XX, surgiram vários jornais, em diversos municípios do Rio Grande
do Norte. Em Açu: "O Alphabeto" (1917), "A Cidade" (1901 a 1908),
"Jornal do Sertão" (1928), "O Vale (1937). Em Caicó: "A Folha" (1928),
"Jornal de Caicó" (1930), "O Seridó" (1900-1901), "A Verdade" (1933). Em
Macau: "Folha Nova" (1913), "Gazeta de Macau" (1909), "O Imparcial"
(1918), "O Nacionalista" (1959), "A Voz de Macau" (1951). Em Mossoró:
"Jornal do Oeste" (1948), "A Palavra" (1926), "O Trabalho" (1926),
"Desfile" (1946).
A "Coleção
Mossoroense" tem editada uma série muito grande de livros, prestando,
assim, uma efetiva colaboração ao desenvolvimento cultural do Estado.
Publicou "Notas e Documentos para a História de Mossoró", de Luís da
Câmara Cascudo; "Lampião em Mossoró", de Raimundo Nonato; "Um possível
caso de telegonia entre os nossos indígenas", de Jerônimo Vingt Rosado
Maia, etc.
De Açu,
brilha Maria Eugênia Montenegro. Natural de Lavras (MG), se integrou no
movimento literário potiguar. Publicou livros de poesias ("Azul
Solitário') e, inclusive, um de ficção filosófica ("Alfar, A que Está
Só").
Pertence às academias de letras de vários Estados e à do Rio Grande do Norte.
De Macau,
Edinor Avelino, jornalista, colaborou em diversos jornais da capital ("A
Imprensa", "A República", "A Opinião" e "Democrata") e em outros do
interior: "Folha Nova" (Macau), "A Cidade" (Açu), "O mossoroense"
(Mossoró).
No poema "Macau", considerado como sendo sua obra-prima, escreveu:
"A minha terra, calma e boa, trago-a nas cismas de saudade em que ando atento,
contemplando-a com os olhos cheios d'água.
nos grandes vôos do meu pensamento.
É das mais ricas terras pequeninas.
Apraz-me repetir, quando converso;
possui alvas e esplêndidas salinas,
as melhores salinas do universo".
De
Ceará-Mirim, três nomes. Nilo Pereira, que tece, entretanto, uma grande
atuação em Pernambuco, onde foi diretor da Faculdade de Filosofia da
Universidade Federal de Pernambuco, com extensa bibliografia, podendo se
citados: "O destino das Faculdades de Filosofia na Universidade"
(Natal, 1957), "Humanismo de Luiz de Camões" (Recife, 1957) e "Evocação
do Ceará-Mirim" (Recife 1959), etc.
José
Sanderson Deodato Fernandes de Negreiros, poeta, jornalista, quando foi
eleito para a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, era o mais jovem
daquela instituição. Trabalhou na "Tribuna do Norte", "Diário de Natal",
sendo também, redator e repórter de duas revista do Sul do País,
"Manchete" e "Visão".
Autor de "Ritmo da Busca" (1956) e "Lances Exatos" (1966), é também de sua autoria a poesia "O gesto":
Despe o corpo, tatuado de
relâmpagos. Ensarilhas ventos
ao som da ternura e apunhalas
o horizonte. Mas dentro de ti,
o coração canta, além.
do remoto mar das tapeçarias.
Deitaste o pão e água em minha
solidão, e amo-te por me teres
amado pelo próprio amor
desprotegida, ó incendiária do repouso".
Edgar
Barbosa, formado em Direito, no Recife, em 1932, trabalhou em vários
jornais: "A República", "O Debate", "A Ordem", etc. Foi fundador da
Faculdade de Filosofia e seu primeiro diretor. Escreveu, entre outros
livros: "História de uma campanha (1936), "Três Ensaios" (Recife, 1960),
"Imagens do Tempo" (Natal, 1966).
De Nova
Cruz, Diógenes da Cunha Lima Filho, poeta, advogado, professor,
ex-reitor da UFRN, ex-presidente da Educação e Cultural do Estado,
publicou "Lua Quatro Vezes Sol" (1967), "Tradição e Cultura de Massa"
(1973), "Câmara Cascudo, um homem feliz", etc.
Em "Memórias das Águas", diz Diógenes da Cunha Lima:
"O espectro do rio foge
Quando dorme o Potengi.
Sua memória lavada
Em muitas águas desliza
Das nascentes do verão".
De São
Vicente, D. José Adelino Dantas, com grande atuação no Seridó. Foi bispo
de Caicó, nomeado pelo papa Pio XII, em 1952. Colaborou no jornal "A
Ordem". Depois, foi nomeado bispo de Garanhuns (PE) e, a seguir, de Rui
Barbosa, na Bahia.
Pertenceu à
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, tendo publicado "A Formação do
Seminarista"(1947), "Homens e Fatos do Seridó Antigo" (1962), "O Coronel
de Milícias Caetano Dantas" (S/Data).
Falando
sobre D. Adelino Dantas, disse Sanderson Negreiros: "pesquisador que se
debruça sobre o documento faz isso com amor e sabedoria, com calor
humano e absoluta sinceridade de propósitos".
Em abril de
1963, o governo Aluízio Alves inaugurou a Fundação José Augusto que
funcionou inicialmente "como faculdade para os cursos de Jornalismo,
Sociologia e Política e Escola Superior de Administração, além de manter
o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais e a Gráfica Manibu.
Somente a partir de 1968, com a mudança do Estatuto, é que a Fundação
passa a fazer o trabalho de fomento à cultura potiguar, exercendo um
papel semelhante ao de uma Secretaria de Cultura estadual".
"Presente na
vida cultural do Estado, desde a edição de livros, promoção de eventos,
até a preservação do patrimônio histórico, a Fundação José Augusto
também detém a guarda e manutenção de importantes prédios e
instituições, como o Forte dos Reis Magos e o Memorial Câmara Cascudo, a
Biblioteca Pública Câmara Cascudo, Museu Café Filho e o de Arte Sacra".
"O teatro
Alberto Maranhão, onde funciona uma Escola de Danças, o Instituto de
Música Waldermar de Almeida, com mais de 500 alunos matriculados, são
outras entidades geridas pela Fundação José Augusto, presidida pela
segunda vez pelo jornalista Woden Madruga (a primeira gestão ocorreu de
1987 a 1990)".
"Uma
Orquestra Sinfônica em plena atividade, que realiza concertos oficiais,
populares e educativos mensais, sempre trazendo ao Estado renomados
solistas, um coral (Canto do Povo), com reconhecimento nacional e no
exterior, tendo representado o Brasil em 1995 em temporada na Alemanha,
França e Itália, onde se apresentou para o papa João Paulo II, são
outros dos orgulhos da Fundação José Augusto".
"Na atual
administração, vários projetos de sucesso têm sido desenvolvidos, como o
Projeto Seis e Meia, que é apresentado todas as terças-feiras, às
18h30, no Teatro Alberto Maranhão, sempre com um cantor local e um
nacional. Esse projeto, que tem uma média de público, por sessão de 620
pessoas, é no estilo do extinto Projeto Pexinguinha, que foi realizado
em todo o País na década de 70. Por ele já passaram artistas como
Paulinho da Viola, Leila Pinheiro, Jamelão e Sivuca, entre tantos
outros.
"Na luta
para revitalizar os grupos e artistas populares, foram dadas
indumentárias, instrumentos, oportunidades de apresentação em Natal e
fora do estado, e criado o Projeto Chico Traíra, que edita e distribui
com os autores de jovens e contemporâneos. Edita ainda o jornal cultural
"O Galo", mensalmente, promovendo Salões de Artes Plásticas e de Humor e
dando apoio às atividades teatrais, seja através da apresentação do
teatro brasileiro, como Amir Haddad". (Documento fornecido pela
Asssessoria de Imprensa da Fundação José Augusto - 1997).
UM POUCO SOBRE CULTURA NO RN
Mestres de Ontem e de Hoje
Riqueza Intelectual Norte-rio-grandense
No governo
do monsenhor Walfredo Gurgel, a Fundação José Augusto promoveu o "Prêmio
Nacional Luís da Câmara Cascudo", cujo vencedor, foi o escritor Américo
De Oliveira Costa (profundo conhecedor da literatura francesa), com o
trabalho "Viagem ao Universo de Câmara Cascudo", que foi editado pela
própria FGA, em 1969, na gestão de Hilma Melo.
No final dos
anos 60 surgiu um movimento literário, provocando um impacto no Rio
Grande do Norte e também no Brasil: o lançamento simultâneo em Natal e
no Rio de Janeiro do Poema/Processo. Segundo Álvaro de Sá, "o Poema/
Processou criou muito e radicalmente". Por essa razão, entrou em
conflito com a tradição, cometendo algumas injustiças. Moacyr Cirne, um
dos fundadores do movimento, reconhece que "não soubemos enfrentar a
questão cascudeana". Mas o inimigo não seria Cascudo e sim "toda uma
estrutura política, econômica e ideológica conservadora, reacionária,
castradora". O movimento encontrou, na realidade, uma resistência muito
forte, Nei Leandro de Castro chegou a dizer, num grande desabafo, que "o
poema/processo me faz passar oito ou dez anos sem escrever poesia, pode
desencanto, por desalento". Nei Leandro de Castro foi premiado em 1996,
pela revista Playboy, com o conto "Nossa semelhança com os deuses". É
também romancista, escreveu o livro "Ojuara" (As Pelejas de Ojuara).
Entre os poetas ,que se destacaram na vida literária potiguar e que faleceram numa época não muito distante, podem ser citados:
- Myriam
Coeli, natural de Manaus, porém, norte-rio-grandense de São José de
Mipibu por opção. Segundo Carlos Guimarães, a poetisa conseguiu fazer a
"interação exata entre a idéia e a forma". Seu livro de estréia, "Imagem
Virtual" (1961), foi escrito em parceria com seu marido, Celso da
Silveira que, como ela, também fazia versos, além de atuar como
jornalista. Outros trabalhos de Myriam Coeli são "Vivência sobre
Vivência" e "Cantigas de Amigos" (1980).
- Zila da
Costa Mamede, nasceu na vizinha Paraíba, em Nova Palmeira, vindo para
Natal no ano de 1935. Seu primeiro livro, "Rosa de Pedra", é de 1953.
Publicou, ainda, "Salinas" (1958), "Navegos" (1978) etc. Assim Zila
Mamede cantou a rua Trairi, onde morou:
"Meu chão se muda em novos alicerces,
sob as pedreiras rasgam-se meus passos;
e a velha grama (posto de lirismo)
afoga-se nos sulcos das enxadas".
Ex-diretora
da Biblioteca Central da UFRN, Zila Mamede escreveu "Luís da Câmara
Cascudo: 50 anos de vida intelectual - 1918 a 1968", pela Fundação José
Augusto, 1970.
- Esmeraldo
Siqueira foi, como disse Romulo Wanderley, um "crítico, ora impiedoso,
ora humano, poeta de profunda sensibilidade e apurado gosto na forma de
seus versos". Entre outros livros, escreveu "Caminhos Sonoros" (1950) e
"Poemas" (1950).
Nos dias atuais um novo livro: "poço, festim, mosaico".
- Outro poetisa de grande força é Diva Cunha, autora de obras como "Canto de Página" (1986), onde diz:
"desta janela
ela é menos velha
que vista palmo a palmo
é luz de luz dourada
é verde ainda que tarde”.
Falando
sobre a poetisa, disse Vicente Serejo: "Diva, que tem nas mãos os grãos
da poesia, plantados no tempo e germinando nos invernos da alma".
- Paulo de
Tarso Correia de Melo é um autor premiado. Recebeu em 1991 dois prêmios:
Prêmio Estadual de Poesia Auta de Souza, com "Natal: secreta biografia"
e o Prêmio Municipal de poesia Othoniel Menezes, com a publicação do
livro "Folhetim Cordial da Guerra em Natal e Cordial Folhetim da Guerra
em Parnamirim". Em sua poesia, sem qualquer vislumbre de pedantismo,
transparece a marca da sólida formação acadêmica de que é portador. Daí a
propriedade da apreciação: "A poesia de Paulo de Tarso foi
caracterizada como sendo intencionalmente textual e oralizante, marcada
pela tentativa de integração do ancestral ao regional e pelo
aproveitamento do falar cotidiano".
- Luís
Carlos Guimarães escreveu sete livros, entre os quais podem ser citados:
"O Aprendiz e a canção" (1961), "O sal da palavra" (1961) e o último,
"O fruto maduro", quando segundo Hildeberto Barbosa Filho, "como que se
refaz e se repensa no âmbito mesmo da sua particular textualidade".
Na "Elegia para Zila Mamede", ele presta uma homenagem à sua amiga:
"Sabias que morrerias no mar
Assim seria, disseste sem medo
em canção e alegia. Acreditar
só acreditamos quando tão cedo
Partiste: a morte - como anunciada-
boiava à deriva no corpo morto
e pela luz da manhã revelada
lançou a âncora no último porto".
A poesia
visual continua seu caminhar, através dos trabalhos de Jota Medeiros,
Anchieta Fernandes, Franklin Capistrano, além de outros.
Ao contrário
do que muita gente imagina, o Rio Grande do Norte teve e tem
ficcionistas, como, por exemplo Antônio José de Melo e Souza, mais
conhecido pelo seu pseudônimo Polycarpo Feitosa. Como intelectual, ele
foi escritor, jornalista, poeta, historiador, contista e romancista. A
sua atuação maior, contudo, foi como contista e romancista. Alguns de
seus livros: "Flor do Sertão" (1928), "Gizinha" (1930) e "Alma Bravia"
(1934).
Eulício
Farias de Lacerda, paraibano, fixou residência em Natal desde 1952.
Escreveu contos e romances: "O Rio da Noite Verde" (Prêmio Câmara
Cascudo, 1972, editado em 1973), "As Filhas do Arco-Íris" (1980) e "Os
desertados da chuva" (1981) são marco de sua carreira de escritor.
Newton
Navarro, além de ser artista plástico de grande talento e poeta,
escreveu um livro de contos, "O Solitário Vento do Verão" (1961), e um
de crônicas, "Do outro lado do rio, entre os morros".
Manoel
Onofre Júnior, contista e autor de diversos livros: "Serra Nova" (1964),
"Chão dos Simples" (1985), "A Primeira Feira de José" (1973). Escreveu,
também, "Estudos Norte-Riograndenses" (1978).
Falando
sobre o autor, disse Edgar Barbosa: "Pessoas, paisagens, costumes, as
coisas que você guardou além do tempo e da distância, saem do espaço
físico para o mundo colorido da verdade: a literatura não ordena mais do
que isso ao verdadeiro escritor. Assim, você vem construindo uma "saga"
na melhor concepção que lhe imprimiram Guimarães Rosa e Mário
Palmério".
Alberto
Pinheiro de Medeiros, "Destaque Especial", no VII Concurso Nacional de
Contos (1995), com a 'Missa no Santuário da Virgem Maria", obra
publicada na antologia "Contos do Brasil Contemporâneo", no vol. XXI.
1995.
O seu último
trabalho premiado foi o conto "Matar o presidente?", publicado na
antologia "Contos do Brasil Contemporâneo", vol. XXIII, 1997. Recebeu,
nesse ano, a láurea "Stella Brasiliense", indicado pelo Conselho
Editorial na revista Brasília. É verbete da Enciclopédia da Literatura
Brasileira Contemporânea", vol. VI, 1995, Rio de Janeiro, organizada
pelo jornalista e escritor Reis de Souza.
José
Melquíades de Marcelo escreveu o romance "Juca Porfiro" (1997) além de
biografias, como a do "Padre Francisco de Brito Guerra, um senador do
Império" (1968). Após curso de especialização em Literatura e
Lingüística, nos Estados Unidos, a Mulher e o Cachorro" (1960). Para
Veríssimo de Melo, o autor é "um homem de cultura clássica, lúcido e de
ágil inteligência".
Iaperi
Araújo, autor do livro "Canções da Terra" (1965), quando reuniu cerca de
dez contos, prestando homenagem aos "homens que lutam na gleba
queimada, para toda uma população, fixa na terra, amando o amargo chão,
que o sol crêma com violência".
Além de
Newton Navarro e Iaperi Araújo, outros nomes surgiram no mundo das artes
plásticas: Dorian Gray Caldas, Tomé Filgueira, Túlio Fernandes, Carlos
José, Socorro Trindade, Maria Márcia de Medeiros Dantas e Márcia Tresse.
No campo da
História, desaparecidos grandes pesquisadores, como Vicente Lemos,
Tavares de Lyra, Câmara Cascudo, Hélio Galvão, continuam produzindo
Tarcísio Medeiros ("Proto História do Rio Grande do Norte" - 1985),
Olavo de Medeiros Filho ("Aconteceu na Capitania do Rio Grande" - 1997),
João Wilson Mendes Melo (Introdução ao Estudo da História"1984), Hélio
Dantas ("José Pacheco Dantas" - 1978), Cláudio Pinto Galvão ("Osvaldo de
Souza, o canto do Nordeste" - 1988), todos do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte.
Um núcleo
sólido de pesquisadores surgiu no Departamento de História da UFRN. A
pesquisa foi incentivada, sobretudo, a partir da fundação de uma
revista, "História UFRN", em 1987, quando o Curso de História comemorava
trinta anos de existência. Faziam parte desse grupo, Denine Monteiro
Takeya ("Um Outro Nordeste, o algodão na economia do Rio Grande do
Norte" - 1985), Sebastião Fernandes Gurgel Filho (Ensaios Literários e
Políticos"- 1988), Zélia Pinheiro de Medeiros (co-autora de "Roteiro
para o Estudo da História do Rio Grande do Norte" - S/data), Geraldo
Batista ("Moleque de Acari" - 1993), Marlene da Silva Mariz ("A
Revolução de 1930 no Rio Grande do Norte, 1930 - 1934" - 1984), Clyde
Smith Júnior ("Trampolim para Vitória" - 1993) etc.
A verdade é
que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nas diversas áreas de
atuação, tem contribuído para o desenvolvimento
sócio-cultural-científico e econômico do Estado. O seu atual reitor é o
professor Ivonildo Rego.
Recentemente
foi inaugurada, em Natal, a Universidade Potiguar, com impressionante
crescimento, desfrutando de grande credibilidade na sociedade
norte-rio-grandense. O seu primeiro e atual reitor é o professor Mizael
Araújo Barreto. No último vestibular, realizado em novembro de 1997,
aprovou cerca de 2.250 candidatos.
Nas artes
cênicas, Jesiel Figueiredo procurou soerguer o teatro, encenando peças
infantis e dramas clássicos, obtendo grande sucesso. Chegou, inclusive, a
fazer funcionar um teatro, no bairro do Alecrim, com o seu nome.
Na atualidade, um dramaturgo ganhou importância: Racine Santos.
O bailarino e
coreógrafo Roosevelte Pimenta, no Ballet Municipal, vem se tornando
conhecido pelo seu talento, promovendo grandes e belos espetáculos, e,
ainda, conseguindo descobrir novos valores.
Por outro
lado, Corpovivo Companhia de Dança se encontra numa ótima fase, trazendo
a professora Kelli Griffin para dar aulas de dança. A Companhia foi
convidada para se apresentar na cidade de Salvador, durante a Oficina
Nacional de Dança Contemporânea.
Entre os
intelectuais, da época contemporânea, podem ser citados: Moacyr de Góes
("Sem paisagem" - 1991), João Medeiros Filho ("82 horas de Subversão" -
1980), Alvamar Furtado de Mendonça ("José da Penha, um romântico da
República - 1970), Francisco das Chagas Pereira ("Eloy de Souza" -
1982), Jayme da Nóbrega Santa Rosa ("Acari - Fundação, História,
Desenvolvimento - 1974), Bianor Medeiros ("Monsenhor Walfredo Gurgel -
um símbolo" - 1976), Lenine Pinto ("Natal, USA" - 1995), Antonio Soares
Filho ("Antídio de Azevedo" = 1978), Edinor Avelino ("Síntese" - 1968),
José Wellington Germano ("Lendo e Aprendendo" - 1992), Nilo Pereira
("Imagens do Ceará-Mirim" - 1969), José Lacerda Felipe ("Aspectos
Naturais do Seridó" - 1978), D. Nivaldo Monte ("Se todos os homens...
conhecessem o dom de Deus" - 1963), Jurandir Navarro ("Antologia do
Padre Monte") etc.
Literatura Rompe as Fronteiras
Em 1964,
Veríssimo de Melo publicava o estudo "Dois Poetas do Nordeste", da
Coleção "Aspectos", do Ministério da Educação e Cultura, abordando o
trabalho de Jorge Fernandes e Ascenço Ferreira.
Manuel
Bandeira ficou entusiasmado com a poesia de Jorge Fernandes a ponto de
dizer o seguinte: "Jorge Fernandes falou em muitos dos seus poemas com
um timbre que é só dele: falou de coisas do Brasil com o sabor que é só
dele; aquele seu livro deve estar na biblioteca de todos os
brasileiros". Outro admirador do poeta potiguar foi Mário de Andrade que
fez o seguinte comentário: "Você é original, é incontestável e é de uma
originalidade natural nada procurada".
Jorge
Fernandes provocou um escândalo em Natal, porque foi o primeiro poeta
potiguar a desprezar rima, cultivando os versos livres.
Em 1979, os
poetas potiguares João Batista de Morais Neto, Franklin Jorge, Vicente
Vitoriano e Carlos Humberto Dantas tiveram seus poemas traduzidos pelo
crítico e tradutor Gilbert Chaudanne e publicados na revista francesa
Prisme.
Outros
intelectuais do Rio Grande do Norte obtiveram êxito nos concursos
literários, promovidos anualmente pelo Grupo Brasília de Comunicação,
tiveram seus trabalhos em antologias e, ainda, alguns viram suas
crônicas publicadas no Anuário do Clube Literário de Brasília.
Entre os
intelectuais que tiveram suas obras incluídas em antologias editadas
pelo Grupo Brasília de Comunicação, podem ser citados: Adalzirene Nunes
de Carvalho (Mossoró), Emídio Lopes de Araújo (Natal), Fábia Maria
Diógenes (Natal).
A poeta Marize Castro teve recentemente o seu poema "Vinho", traduzido por Steven F. White, para a revista The American Voice:
"Se o queres seco para molhar a garganta
eu o quero suave para reinventar
essa chama se o queres branco
para velar a virgem eu o quero
vermelho do porto
para aportar as paixões
que me dividem".
Nivaldete
Ferreira, paraibana, radicada em Natal, teve o conto "O Descanso das
Sílabas" e o livro "psilinha Cosmo de Caramelo" premiados em concurso
promovidos pela União Brasileira de Escritores, com sede no Rio de
Janeiro.
A Prosa Animada de Câmara Cascudo
Segundo
Diógenes da Cunha Lima, Câmara Cascudo foi um "escritor, folclorista,
etnógrafo, antropologista cultural, crítico, sociólogo, orador,
conferencista". Possuindo, "sobretudo, o dom da prosa, animada, viva,
cintilante, com a faculdade rara, feliz, de espalhar bom humor e
irradiar simpatia em torno de si".
Luís da
Câmara Cascudo nasceu no dia 30 de dezembro de 1898, no bairro da
Ribeira, Natal, Filho do coronel Francisco Justino de Oliveira Cascudo e
de dona Ana da Câmara Cascudo.
Estudou no Externato Sagrado Coração de Jesus, colégio feminino, dirigido por duas irmãs, Guilhermina e Maria Emília de Andrade.
Teve dois
professores particulares, Pedro Alexandrino, ensinando Literatura
Clássica, e Francisco Ivo Cavalcanti, lecionando Conhecimentos Gerais.
O pai, discordando da educação feminina que recebia, colocou o filho no Colégio Santo Antônio.
Foi menino
rico, pois, como ele mesmo disse, "meu pai e seus amigos enchiam-me de
presentes, trazidos do sul ou mandados vir da Europa (...) Mas, brincava
sozinho. "Esse fato marcou o menino de tal maneira que, quando adulto,
não esqueceu: "falar só, abstração, timidez - repulsa ao grupo, silêncio
pelo isolamento, intensidade de vida, interior suprindo a distância da
convivência menina. Lia muito, mais do que apreciava os jogos materiais.
Ficava horas e horas imóvel, num caldeirão de braços com o livro na
perna, viajando na imaginação. Deveria ser introvertido, ensimesmado,
caladão. Foi ao contrário"- sou extrovertido, palrador, derramado".
Apesar de
rico, foi um menino triste: "Fui menino magro, pálido, enfermiço.
Cercado de dietas e restrições clínicas. Proibiram-me movimentação na
lúdica infantil".
Ao crescer,
Câmara Cascudo, era um jovem elegante, com roupas confeccionadas pelo
Joca Lira. E fazia compras nas melhores lojas: Paris em Natal, Natal
Modelo e A Chilena. Era um rapaz muito estimado pelas moças natalenses. E
se dizia, inclusive, que ele possuía duas namoradas com o mesmo nome:
Alzira...
Apaixonou-se,
entretanto, por uma moça de dezesseis anos, Dália, filha do
desembargador Teotônio Freire e de dona Sinhá Freire. Com ela se casou,
no dia 21 de abril de 1929. Teve dois filhos: Fernando Luís e Ana Maria
Cascudo.
Menino rico,
rapaz elegante, adulto pobre, sendo obrigado a trabalhar para viver.
Exerceu várias funções públicas: professor, chegando a ser diretor do
Ateneu Norte-Rio-Grandense. Exerceu os cargos de secretário do Tribunal
de Justiça e consultor jurídico do Estado. Em 1951, ingressou na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como professor de Direito
Internacional Público.
Em 1948, recebeu o título de "Historiador da Cidade do Natal", das mãos do prefeito Sylvio Pedroza.
Ingressou no
jornalismo, escrevendo a seção "Bric-à-Brac", no jornal de seu pai, "A
Imprensa". Assinou uma crônica diária, em "A República", que o tornou
famoso:: "Acta Diurna" (foram escritas, ao lado cerca de 3.200
crônicas).
Colaborou em
vários órgãos de imprensa de Recife: Jornal do Comércio, Diário de
Pernambuco, Diário da Manhã, e, também, em outros jornais do país.
Câmara
Cascudo foi, como disse Luiz Gonzaga de Melo, "um dos maiores
divulgadores da ideologia da Ação Integralista Brasileira", chegando,
inclusive, a ser o chefe desse movimento no Rio Grande do Norte. Toda a
divulgação, feita por Cascudo, foi através da imprensa. Ele se tornou um
assíduo colaborador do semanário "A Ofensiva" e, ainda, das revistas
"Anauê" e "Panorama".
Em artigo
publicado na revista "A Ofensiva" (31-05-1934). Câmara Cascudo faz um
questionamento de uma impressionante atualidade: "para a burguesia
liberal, governar é arrecadar impostos. Que importa o sofrimento dos
homens? Que importa o desenvolvimento constante de classe exploradas ao
lado de um pequeno grupo de exploradores? Que importa o acorrentamento
da nação ao capitalismo estrangeiro?
Musicólogo,
como esclarece Gumercindo Saraiva, "não é somente aquele que executa
melodia, compõe peças ou estuda acústica e teoria musical". E, sim,
igualmente aquele "que se dedica em torno da musicologia, abordando
qualquer dos aspectos dessa ciência, o biógrafo, o historiador este sim é
um musicológo".
Gumercinco
Saraiva faz uma afirmação que demonstra todo o prestígio de Câmara
Cascudo em sua cidade natal: "Nada fazia na província em sentido de
cultura sem primeiro ouvi-lo". Desfrutando esse prestígio quando possuía
apenas 39 anos. Gumercindo Saraiva disse ainda o seguinte: "Sua
orientação nos setores artísticos, contribuindo com ensinamentos sábios,
trouxeram novos horizontes para a cultura musical do Estado". Alguns
títulos de crônicas de Cascudo comprovam sua atuação como musicólogo:
"Prelúdio sobre Bach", "Modinhas e modinheiros de Natal", "Da canção
brasileira", "A cantoria sertaneja", etc.
Câmara
Cascudo fundou a Sociedade de Cultura Musical, presidiu o Instituto de
Música do Rio Grande do Norte e dirigiu a revista "Som".
Câmara
Cascudo é considerado ainda hoje como sendo um dos maiores folcloristas
do mundo, o maior do Brasil. A sua obra mais importante, nessa área,
chama-se "Dicionário do Folclore Brasileiro" (1954). Outros livros de
Cascudo sobre o folclore: "Geografia dos Mitos Brasileiros" (Prêmio João
Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras, 1948), "Folclore do Brasil"
(1976), etc.
Renato
Almeida, escrevendo sobre o mundo folclórico de Câmara Cascudo, disse
que "não limita aos livros que tem publicado, numa imensa bibliografia,
todo o seu cabedal de conhecimentos. Tem a arte difícil de conversar e
ouvi-lo é um encanto continuado. A ele podemos aplicar em tudo quanto se
refere ao folclore, aquele dístico do já desaparecido jornal
cinematográfico Pathé - tudo vê, tudo sabe, tudo informa".
Como
historiador, Cascudo escreveu uma obra definitiva, "História do Rio
Grande do Norte" (1995) e, ainda, o livro que até o presente não foi
suplantado: "História da Cidade do Natal" (1947).
No campo da
etnografia, escreveu um livro completo: "Jangada" (1957). Outros livros:
"Nomes da Terra" (1968), "História da Alimentação no Brasil" (3 vols-
Iº vol. (1967), "Rede de Dormir" (1959), "O Tempo e Eu" (1968) etc.
Escreveu, ao todo, 150 livros.
Recebeu
diversas condecorações: "Comendador da Ordem de Cristo" (Portugal),
"Comendador da Ordem dos Cisneiros" (Espanha), "Comendador da Ordem de
São Gregório" (Santa Sé), "Oficial da Ordem da Coroa" (Itália), "Medalha
Nina Rodrigues" (S. Paulo), "Medalha da Campanha do Atlântico Sul"
(Aeronáutica) etc.
Distinções
recebidas: "Prêmio Nacional de Cultura" (1970), concedido pela Fundação
Cultural do Distrito Federal; "Troféu Juca Pato", dado pela União
Brasileira de Escritores (1976); "Prêmio Henning Albert Boilesen"
(1973); "Doutor Honoris Causa", da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, etc.
Câmara
Cascudo pertenceu a diversas instituições culturais: Academia Nacional
de Filosofia, Sociedade Brasileira de Antropologia e Enologia, Sociedade
de Folk-lore do México, Sociedade de Geografia de Lisboa, Societé des
Americanistas de Paris, entre outras.
Luís da Câmara Cascudo morreu em Natal, no dia 30 de julho de 1986.
Sabedoria e Arte Conservadas Pelo Povo
Segundo
Cascudo, "esse nome FOLK-LORE foi criado por um arqueólogo inglês,
William John Thoms (1803-1885), propondo a denominação num artigo com
esse título, publicado na revista Rhe Athenaeum, de Londres, a 22 de
agosto de 1846, com o pseudônimo de Ambrose Mertor". Folk-Lore seria "the lore of the people", a sabedoria do povo. Tornou-se universal e comum.
Mas o que vem a ser, na realidade, folclore?
É o próprio
Cascudo quem responde: "Todos os países do mundo, raça, grupos humanos,
famílias, classes, profissionais, possuem um patrimônio de tradições que
se transmite oralmente e é defendido e conservado pelo costume. Esse
patrimônio é milenar e contemporâneo. Cresce com os conhecimentos
diários desde que se integram nos hábitos grupais, domésticos ou
nacionais. Esse patrimônio é o FOLCLORE".
O folclore
potiguar é uma conseqüência de tradições portuguesas, nativas e
africanas. Com o passar do tempo essas tradições se misturaram,
provocando uma danças.
Uma dessas tradições mais antigas é a vaquejada, cuja origem é desconhecida.
Hoje, a
vaquejada se transformou num esporte, praticado pelos filhos dos
fazendeiros, juntamente com seus vaqueiros. É a festa popular, com
distribuição de valiosos prêmios.
A vaquejada
tem por principal objetivo derrubar o touro, puxando o animal pela
cauda. Dois cavaleiros correm, de maneira paralela, um procurar levar o
boi numa determinada direção, o outro tenta derrubá-lo. Quando o
objetivo é alcançado, aplausos. Caso contrário, vaias....
As festas
populares mais conhecidas do Rio Grande do Norte pertencem ao ciclo
junino (Santo Antônio, São João e São Pedro) e aquelas que fazem parte
do ciclo natalino.
Nos festejos de São João, comemorados com mais intensidade, predominam iguarias de milho: canjica, pamonha, milho assado, etc.
Com
fogueiras, fogos, adivinhações, bandeiras de papel, iluminação com
muitas lâmpadas, com destaque para a dança chamada quadrilha. Essa
festa, antigamente, era realizada nas fazendas. Atualmente, a quadrilha
foi transportada para a cidade, quando se realizam os "arraiás" em ruas
interditadas especialmente para os festejos juninos.
Campina
Grande, na Paraíba, se transformou num grande centro de festas juninas
do Nordeste, atraindo milhares de turistas, inclusive, potiguares.
Do ciclo
natalino, se destaca uma festa bem tradicional que durante os anos vinte
monopolizava as atenções da cidade do Natal, como mostra o testemunho
de João de Amorim Guimarães: a festa dos Santos Reis.
Narra o
poeta e cronista: "Desde a tarde da véspera começava a chegar gente.
Iniciavam-se os "terços", respondidos por todos e repetidos a noite
inteira (...) Na hora da missa às nove horas da manhã, a praia estava
apinhada de devotos, ricos e pobres, pretos e brancos, abstêmios e
bêbados.
"Depois da
missa a festa continuava. Orquestra sem conta, tocando em bailes
improvisados; cantores anônimos deliciando o povo, acompanhados de
violões dengosos, sentimentalizando, cantando, chorando, nos sons
deliciosos do instrumento que soube sempre seduzir o coração e almal...
"Ali
almoçava-se, bebia-se, deliciava-se o espírito e o coração, o dia todo,
tudo dentro do respeito e da consideração recíproca, de um povo feliz,
que se compreendia e se estimava...".
Pertencente
ainda ao ciclo natalino existem alguns folguedos populares. Um dos mais
conhecidos é o Boi Calemba (Bumba meu Boi), que se exibe no período que
vai de novembro até o início de janeiro.
As primeiras exibições datam do século XVIII.
Segundo
Deífilo Gurgel, o Boi Calemba se diferencia dos outros brasileiros e não
tem enredo, por ter se descaracterizado, "limitando-se o brinquedo
hoje, pelo menos em Natal e em São Gonçalo, quase só as danças e
cantigas".
Do elenco se
destaca o Mestre que, quase sempre, é o dono do espetáculo. De;ífilo
Gurgel conta que "os antigos Mestres de Boi Calembra de Ceará-Mirim e
São José de Mipibu vinham a Natal contratar seus espetáculos empunhando
uma espada desembainhada", porque a espada simbolizava o poder.
Outro
personagens: os Galantes são em número de quatro a oito. As duas damas
são, na realidade, dois meninos vestidos de mulher. Os mascarados
possuem os seguintes nomes: Mateus, Birico e Catirina.
Entre as figuras, podem ser citadas: Burrinha, Bode, Cheque, Gigante e sua mulher Dra. Maria Zidora da Conceição Pia.
Como disse
Deífilo Gurgel, "O Boi é a figura central do folguedo. É o último que se
apresenta. Depois que ele sai de cena, cantam-se as despedidas".
Já o
Pastoril tem por objetivo louvar o menino Jesus, representando a visita
que os pastores fizeram ao estábulo de Belém. É formado por várias
jornadas, com dois grupos de pastoras: o cordão azul e o cordão
vermelho, ambos possuem os seguintes personagens: Diana Mestra,
Contramestra, Cigana, etc.
Antigamente, o Pastoril era representado diante de um presépio, com imagens de santos.
Renato
Almeida, citado por Câmara Cascudo, diz o seguinte: "O que tem maior
significado no pastoril é constituírem as pastoras o elemento básico na
função coro, tomado como personagem. Ele é que tem o papel dramático".
O Fandango
não existiu em Portugal, porém, as músicas receberam influência
européia, cujos temas, como diz Câmara Cascudo, foram organizados
"anonimamente no Brasil". Consta de vinte e quatro jornadas. Os
personagens vestem "fardas" da marinha. É a história da "Náu
Catarineta", justificando, assim, a presença de um barco. Alguns
personagens do elenco: Capitão, Piloto, Imediato, Médico, etc.
A Chegança,
que em Portugal era dança, ao chegar no Brasil se transformou em um
auto. Como disse Câmara Cascudo, "a chegança é representada com cenas
marítimas, culminando pela abordagem dos mouros, que são vencidos e
batizados".
Em 1745, a
Chegança foi proibida por D. João V, em Portugal, por ser considerado
indecente. Segundo Câmara Cascudo, essa dança não tem nenhuma relação
com o auto brasileiro que "é dividido em partes e não há acompanhamento
musical ao canto que decorre ritmado pelos tambores, caixas-de-guerra,
em rufos incessantes".
Os Congos ou
Congadas, pelo nome, denunciam influência africana. No enredo, lutas de
africanos, buscando sua autonomia contra os portugueses. Não foi,
contudo, importado da África. Surgiu no Brasil, invenção dos escravos
negros. Principais personagens: Rei Cariongo, Príncipe Sueno,
Secretário-Sala, Rainha Jinga e o Embaixador.
Encontram-se,
na atualidade, em decadência. Segundo Tarcísio Medeiros, "em Caicó e
Jardim do Seridó, entretanto, conservam, por ocasião das festas à Nossa
Senhora do Rosário".
Os
Caboclinhos se apresentam durante o carnaval. Não chega a ser um auto.
Os seus integrantes fazem, apenas, coreografia, fantasiados de nativos.
Como afirma Tarcísio Medeiros, eles "desfilam pelas ruas ao som do
batuque dos seus tambores, gaitas e chocalhos, dançando em cordões que
evoluem de acordo com as cenas representadas pelo caçador ferido,
manifestações de feitiçaria do Pajé e o culto dos deus Tupan, carregado
num andor, tudo sob as ordens do Cacique, que imprime sua vontade por
meio do toque de um búzio".
Bambelô é
uma dança, com o grupo formando um círculo, e no interior da "roda",
dançam um ou dois dançarinos. É, ainda, Tarcísio Medeiros, quem diz que o
"cantar", geralmente, é improvisado; o refrão ou segue a estrofe ou se
intercala nela. Poeticamente, apenas, o refrão é fixo, constituindo o
caracterizado do coco".
Em Alagoas a dança é conhecida pelo nome de "Coco".
Em Natal, duas sociedades continuam dançando o Bambelô: Araruna e Asa Branca.
Deífilo Gurgel Turismo e Folclore
Após o
falecimento de Luís da Câmara Cascudo, um homem continua pesquisando o
folclore do Rio Grande do Norte: "Deífilo Gurgel. Desde muito tempo que o
professor Deífilio Gurgel vem publicando livros sobre as tradições
populares do Estado.
Recentemente
terminou uma viagem que durou um ano, depois de ter percorrido 1.500
km, com o objetivo de publicar um livro, com 240 páginas, com o apoio do
Programa Municipal de Financiamento à Cultura, e terá o seguinte
título: "Introdução ao Estudo do Folclore". Na opinião do autor, o livro
será uma "antologia ou mini-enciclopédia do folclore potiguar".
Deífilo
Gurgel lamenta o desinteresse da população pelo folclore. Ele, porém,
não desiste. Sonha em construir uma vila, com o nome de Chico Santeiro,
para promover "um intercâmbio entre o folclore e turismo, na esteira do
potencial de Natal em ambas as áreas".
ECONOMIA E HISTÓRIA
Dois Séculos
Século XIX: Novas Atividades Produtivas
No século
XIX, além da predominância da criação de gado, houve também a expansão
das culturas do algodão e da cana-de-açúcar e, ainda, cresceram as
atividades extrativas, sal, marinho e cera de carnaúba.
Na segunda metade desse século, a criação de gado foi prejudicada por duas secas: a de 1844/45 e 1877/79.
A
cana-de-açúcar passou a ser a principal atividade econômica, chegando a
produzir, em 1860, cerca de 4.176.570 quilos. Depois, entretanto,
começou a decadência.
A indústria
salineira, que se deu bem no princípio do século. pouco depois entrou em
declínio, porém, posteriormente, conseguiu uma notável recuperação, nas
regiões de Mossoró, Macau e Areia Branca.
No final do século XIX, outro produto atingiu um grande desenvolvimento: a cera de carnaúba.
A indústria
têxtil apresentou, desde o começo, 1870, um lento desenvolvimento,
graças a uma dupla concorrência : a da indústria têxtil do Sudeste e a
do Estado de Pernambuco. Denise Rakeya aponta outro fator, ou seja, "a
estrutura do mercado consumidor. Com exceção daquela parte da população
localizada nos núcleos urbanos, a maior parte não poderia, de fato,
constituir esse mercado".
A indústria
têxtil vai se configurar como uma realidade a partir de 1877, quando "o
presidente da província contratou com Amaro Barreto de Albuquerque
Maranhão a instalação de uma fábrica de fios e de tecidos em Natal, e a
inauguração ocorreu no ano de 1888. Em 1904, passou a funcionar outro
estabelecimento industrial, a Fábrica de Óleos e Farelos de Algodão",
já, portanto, no século XX.
Dois Séculos
Avanços e Recuos no Século XX
Devido à
importância do algodão, o governo criou o Serviço Estadual do Algodão e
pouco depois (1927), o Serviço de Classificação do Algodão.
A
Inspertoria Federal de Obras Contra as Secas, criada em 1909, em
parceria com o governo estadual, construiu "várias estradas no RN -
entre as quais se destacava a que ligava Natal ao Seridó - que
posteriormente viriam completar o quando de integração de Natal com as
zonas algodoeiras do Estado", afirmam Marconi Gomes da Silva, Márcia
Maria Bezerra e Geraldo Gurgel de Azevedo.
A baixa
qualidade do algodão potiguar, em algumas regiões, foi combatida pelo
governo através de estações experimentais e de campos de demonstração,
visando uma melhor participação no comércio internacional. Como
resultado, a cotonicultura atingiu uma posição hegemônica no começo do
século XX. Com a concorrência dos paulistas, a situação começou a mudar.
Em 1940, a produção paulista atingiu praticamente o triplo da produção
nacional.
A exportação
do sal marinho, contudo, cresceu muito. De 7.115 toneladas, nos anos de
1851/55, pulou para cerca de 92.902 toneladas no período 1905/1909. Com
destaque para Macau e Areia Branca.
O mesmo não
ocorreu com a indústria açucareira. A explicação é muito simples:
enquanto a indústria salineira melhorou sua tecnologia de produção, a do
açúcar permaneceu praticamente com os velhos bangüês. A modernização
dessa indústria foi muito lenta. Em 1942, o Rio Grande do Norte contava
apenas com três usinas!
O rebanho
potiguar, durante os períodos de 1950/54 e 1975/79, cresceu 265%! Desse
rebanho, a criação bovina aumentou de tal maneira que suplantou, em
muito, as criações se suínos, caprinos e ovinos, como demonstra
Dominique Simone Colombert.
No período compreendido entre 1950 a 1970, entretanto, houve, nas fazendas com menos de cem hectares, uma diminuição do rebanho.
Petróleo e Luta por Uma Refinaria
Um fator
importante na economia atual do Rio Grande do Norte é o petróleo,
responsável por uma posição de destaque dentro do País. Por essa razão,
as autoridades estaduais, unidas a determinados setores, lançaram uma
campanha pela construção de uma refinaria de petróleo no Estado, criando
o "Movimento S. O. S. Refinaria no Rio Grande do Norte".
A existência
do petróleo foi confirmada em 1974, com a abertura do poço pioneiro.
Apesar da importância da Bacia Potiguar, "o Rio Grande do Norte, na sua
condição de exportador de energia primária, é duplamente penalizado, na
medida em que se restringe a oportunidade de potencializar o seu
desenvolvimento, via verticalização industrial da sua produção mineral
e, ao mesmo tempo, vê reduzidas as transferências, constitucionais de
recursos da União, por ter sua renda per capita aumentada pela agregação
do valor do petróleo extraído do seu sub-solo".
"Adicionalmente,
por força de um dispositivo constitucional que isenta o petróleo da
cobrança do ICMS nas operações de transferência interestadual, o Rio
Grande do Norte se vê financiando o desenvolvimento de Estados ricos e
industrializados, na medida em que deixa de arrecadar cerca de US$ 65
milhões em impostos, por ano, valor que deve entrar como uma variável de
custo, favorável ao RN, no estudo de viabilidade ora em execução pela
Petrobrás" (Movimento SOS Refinaria no Rio Grande do Norte).
A campanha, infelizmente, não obteve nenhum resultado.
A Zona Homogênia Mossoroense é apontada pelos técnicos, como sendo uma região privilegiada para se instalar uma refinaria.
O
investimento da Petrobrás para o Rio Grande do Norte, em 1996, incluindo
impostos, constou de aproximadamente 500 milhões de dólares.
O Rio Grande
do Norte é o maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo
no mar. Produção total diária de 100 mil barris. É o segundo produtor de
gás natural do Nordeste, com 75 milhões de metros cúbicos/ano.
A Potencialidade do Turismo
Outro setor
importante na atualidade é o turismo. Apesar da construção de uma rede
de hotéis, inclusive dois de cinco estrelas, na Via Costeira, o turismo
sofre por falta de uma infra-estrutura. Natal ainda não se preparou
adequadamente para receber um grande número de visitantes. Muitos
turistas deixam de conhecer belos recantos, havendo uma concentração nos
passeios de bugres nas duas de Jenipabu e no Carnatal, no final do ano.
Surgem, entretanto, grande esperanças, num futuro próximo.
A Secretaria
Estadual de Turismo, no início de 1997, organizou uma grande festa que
abriu a VI BNTM (Brazil National Tourism Mart), na Vila Folia, com a
presença do governador Garibaldi Alves Filho e mais de dois mil
participantes.
No Pavilhão
Parque das Dunas do Centro de Convenções foram armados os estantes do
evento. Na oportunidade, foi apresentada a maquete da ampliação do
aeroporto Augusto Severo, com mudanças que vão transformá-lo num dos
mais modernos do País. Também há planos para a construção de um segundo
aeroporto na região da Grande Natal.
Projeto Hídrico e Pólo Industrial
O governo Garibaldi Alves Filho desenvolveu um projeto hídrico muito importante para a economia do Rio Grande do Norte.
O objetivo é
interligar as principais bacias, numa garantia de distribuição de água
de boa qualidade para consumo da população e, ainda, que seja a garantia
de irrigação para uma vasta região do território potiguar.
O canal do
Pataxó promove a transposição das águas da Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves para o rio Pataxó, significando 2.500 hectares de área
irrigada, etapa já concluída no final de 1955.
A barragem
Gargalheiras ampliará a sua capacidade de armazenamento de água, sendo
esse acontecimento de grande importância para uma região que está
incluída na área mais seca do Nordeste.
Com a
construção da adutora do sertão Cabugi, as águas do reservatório Armando
Ribeiro Gonçalves vão abastecer oito cidades (Angicos, Fernando
Pedrosa, Lages, Pedro Avelino, Pedra Preta, Jardim de Angicos, Caiçara
do Rio dos Ventos, Riachuelo) e, ainda, 21 comunidades rurais.
Serão,
também, aproveitadas as águas da Lagoa do Bonfim, sendo atendidos outros
municípios: Monte Alegre, Lagoa de Pedra, Lagoa Salgada, até Santa
Cruz.
O sistema
conta ainda com as seguintes adutoras: a de Mossoró, Serra do Mel,
Jardim do Seridó, Serra de Sant’ana e Meio Oeste. O programa engloba 670
quilômetros de adutoras e é o maior do Brasil.
Outro grande
projeto, que trará grandes investimentos produtivos para o Estado, é o
"Pologás-sal", uma das grandes bandeiras levantadas pelo governador
Garibaldi Alves, que inclusive já assinou um protocolo para a sua
instalação. A obra conta com apoio do governo federal. Segundo o
ministro das Minas e Energia, o "Pologás-sal é irreversível".
Comércio Exterior e Outros Números
O comércio
exterior do Rio Grande do Norte apresentou, um crescimento de 1,84% no
primeiro semestre de 1997, em relação ao mesmo período do ano anterior.
As
exportações somaram US$ 45,2 milhões, sendo o maior índice dos dez
últimos anos, liderando o setor de frutas tropicais, com 32,6% de todo o
produto comercializado para o exterior.
O PIB per
capita vem evoluindo positivamente no Rio Grande do Norte, como
demonstram os números: em 1980, era de 1.246,06, o Nordeste tinha
1.649,32 e o Brasil 3.553,07. Em 1996, o Rio Grande do Norte apresentava
3.013.60, o Nordeste 2.578 e o Brasil 4.752,08.
Com uma produção de 4 milhões de toneladas/ano, o Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal marinho do País.
No setor de gás natural, a posição do Estado é muito boa: é o segundo, com uma produção de 75 milhões de metros cúbicos.
Na agricultura, o Rio Grande do Norte ocupa o segundo lugar, como pólo de fruticultura irrigada do Nordeste.
Os maiores
importadores dos produtos potiguares, no primeiro semestre de 1997 foram
os seguintes: Estados Unidos (US$ 13.4 milhões), Nigéria (US$ 5,2
milhões), Reino Unido (US$ 4,8 milhões).
História do RN - Uma Síntese
Da Pré-História ao Final do 2º Milênio
O homem primitivo, nascido em terras potiguares antes da vinda dos europeus, é bem mais antigo do que se imaginava.
Antes de
chegar ao Nordeste, teria vindo possivelmente da Ásia, através do
Estreito de Bering ou por outras vias. O fato é que, com o passar do
tempo, atingiu as terras que formariam, no futuro, o Rio Grande do
Norte.
Esses povos
desenvolveram culturas, procurando se comunicar, inventaram um tipo de
escrita, conhecida pelo nome de inscrição rupestre, uma linguagem
formada por traços, círculos, pontos e até pinturas.
A coloniza
européia, no Nordeste brasileiro, foi conseqüência da expansão do
imperialismo europeu. Nesta região, tentaram se fixar franceses,
espanhóis, holandês e portugueses.
Filipe II,
da Espanha, ao anexar Portugal e suas colônias, procurou de imediato se
apossar de todo o Nordeste e da região Norte. Mandou expulsar os
franceses da Capitania do Rio Grande, construir uma fortaleza (a
Fortaleza da Barra do Rio Grande ou, como é mais conhecida, Fortaleza
dos Reis Magos) e fundar uma cidade.
A expedição
armada, comandada por Mascarenhas Homem, fracassou, porém, Jerônimo de
Albuquerque, os jesuítas e os líderes nativos conseguiram, através de
navegações, a pacificação da região.
Expulsos os
franceses, construída a fortaleza no dia 25 de dezembro de 1599, João
Rodrigues Colaço fundou Natal, que deveria funcionar como núcleo inicial
de colonização se desenrolasse de maneira lenta.
Os
holandeses tentaram conquistar o Nordeste, primeiro, procurando se
apossar da capital da colônia (1624/1625). Sonhavam com 8.000 florins
que a Bahia arrecadava anualmente. E, a partir daquela capitania,
conquistar todo o País. Foi, contudo, um sonho que se desmoronou, por
sinal bem rápido.
O fracasso
foi total, mas a idéia de tomar o Brasil da Espanha continuava, pois não
admitiam a derrota que sofreram para seu grande rival... E fizeram uma
segunda tentativa. Escolheram, agora, a terra do açúcar, Pernambuco!
Conseguem o seu objetivo, se apossando de Pernambuco e, ainda, avançam, conquistando todo o Nordeste.
O conde de
Nassau, figura invulgar, procurou não apenas explorar as terras sob seu
domínio, como desejava a Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, e
sim agir como se fosse um "mecenas". Incentivou a arte, a ciência e a
cultura. Mostrou-se, ao mesmo tempo, hábil político e bom administrador.
O Rio Grande
possuía um vasto rebanho de gado bovino, necessário para abastecer os
invasores. Era urgente, portanto, a sua conquista, após muita pesquisa -
porque a fortaleza da Barra do Rio Grande (Reis Magos) aparecia como um
grande obstáculo. Mas, ao contrário, a tomada da fortaleza foi bem mais
fácil do que eles esperavam. Aqui, os holandeses agiram de uma maneira
bem diferente: nenhuma preocupação pela arte, ciência, cultura. A
capitania foi transformada numa fornecedora de carne bovina para
Pernambuco.
No Rio
Grande, o conflito se agravou por causa do fanatismo religioso,
provocando dois grandes massacres: o de Cunhaú e o de Uruaçu.
Apesar da
violência, a tradição indicava os holandeses como sendo os autores de
obras importantes, como a fortaleza dos Reis Magos ou, então, a ponte
(antiga) de Igapó, construída muito depois de sua expulsão... Existe
apenas uma explicação para tudo isso: uma resistência, pelo menos a
nível de subconsciente, contra a colonização lusitana.
O último ato
dos batavos, no Rio Grande, foi mais violência. Vencidos, obrigados a
deixar a capitania, lançaram fogo, destruindo o que podiam, inclusive,
documentos.
Após os
flamengos, a capitania conheceu outro momento de grande violência: "A
Guerra dos Bárbaros". Provocada pelos brancos, que desejavam tomar a
terra dos seus legítimos donos, ou seja, dos nativos. A violência gerou
violência. Bernardo Vieira de Melo, compreendendo essa verdade, agiu com
competência e justiça, conseguindo aplicar a região sob o seu comando.
Essas duas
guerras, contra os holandeses e dos "Bárbaros", foram responsáveis pelo
atraso, ou seja, impediram o desenvolvimento natural do Rio Grande do
Norte.
No século XVIII, a economia tinha por base apenas a agricultura e a indústria pastoril.
A Revolução
de 1817, em Recife, teve reflexos no Estado. José Inácio Borges, que
governava a capitania, procurou reagir, sendo preso por André de
Albuquerque. O movimento não contou com o apoio popular. A reação
monarquista veio logo a seguir, triunfando. André de Albuquerque,
ferido, foi levado preso para a fortaleza, onde faleceu.
A
independência do Brasil foi outro acontecimento que não conseguiu
entusiasmar o povo. Houve apenas uma festa para comemorar a emancipação
política do País, no dia 22 de janeiro de 1823.
A
Confederação do Equador, no Rio Grande do Norte, se caracterizou pela
atuação de Tomás de Araújo Pereira, para evitar que ocorressem conflitos
armados no Estado. Sofreu, chegando a se humilhar, porém, conseguiu o
seu intento.
A escravidão representava, no final do século XIX, o atraso, identificada com a decadente monarquia.
O
abolicionismo, ao contrário, representava o novo e para muitos fazia
parte dos ideais republicanos. Foi, contudo, a princesa Isabel quem
decretou o fim da escravidão, no dia 13 de maio de 1888.
A grande
falha do abolicionismo, no Brasil, foi a de não ter lutado pela
integração do negro na sociedade, após a sua libertação. Como resultado,
os africanos e seus descendentes passaram por grande dificuldades.
Alguns se deslocaram para regiões distantes das cidades, formando
comunidades fechadas, como em Capoeira dos Negros.
A libertação
dos escravos, no Rio Grande do Norte, foi defendida por grupos de
jovens e intelectuais, que fundavam, em seus municípios, associações que
batalhavam pela emancipação do negro.
Mossoró foi a primeira cidade que libertou seus escravos, no dia 30 de setembro de 1883.
A
Proclamação da República, a exemplo de outros acontecimentos, não
despertou grande entusiasmo no povo potiguar. Teve caráter meramente
adesista.
No novo
regime, predominavam os interesses da oligarquia Albuquerque Maranhão.
Contra ela, se insurgiu José da Penha Alves de Souza, promovendo a
primeira campanha popular do Rio Grande do Norte. Patrocinou a
candidatura do tenente Leônidas Hermes da Fonseca, que não conhecia e
nem desejava governar o Estado... Abandonado pelo seu candidato, José da
Penha voltou para o Ceará, onde chegou a ser eleito deputado estadual.
Quando o
eixo econômico passou do litoral (açúcar-sal) para o sertão
(algodão-pecuária), apareceu uma nova oligarquia, liderada por José
Augusto Bezerra de Medeiros, cujo domínio terminou com a Revolução de
1930.
O regime
político, apodrecido pelas fraudes, corrupção, provocou o
descontentamento de grupos militares e civis. Dentro desse contexto,
Luís Carlos Prestes e Miguel Costa percorreram o País com uma tropa, a
"Coluna Prestes", protestando contra o autoritarismo do presidente Artur
Bernardes. A "Coluna Prestes" entrou no Rio Grande do Norte pela Zona
Oeste, travando combates com a polícia, durante o governo de José
Augusto Bezerra de Medeiros.
A ‘Questão
de Grossos" começou no século XVIII, quando Rio Grande do Norte e Ceará
não tinham definido suas fronteiras. O Ceará precisava do sal potiguar
para poder fabricar suas carnes de sol. A Câmara de Aracati (Ceará)
pretendeu além das de seu Estado, penetrando em terras do Rio Grande do
Norte. Era a chamada "Questão de Grossos".
Em 1901, a
Assembléia Estadual do Ceará elevou Grossos à condição de vila,
incluindo no seu território uma vasta área do Rio Grande do Norte.
Alberto Maranhão, governador do RN, protestou. Era iminente um conflito
armado entre os dois Estados. Para evitar o agravamento da crise, a
controvérsia foi levada para uma decisão, através do arbitramento. Na
primeira fase, o resultado foi favorável ao Ceará. Pedro Velho, então,
convidou Rui Barbosa para defender a causa potiguar. Essa defesa também
contou com a participação de Augusto Tavares de Lyra. Como resultado, o
jurista Augusto Petronio, através de três acórdãos, deu ganho de causa
em definitivo ao Rio Grande do Norte, em 1920. A "Questão de Grossos"
estava encerrada.
A República
foi ingrata com o sertão, que continuou abandonado, isolado dos grandes
centros urbanos, com a maioria de sua população na ignorância e na
miséria.
No sertão
dos coronéis, os mais humildes tinham três opções: viver eternamente
agregado às famílias dos coronéis; integrar-se ao cangaço, ou penetrar
no mundo místico, cujo fiéis terminavam enfrentando os coronéis e se
transformavam em grupos de "fanáticos".
Lampião
levou pânico ao interior nordestino, chegando a invadir Mossoró, sendo
derrotado pelo povo daquela cidade, sob a liderança do coronel Rodolfo
Fernandes.
O cangaceiro, no sertão, era um misto de bandido e de justiceiro, único a fazer frente ao absolutismo dos coronéis.
Jesuíno Brilhante é o representante potiguar típico do cangaço.
Os grandes místicos do Nordeste foram: padre Cícero e Antônio Conselheiro.
Os fanáticos
da Serra de João do Vale, liderados por Joaquim Ramalho e Sabino José
de Oliveira, foram os místicos mais conhecidos da história do Rio Grande
do Norte. O fim deles, porém, foi melancólico, derrotados pelo tenente
Francisco de Oliveira Cascudo.
A Revolução
de 30 irrompeu no Brasil para modificar a estrutura política existente
no País. Governava o Estado, Juvenal Lamartine, muito dependente do
poder central, e teve, segundo seus adversários, uma preocupação básica:
perseguir seus inimigos... Com a Revolução de 30, perdeu o governo,
caindo sem resistir.
A Revolução
de 30, no Rio Grande do Norte, significa, sobretudo, a atuação de João
Café Filho. Foi um lutador, procurando isntalar no seu Estado os ideais
revolucionários. Encontrando sempre a resistência das oligarquias,
lideradas por José Augusto de Medeiros.
A Revolução
de 30 enfrentou momentos difíceis, por causa da oposição das classes
conservadoras, representadas pelo Partido Popular. O governo central
orientou Mário Câmara para fazer uma composição de forças, com o Partido
Popular. O interventor, entretanto, não conseguiu efetivar tal aliança.
Em vez de pacificação, cresceu o clima de agitação, fazendo com que o
final da administração se transformasse no período de maior violência
ocorrido até aquele momento.
A classe operária, contudo, começou a se organizar, se unindo em torno dos sindicatos.
Cinco anos
depois de ter ocorrido a Revolução de 30, surgiu outro movimento armado,
a Intentona Comunista. Gerado, em parte, pelo descontentamento
provocado pelo governo de Mário Câmara, e que foi liderada por um grupo
de comunistas. Vitoriosa a rebelião, uma grande agitação dominou Natal,
com estabelecimentos comerciais assaltados e, ainda, com assassinatos.
A
resistência maior foi feita pela polícia, sob o comando do major Luís
Júlio e do coronel Pinto Soares. Surgiu um mito, transformado em herói: o
soldado Luiz Gonzaga.
Foi instalado o "Comitê Popular Revolucionário" no dia 25 de novembro de 1935. Circulou o jornal "Liberdade".
Com o
fracasso da Intentona, no Recife e Rio de Janeiro, os rebeldes
abandonaram Natal, seguindo o rumo do Seridó. Na Serra do Doutor houve o
encontro dos fugitivos com forças sertanejas, com a debandada de ambas
as facções... Terminava, assim, a Intertona Comunista. A repressão foi
violenta,
Mas o
destino de Natal não seria, apenas, a de ser palco de violência. A sua
localização geográfica fazia com que a cidade fosse predestinada para
ocupar um lugar de destaque na história da aviação, desde os primórdios,
na época dos hidroaviões, quando grandes aeronautas passaram por Natal:
marquês De Pinedo, Paul Vachet, Jean Mermoz, etc.
O primeiro aeroplano que aterrissou no Estado foi um Breguet, pilotado por Paul Vachet.
Em 1927, o
coronel Luís Tavares Guerreiro indicou a Vachet um local apropriado para
construir um aeroporto, que aeroporto, que servisse de pouso para os
aviões da Lignes Latércoère. Aprovado, nasceu assim o Aeroporto de
Parnamirim. Foi inaugurado por um "Numgesser-e-Coli", pilotado por Dieu
Domé Costes e José le Brix, concluindo, com êxito, o roteiro Saint Louis
do Senegal-Natal.
Graças ao empenho de Juvenal Lamartine, no dia 29 de dezembro de 1928 foi fundado o Aéro Clube.
Em 1º de
janeiro de 1931, o navio italizano "Lazeroto Malocello", comandado pelo
capitão de fragata Carlo Alberto Coraggio, chegava a Natal, trazendo a
Coluna Capitolina, ofertada pelo chefe do governo italiano Benito
Mussolini, para comemorar o "raid" Roma-Natal, feito pelos aviadores Del
Prete e Ferrarin.
Cinco dias
depois, Natal recebeu a visita da esquadrilha da Força Aérea italiana,
comandada pelo general Balbo. Governava o Rio Grande do Norte, Irineu
Joffily.
Natal iria
ficar mais famosa ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Os
norte-americanos, nesse período, construíram uma megabase, que
desempenhou um papel tão significativo no grande conflito que se tornou
conhecida pelo nome de "O Trampolim da Vitória".
Em Natal,
ocorreu a reunião entre o presidente do Brasil, Getúlio Vargas e o
presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, na chamada
"Conferência de Natal" (28-1-1943).
A cidade
cresceu, multiplicou sua população, foi visitada por personalidades
ilustres de diversos países, e, sobretudo com o progresso, a população
mudou de hábitos.
Para uma
maior integração dos militares americanos com os natalenses, foram
realizados, inúmeros bailes. Como conseqüência, houve uma invasão de
ritmos estrangeiros: rumba, conga e boleros.
Natal, assim, perdeu definitivamente seu jeito de cidade provinciana.
O populismo
se impôs, no Rio Grande do Norte, durante os anos 60, através de dois
grandes líderes políticos: Aluízio Alves e Djalma Maranhão. O primeiro,
oriundo do Partido Popular, se apresentava como sendo do Centro,
iniciando o processo de modernização do Estado. O segundo nacionalista
radical, homem de esquerda.
O golpe
militar de 64 se caracterizou, no Rio Grande do Norte, apenas pelas
perseguições a jovens e intelectuais da terra, como Moacyr de Góes,
Djalma Maranhão, Mailde Pintou e outros. Luís Maranhão, ao que parece,
foi morto pelas forças da repressão. Djalma Maranhão, exilado, com
saudade do seu povo, morreu no Uruguai. Aluízio Alves, Garibaldi Alves e
Agnelo Alves tiveram seus direitos políticos cassados pelo AI5
Na história educacional do Estado, um colégio se destacou: Ateneu, que se transformou num centro cultural de grande importância.
A "Campanha
de Pé no Chão Também se Aprende a Ler" provocou uma verdadeira revolução
no processo educacional do Rio Grande do Norte, nos anos 60, liderada
por Djalma Maranhão, Moacyr de Góes e Margarida de Jesus Cortez.
O ensino
"normal" passou por uma série de vicissitudes até o funcionamento do
Instituto Presidente Kennedy. Inaugurado, por sua vez, com grandes
festas, no governo de Aluízio Alves. Recentemente, foi redimensionado,
ministrando o curso de 3º grau, visando a formação de um novo professor,
cotando com a assessoria do professor Michel Brault.
A cultura no
Rio Grande do Norte apresenta páginas brilhantes. Desde a fundação do
seu primeiro jornal, "O Natalense", em 1832, pelo padre Francisco de
Brito Guerra, até o presente momento, a imprensa escrita ocupou um lugar
de destaque.
No século XIX apareceu o primeiro romance, "Mistério de um Homem", de Luís Carlos Lins Wanderley.
Nomes femininos que brilharam no século XIX e início do século XX: Isabel Gondim, Auta de Souza e Nísia Floresta.
Ferreira Itajubá é considerado o grande poeta do século XIX. A partir dessa época, surgiram grandes poetas até os dias atuais.
No dia
29-3-1902 foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte. Luís da Câmara Cascudo, no dia 14-11-1936, fundou a Academia
Norte-Rio-Grandense de Letras.
O movimento cultural cresceu muito e jornais se multiplicaram em praticamente todos os municípios do Estado.
Na
atualidade, algumas instituições têm contribuído para o desenvolvimento
cultural do Estado: Fundação José Augusto, "Coleção Mossoroense" e
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O estado
conta, até o presente momento, com duas antologias, reunindo os poetas
do Rio Grande do Norte: a primeira, organizada por Ezequiel Wanderley,
foi publicada em 1922 sob o título "Poetas do Rio Grande do Norte" e a
segunda, escrita por Rômulo Chaves Wanderley, que publicou, em 1965, o
"Panorama da Poesia Norte-Rio-Grandense".
Novas antologias estão sendo preparadas. Uma delas organizada por Constância Lima Duarte, juntamente com a poetisa Diva Cunha.
A economia
do Estado teve um lento caminhar, prejudicada por períodos de longas
estiagens. Teve alguns ciclos: gado, cana-de-açúcar, algodão, sal, etc.
A partir de
1974, com a abertura do poço pioneiro, o petróleo começou a crescer na
economia estadual. Fala-se, agora, no "Polo-gás-sal", que caso venha a
se tornar realidade, trará grandes benefícios para o Rio Grande do
Norte.
O turismo é apontado pelos especialistas como um setor que tende a crescer, pela potencialidade que a terra potiguar possui.
Foi
construída uma rede de hotéis na Via Costeira e recentemente a
Secretaria Estadual de Turismo organizou uma grande festa que abriu a VI
BNTM (Brazil National Tourism Mart). Durante o evento, mais de 2.000
participantes freqüentaram os estandes dos nove Estados, armados no
Pavilhão Parque das Dunas, do Centro de Convenções, em Ponta Negra.
O Rio Grande do Norte se encontra incluído no polígono das secas.
O governo
Garibaldi Alves elegeu a irrigação como uma das metas prioritárias de
sua administração. O seu projeto é interligar as principais bacias, como
uma maneira de levar água de boa qualidade para a população, incluída
nas comunidades atingidas pela seca, com a irrigação de uma vasta área
do território potiguar.
Natal-RN: Síntese histórica e dados geográficos
A Cidade do
Natal, Capital do Estado do Rio Grande do Norte, situa-se na Região
Nordeste do Brasil. Tem uma área de 172 quilômetros quadrados e uma
população estimada de 750 mil habitantes.
Está
localizada abaixo da linha equatorial e a trinta e um metros acima do
nível do mar. É o ponto das Américas mais próximo da África e da
Europa.
Limita-se a
norte e a leste com o Oceano Atlântico e é banhada pelo Rio Potengi; o
que lhe proporciona um clima seco e agradavelmente ensolarado, com
ventos que sopram constantemente do oceano.
A
excepcional posição geográfica de Natal, associado a outros fatores,
torna-a uma das cidades brasileiras mais procuradas pelos turistas.
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Essa
construção em pedras maciças e formato estrelar, eregido em 6 de
janeiro de 1958, é o local exato da fundação da Cidade e o seu mais
importante monumento histórico.
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O gentílico de Natal é natalense e o do Rio Grande do Norte é norte-riograndense ou potiguar.
O nome da Cidade provém da data de sua fundação - oficialmente 25 de dezembro de 1599. Entretanto, esse não é o seu nome original - mas sim, Cidade dos Reis Magos - nome igualmente dado à fortaleza edificada pelos colonizadores portugueses, na Foz do Rio Potengi, para combaterem os invasores holandeses, no final do século XVI.
O nome da Cidade provém da data de sua fundação - oficialmente 25 de dezembro de 1599. Entretanto, esse não é o seu nome original - mas sim, Cidade dos Reis Magos - nome igualmente dado à fortaleza edificada pelos colonizadores portugueses, na Foz do Rio Potengi, para combaterem os invasores holandeses, no final do século XVI.
Em 1630,
haviam apenas trinta casas de taipa em Natal. Sob o domínio holandês -
de 1633 a 1654 -, a cidade recebeu o nome de Nova Amsterdã. Com a
expulsão dos invasores, foi governada por uma sucessão de comandantes
portugueses, até 1822, quando o Brasil obteve sua independência.
A partir das primeiras décadas do século XVIII, teve inicio a expansão da cidade em direção à Ribeira.
Em 1757, já
existiam cento e dezoito casas em Natal; igrejas, cadeia, erário, praça e
pelourinho faziam parte do cenário urbano. Natal media oitocentos e
oitenta metros de comprimento por cento e dez de largura.
No inicio do
século XIX, a população estava em torno de setecentos habitantes. O
bairro da Ribeira iniciava sua vocação comercial. As grandes
transformações sociais, políticas e culturais ocorridas na Colônia com a
instalação da corte portuguesa no Brasil a partir de 1808, repercutiam
na Província.
Natal também
ganhava alguns exemplares arquitetônicos no estilo neoclássico, trazido
pela Missão Artística ao Brasil, alguns dos quais ainda existentes na
Cidade.
De 1822 a
1889, a Província do Rio Grande do Norte foi governada por presidentes.
Desde então, vem tendo governo e legislatura própria.
O século XX
trouxe consigo o progresso decorrente da Revolução Industrial. Natal
antecipou-se ao Movimento Modernista Nacional, com a criação do primeiro
Plano Urbanístico da Cidade.
A Resolução
nº 15 de 30/12/1901, criou a Cidade Nova, compreendendo os bairros do
Tirol e Petrópolis. O plano foi traçado pelo arquiteto Antônio
Polidrelli. A instalação da Comissão das Obras do Porto, em 1902,
impulsionou o povoamento da Ribeira.
Há alguns epítetos conferidos à Cidade, em diferentes momentos históricos, tais como:
· "Trampolim da Vitória"
- Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, devido a sua privilegiada
posição geográfica, Natal foi escolhida pelos militares americanos
para instalação de uma base aérea. Com o desfecho da guerra, a cidade
passou a ser conhecida como o "Trampolim da Vitoria".
Esse fato contribuiu para a evolução urbana de Natal. A cidade cresceu, novos bairros foram criados e largas avenidas foram abertas, seguindo o "Plano de Sistematização para Expansão Urbana de Natal", elaborado pelo arquiteto italiano Giacomo Palumbo, a convite do prefeito Omar O'Grady, em 1929. |
· "Cidade Espacial do Brasil" - por ter sido a primeira cidade brasileira a lançar foguetes, diretamente da Base Espacial de Barreira do Inferno;
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· "Cidade do Sol" - por ser banhada pelos raios solares durante quase todos os dias do ano.
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