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domingo, 21 de fevereiro de 2016

CFO - História do Rio Grande do Norte (Parte 4 de 5) - Tribuna do Norte

Professor Janildo Arantes - desde 16 de agosto de 2009: * História do Rio Grande do Norte (Parte 4 de 5):



* História do Rio Grande do Norte (Parte 4 de 5)

IDEOLOGIAS EM CONFLITO
Regime de Exceção
Elogios e Críticas à Era Vargas

Certos depoimentos daqueles que participaram, direta ou indiretamente, dos episódios que marcaram a Revolução de 1930 no Brasil são marcados pela emoção, pelo grau de simpatia ou de rejeição. Sobretudo à figura do seu principal líder, Getúlio Vargas. Algumas críticas, por outro lado, estão marcadas por um forte conteúdo ideológico.
Os elogios e as críticas confirmaram que a Revolução de 1930 se constituiu num marco da historiografia brasileira. Quando o vendaval de paixões passar - o que parece que já está ocorrendo -, será possível ter uma idéia mais clara do conjunto de suas realizações, sua contribuição maior ou menor para o engrandecimento do País.
Enquanto isso, algumas conclusões, a priori, são definitivas. Como a de Boris Fausto de que "a Revolução de 1930 põe fim à hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil no sistema capitalista (...). No ataque ao predomínio da burguesia cafeeira, revelando traços específicos, que não podem ser reduzidos simplesmente ao protesto das classes médias (...) Vitoriosa a revolução, abre-se uma espécie de vazio do poder, por força do colapso político da burguesia do café e da incapacidade das demais frações de classe para assumi-lo, em caráter exclusivo. O Estado de compromisso é a resposta para esta situação. Na descontinuidade de outubro de 1930, o Brasil começa a trilhar enfim o caminho da maioridade política. Paradoxalmente, na mesma época em que tanto se insistia nos caminhos originais autenticamente brasileiros para a solução dos problemas nacionais, iniciava-se o processo de efetiva constituição sobre a nacionalização do trabalho; salário mínimo; sindicalização", disse Cruz Costa.
Houve, naturalmente, algumas distorções na polícia trabalhista. Mas não se pode negar, por causa disso, o grande valor da legislação trabalhista, considerada, como
todos sabem, "uma das mais avançadas do mundo". Afirmou ainda Cruz Costa que "a legislação trabalhista de Vargas antecipou-se no tempo aos conflitos que iriam dar aos operários a consciência política de seu papel numa sociedade em processo de industrialização".
Vargas pode não ter sido o criador do Estado brasileiro, porém, usou um regime de exceção para consolidar o Estado Nacional brasileiro. Antes de 37, cada Estado praticamente se constituía numa unidade autônoma, com um governo federal muito frágil. São Paulo, por exemplo, tinha sua Força Pública (polícia) um verdadeiro exército que contou, inclusive, "com uma missão instrutora composta de oficiais franceses", informa Cruz Costa.
O lado negra "Era Vargas" foi, sem dúvida, o caráter fascista de sua administração durante o período em que agiu como ditador.
Os Tenentes de Juarez Távora no NE
A propagação do ideário de 1930 chegou ao Nordeste quando o coronel Maurício Cardoso foi nomeado para comandar o 22º BC, sediado na então cidade da Paraíba, capital do Estado do mesmo nome. Como ele vieram três oficiais: Jurandir Mamede, Agildo Barata Ribeiro e Juraci Magaljães. Esses homens eram conhecidos como sendo os "tenentes" de Juarez.
Não é possível uma apreciação do movimento de 1930 no Nordeste sem uma referência a Juarez Távora. Na época, ele estava detido na Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, por determinação da polícia de Washington Luís. Conseguindo, mesmo prisioneiro, entrar em contato com Luís Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista, foi incentivado a fugir para comandar o movimento no Nordeste. Távora fugiu, conseguindo chegar até a Paraíba. A sua fuga foi considerada quase impossível de se realizar, na ocasião.
A Paraíba que depois tornou-se a cidade de João Pessoa, e a capital pernambucana, Recife, se tornaram os centros de divulgação no Nordeste. A primeira, por concentrar um grande contingente militar, e Recife, pela sua importância política e econômica na região nordestina,
A data escolhida para o início da revolução foi 3 de outubro. A hora estabelecida seria 17h30.
Contam Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros que "em Pernambuco, Juarez Távora se atrasou um dia para atacar Recife; mas a população tomou prédios e depósitos de armas, facilitando a ação dos rebeldes, que logo tomaram também a Paraíba. Enviando tropas para dominar a Bahia, sob o comando de Juraci Magalhães, e o Pará, com Landy Salles, Juartez e os "tenentes" em poucos dias controlavam todo o Norte e o Nordeste".
Aliança Liberal e Dias de Pânico em Natal
Juvenal Lamartine governa o Rio Grande do Norte. Além de uma extrema dependência em relação ao poder central, o seu governo se caracterizou pela intolerância política para com os seus adversários. Nesse contexto, João Café Filho fazia oposição. Perseguido, fugiu para a Paraíba. E se integrou ao movimento promovido pela "Aliança Liberal", que defendia a candidatura de Getúlio Vargas para presidente da República e João Pessoa para vice.
Os candidatos da oposição ao governo Washington Luís, Getúlio e João Pessoa, foram derrotados no Rio Grande do Norte. Afirmam os historiadores que a derrota foi causada pelo apoio dado por Juvenal Lamartine ao paulista Júlio Prestes.
Os adeptos da "Aliança Liberal" no Rio Grande do Norte formavam, na realidade, um pequeno grupo que recebeu o apoio do coronel Dinarte Mariz no Seridó.
Juvenal Lamartine, ao tomar conhecimento do início da revolução, abandonou o Estado, na noite de 5 de outubro de 1930.
O maior Luiz Tavares Guerreiro, à frente do 29º BC, partiu da Paraíba e chegou a Natal no dia 6, sem encontrar qualquer tipo de resistência. Natal viveu dias de pânico, assim descritos por Tarcísio Medeiros: "tropas de desocupados, aventureiros, que atemorizaram as famílias natalenses, obrigando os incautos, nos comícios das praças, ajoelhar quando era cantado o hino a João Pessoa: "João Pessoa, João Pessoa, bravo filho do sertão. Toda a pátria espera um dia a sua ressurreição... ' Ai daquele que não obedecesse!".
Para governar o Rio Grande do Norte foi formado um triunvirato composto por Luiz Tavares Guerreiro, capitão Abelardo Torres da Silva e o tenente Júlio Perouse Pontes.
A junta procurou manter a ordem durante o período que governou, de 6 a 12 de outubro de 1930. Após essa data, o Estado passou a ser governado pelos dois civis (o primeiro e o último) e três militares.
O Rio Grande do Norte voltaria a ser governado por interventores após a decretação do Estado Novo, em 1937.
Os Interventores no Rio Grande do Norte
Com a nomeação dos interventores, começou a fase institucional da Revolução de 30 no Rio Grande do Norte.
Marlene Mariz define o sistema instaurado da seguinte maneira: "Os interventores eram o próprio instrumento de controle do poder central em cada Estado. Representam o empenho deliberado de alterar as relações Estado/União, transformação esta desejada pelos tenentes e, especificamente, por todos os revolucionários nortistas".
O Rio Grande do Norte contou com cerca de cinco interventores: Irine Jofily (apoiado por Café Filho), Aluísio de Andrade Moura, Hercolino Cascardo, Bertino Dutra da Silva e, finalmente Mário Leopoldo Câmara.
Irineu Jofily encontrou dificuldades para implantar os ideais revolucionários no Estado porque os oligarcas estavam ainda muito fortes. O sistema oligárquico não permitia que medidas contrárias aos seus interesses fossem implantadas. Por essa razão, Jofily pediu demissão.
Aluísio Moura iniciou a fase de administradores militares.
Juarez Távora, que comandava a Delegacia do Norte, designou dois militares para "assessorar" o novo interventor: os tenentes Ernesto Geisel, para a Secretaria Geral e diretor do Departamento de Segurança Pública, e Paulo Cordeiro de Melo, para o Comando do Regimento Policial. Existe apenas uma explicação para justificar essas duas nomeações: falta de confiança de Juarez Távora em Aluísio Moura...
Com o objetivo de afastar Café Filho e seus adeptos da administração, os cafeístas foram acusados, pelo interventor, de comunistas que conspiravam contra o governo. Como resultado, todos foram presos. Pedro Dias Guimarães, que exercia a função de prefeito de Natal, e ainda Edgar Siqueira, José Anselmo e Sandoval Wanderley. Depois, o interventor, alegando que tudo que se dizia dos cafeístas era falso, mandou libertar a todos...
Cresceu o descontentamento dos setores ligados à Revolução de 30, por causa do apoio dado ao grupo que se encontrava no poder antes de 1930, por essa razão, Aluísio Moura foi substituído por outro militar: o comandante Hercolino Cascardo.
O Rio Grande do Norte se encontrava nessa época, numa situação difícil. Cascardo, contudo, procurou desenvolver o Estado, atuando sobre os produtos que sustentavam sua economia: cultura do algodão e indústria salineira. Outro aspecto importante é que ele procurou governar sem se envolver nos conflitos locais, escolhendo seus auxiliares entre os mais capazes. Sentindo-se desprestigiado perante o governo provisório, pediu exoneração do cargo, apesar do apoio de Café Filho e de seus correligionários.
O novo interventor, Bertino Dutra da Silva, encontra o Rio Grande do Norte numa situação muito dedicada. As forças políticas tradicionais continuavam sendo um obstáculo para que os ideais revolucionários se instalassem no Estado.
Em 1932 explodiu a Revolução Constitucional, liderada por São Paulo e que, segundo alguns, possuía um caráter separatista. Foi fundada no Rio Grande do Norte a "União Democrática Norte-rio-grandense", comandada pelo monsenhor João da Matha e por Gentil Ferreira de Souza, apoiando o movimento a favor da constitucionalização do País. Como afirma Marlene Mariz, "os coronéis potiguares chegaram até enviar seus capangas para lutar ao lado dos paulistas contra o governo provisório e o regime de exceção".
As forças conservadoras não ficaram apenas nesta ação. Visando a eleição da Constituinte Nacional de 1933, fundaram o "Partido Popular", chefiado por Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, líder seridoense.
O interventor Bertino Dutra reagiu e fundou o 'Partido Social Nacionalista do Rio Grande do Norte".
A campanha se desenvolveu num clima de agitação, com atitudes que caracterizavam um grande radicalismo.
A 3 de maio de 1933, realizou-se a eleição para a Constituinte Nacional, com a vitória da oposição que conseguiu eleger três candidatos: Alberto Roseli, Francisco Martins Veras e José Ferreira de Souza, Kerginaldo Cavalcanti de Albuquerque foi o único eleito pela situação.
Café Filho, o homem forte do governo, era o alvo preferido da oposição, sendo inclusive baleado pelo capitão do exército Everardo Vasconcelos após uma discussão entre os dois.
Derrotado, Bertino Dutra passou o cargo ao seu substituto legal, tenente Sérgio Marinho.
O novo interventor, Mário Leopoldo da Câmara, foi designado para executar a missão de pacificar o Rio Grande do Norte, formando uma aliança com o Partido Popular, o mais forte do Estado.
Entretanto, apesar de sua eficiência como administrador, Mário Câmara permitiu que crescesse o clima de agitação e de violência. João Medeiros Filho, no programa "Memória Viva", da TV Universitária, traçou o seu perfil: "Mário Câmara era um administrador honesto. Depois, foi envolvido pelos políticos profissionais, fincando alucinado pelo poder. Daí a violência que caracterizou o final do seu governo".
Em vez de se unir às forças tradicionais, terminou fazendo uma aliança com Café Filho, com o fim de derrubar o Partido Popular.
O Rio Grande do Norte viveu, então, um clima de agitação nunca antes experimentado em sua história, incluindo assassinatos, espancamentos etc.
Em síntese, como administrador, Mário Câmara fez várias obras (construir 43 prédios escolares, abriu estradas etc.), porém "com esse homem caiu sobre a terra potiguar a maldição terrível da desunião política, que fez desencadear a mais torpe campanha eleitoral de 1934", afirma Tarcísio Medeiros.
Como uma conseqüência desse clima de agitação, se pode apontar a intentona comunista de 1935.
Ao se fazer um balanço sobre a Revolução de 30 no Rio Grande do Norte, cujas diretrizes deveriam ser executadas pelos interventores, fica muito claro que as oligarquias, com o seu sistema político consolidado, evitaram que mudanças maiores de operassem no Estado, gerando um confronto num clima de agitação e violência entre os partidários da Revolução de 30 e os oligarcas.
João Café Filho se destacou na luta para destruir as velhas estruturas, mas não reunia força suficiente para conseguir realizar os seus propósitos.
Por outro lado, os conservadores possuíam grandes líderes, alguns detentores de vasto saber, como, por exemplo, José Augusto de Medeiros, o grande arquiteto da resistência das forças tradicionais.
A massa popular queria mudança, porém, iletrada, não sabia que rumo tomar, praticando, às vezes, atos de violência como sinal de protesto.
Segundo Marlene Mariz, "a Revolução trouxe efeitos para o Rio Grande do Norte no tocante a mudanças no comportamento do operariado, com sindicatos organizados e amparados pelas leis trabalhistras, que vão marcar o início do populismo", graças à atuação de Café Filho.
João Café Filho: Do Sindicato ao Catete
João Café Filho foi o grande líder da Revolução de 30 no Rio Grande do Norte.
Nasceu no dia 3 de fevereiro de 1899, na rua do Triunfo, Ribeira, em Natal. Filho de João Fernandes Campos Café e de Florência Amélia Campos Café.
Os seus estudos iniciais foram realizados nas escolas de Amália Benevides, Edilbertina Ataíde e Áurea Magalhães, para um pouco mais tarde ingressar sucessivamente nos seguintes estabelecimentos de ensino: Colégio Americano, Grupo Escolar Augusto Severo, Escola Normal e Atheneu Norte-Rio-Grandense.
Mesmo sem concluir curso superior, exerceu a advocacia como provisionado, tendo feito exames no Tribunal de Justiça em Natal.
Na juventude, foi atleta de poucos recursos, conseguindo, entretanto, jogar na posição de goleiro no Alecrim Futebol Clube, uma das agremiações esportivas mais tradicionais do Estado. Mas teve uma importante atuação como integrante da diretoria do próprio Alecrim, e igualmente do Centro Esportivo Natalense.
Muito cedo, com apenas quinze anos, começou a sua vida de jornalista, quando publicou "O Bonde" e "A Gazeta", ambos manuscritos. Depois fundou e dirigiu o "Jornal de Natal". Nesse jornal, começou a abordar a questão social do Estado.
Adulto, Café se casou com D. Jandira Carvalho de Oliveira Café.
Em 1923, liderou as primeiras graves que ocorreram no Rio Grande do Norte. Por essa razão, a polícia cercou o quarteirão onde sua casa se localizava e o jornal que dirigia. Conseguiu fugir. Depois, partiu para Recife e, logo em seguida para Bezerros, onde foi nomeado secretário da prefeitura. Fundou o jornal "Correio de Bezerros" e o Clube Social e Esportivo Palameira. Voltando para Recife, em 1925, dirigiu mais um jornal, "A Noite", quando entrevistou Antonio Silvino na Penitenciária de Recife. Ainda na capital pernambucana, redigiu um documento "concitando os subalternos do Exército a desobedecerem as ordens recebidas" e participar da Coluna Prestes. Como conseqüência, foi processado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Fugiu para Itabuna, na Bahia. Após um certo tempo, regressou a Natal, onde foi preso.
Em 1928, foi eleito vereador. Uma façanha, porque, naquela época, era difícil alguém da oposição vencer. O "sistema eleitoral" vigente pode ser ilustrado com um exemplo, contado pelo próprio Café Filho: "A oposição elegeu a maioria da Câmara Municipal. O Governo do Estado, em represália pela derrota sofrida, mandou queimar as atas eleitorais. O atentado foi executado pelo chefe político local, seguindo as instruções dos chefes das oligarquias. Destruídas as atas, o situacionismo procedeu a "eleição" dos seus próprios vereadores, a bico de pena"...
A oligarquia não deixava Café Filho em paz. Sendo mais uma vez perseguido, fugiu novamente para Recife e viajou para o Rio de Janeiro, onde se integrou à campanha política a favor da Aliança Liberal. Depois foi enviado para a Paraíba com o objetivo de divulgar o movimento. Recebido por João Pessoa, voltou a atuar como jornalista, reeditando o "Jornal da Noite". Atuante, percorreu toda a Paraíba fazendo campanha pela Aliança Liberal.
No dia 2 de outubro de 1930, entrou no Rio Grande do Norte em plena efervescência revolucionária. As tropas paraibanas invadiram o Rio Grande do Norte sem encontrar resistência. Nas negociações para compor o governo, se pretendia eleger o desembargador Silvino Bezerra Neto, irmão de José Augusto, líder das oligarquias e, portanto, adversário das idéias revolucionárias... João Café Filho, sempre vigilante, impediu que tal designação fosse feita. E o governo provisório foi entregue a uma Junta Militar.
O povo, insatisfeito, pedia medidas radicais. Para acalmar a população, sobretudo a natalense, Café Filho foi designado chefe de Polícia. Mais tarde, afastado do cargo, voltou a assumir a Chefia da Polícia durante a administração do interventor federal comandante Bertino Dutra. Foi nessa segunda gestão que Café Filho criou a Guarda Civil e a Guarda Nortuna.
Em 1933 e anos seguintes exerceu as funções de Inspetor do Trabalho, no Rio de Janeiro.
Foi eleito deputado federal em 1935, porém, não concluiu seu mandato por causa da decretação do Estado Novo em 1937. Perseguido por fazer oposição ao governo Vargas, conseguiu asilo na Argentina.
Em 1945, de volta ao Brasil, fundou o Partido Social Progressista no Rio Grande do Norte. A conselho de Adhemar de Barros, registrou o partido com o nome de Partido Republicano Progressista. Justificativa de Adhemar: "poderia atrair, pela identidade fonética, os antigos partidários e eleitores do Partido Republicano Paulista, os 'perrepistas' de antes de 1930". Como não conseguiu os objetivos desejados, posteriormente o partido voltou a ser chamado pela denominação original.
João Café Filho foi eleito novamente deputado federal em 1945. Essa foi a sua fase mais dinâmica, segundo ele próprio: "Exerci, em minha atividade parlamentar, no Palácio Tiradentes, o período de maior vitalidade e energia de minha vida".
Um feito de Café Filho: com um discurso apenas provocou a exoneração de Correia e Castro, ministro da Fazenda do governo Dutra.
Em 1950 Café Filho se elegeu vice-presidente da República, juntamente com Getúlio Vargas, que assimiu a presidência da República, juntamente com Getúlio Vargas, que assumiu a presidência do País.
Após o suicídio de Getúlio Vargas, a 24 de agosto de 1954, passou a exercer a função de presidente do Brasil. De acordo com suas palavras, foi "o único momento que me tocou verdadeiramente, que me confortou, que foi pleno e sem contrastes em esplendor e confiança".
Porém, não chegou a concluir o seu mandato, inicialmente por causa de uma crise cardiovascular, e depois foi 'impedido', afastado da presidência. Falava-se em "golpe" e em "contra-golpe".
Nereu Ramos, então, assumiu o governo. A complicação não se resumia ao afastamento de Café Filho. Havia outro impasse. Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito presidente através do voto popular, estava ameaçado de não tomar posse...
Fora do poder, João Café Filho foi nomeado ministro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.
Posteriormente, escreveu suas memórias sob o título "Do Sindicato ao Catete", em dois volumes.
Faleceu no dia 11 de fevereiro de 1970 no Rio de Janeiro.
O Rio Grande do Norte prestou uma homenagem ao único norte-rio-grandense que chegou a ser presidente da República, inaugurando a Casa Café Augusto, e onde se encontra atualmente um grande acervo sobre o ilustre jornalista e político potiguar.
A Intentona Comunista
Um Contexto de Agudos Conflitos Sociais
A Intentona Comunista de 1935 não foi um episódio isolado que ocorreu apenas no Rio Grande do Norte. Ela surgiu dentro de um contexto internacional e, ao mesmo tempo, brasileiro.
Na "História do Povo Brasileiro" se encontra a descrição do cenário no qual a Intentona se realizou: "Naquela época de agudos conflitos sociais, a democracia clássica se imobiliza, enleada em impedimentos formais, enquanto os ditadores de esquerda e de direita, vencidos os impecilhos internos preparavam-se para o inevitável confronto mundial (...) O Brasil tornou-se, assim, o grande centro de competições entre os idealistas totalitários, na América Latina, no interregno liberal de 1934 a 1937.
A Constituição de 1934, que havia escolhido Getúlio Vargas para presidente da República por via indireta, ensejou a formação de partidos políticos. Entre as organizações partidárias nascidas na ocasião estava a "Aliança Nacional Libertadora", de orientação comunista, cujo presidente de honra era Luís Carlos prestes, filiado ao PC (Partido Comunista) desde 1928. A "Aliança Nacional Libertadora' encarregou-se organizar greves e manifestações públicas onde pediam o candelamento da dívida imperialista, nacionalização de empresas estrangeiras e o fim do latifúndio, entre outras reivindicações. Objetivam também: impor o vasto programa da ANL (Aliança Nacional Libertadora); a queda do governo Vargas; o fim do fascismo; a defesa da pequena propriedade; jornada de oito horas de trabalho; aposentadoria, e defesa do salário mínimo.
Foi a ANL que inspirou o movimento comunista que eclodiu em novembro de 1935 na cidade de Natal e que ficou conhecido como sendo a Intentona Comunista.
O fato é que, como disse Tarcísio Medeiros, "foi nesse ambiente que o interregno liberal, de 1934 a 1937, foi dominando o Brasil, no qual as correntes democráticas perdiam o controle das massas e das ruas, envolvidas nas competições pessoais e nas tricas de campanário".
Ação Armada e o Domínio de Natal
As raízes do movimento comunista de 1935 no Rio Grande do Norte possuíram, sem dúvida alguma, causas locais e que podem ser apontadas como resquícios da campanha eleitoral de 1934, quando predominou um clima de violência.
Mário Leopoldo Pereira da Câmara, apesar do mérito de algumas realizações efetuadas durante sua administração, foi responsável pela implantação de um clima favorável ao aparecimento de movimentos armados.
O substituto de Mário Câmara, Rafael Fernandes Gurjão, continuou perseguindo seus adversários políticos, a exemplo de seu antecessor. Rafael Gurjão contribuiu com o aumento do número dos descontentes, engrossando o grupo dos revoltosos. Chegou, inclusive, a extinguir a Guarda Civil, um órgão completamente descomprometido com a política, só porque havia sido criada por Café Filho, inimigo político do novo governante... Dentro desse contexto, as divergências arrastaram para o movimento pessoas que desconheciam a ideologia comunista, mas viam na ação armada uma maneira de derrubar o governo...
A Intentona Comunista foi iniciada na noite de 23 de novembro de 1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje Alberto Maranhão - estava acontecendo uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. O governador Rafael Fernandes Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, abrigaram-se na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foram para o Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Letieri. O prefeito Gentil Ferreira, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos Lamas.
Coube ao maior Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel Pinto Soares, do 21º BC, a organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da qual os legalistas pediram socorro à capital federal.
Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo "muitas vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias horas, terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio Potengi.
Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um Comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do governador.
Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros alimentícios, uma vez que os rebeldes saquearam muitos armazéns e lojas que abasteciam a cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana & Cia., M. Alves Afonso etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico.
No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado "Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: "Enfim, pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".
Versões Sobre os Combates no Interior
Ao tomar conhecimento do que estava acontecendo na capital potiguar, Dinarte Mariz entrou em contato com o governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo que, atendendo ao apelo do líder seridoense, ordenou que policiais paraibanos penetrassem no Rio Grande do Norte rumo a Natal.
O primeiro encontro entre comunistas e sertanejos foi em Serra Caiada, com vitória para os legalistas.
Para alguns historiadores, o principal combate entre as duas facções teria ocorrido na Serra do Doutor, entre as cidade de Santa Cruz e Currais Novos, João Medeiros Filho, por exemplo, descreve que "os sertanejos que numa ação fulminante rechaçaram o inimigo, abrindo caminho para Natal onde chegaram no dia 27, já encontrando a cidade ocupada pelas tropas da polícia paraíba".
Aluízio Alves, entretanto, no depoimento que prestou à TV Universitária, disse que não ocorreu nenhuma batalha na Serra do Doutor. E justificou, afirmando que quando os comunistas saíram de Natal já tinham conhecimento do fracasso do movimento no Rio de Janeiro e em Recife. Estavam, portanto, fugindo. "Essa história de guerra na Serra do Doutor é uma imagem colorida de uma guerra que não houve", argumenta Aluízio.
O testemunho de Enoch Garcia ao mesmo programa da TV Universitária, "Memória Viva", confirma o entrevero, mas não os personagens de outros relatos: "Todo mundo queria que Dinarte tivesse tomado parte na Serra do Doutor. Ele não tomou parte na Serra do Doutor, como eu não tomei, como Humberto Gama não tomou. Lá, tomaram parte esses oficiais dos quais eu já falei: Pedro Siciliano, José Epaminondas, Genésio Cabral, Antônio de Castro... e, inclusive muitos civis".

AVIAÇÃO E SEGUNDA GUERRA
Intentona Não se Sustenta
Tiroteio e Fuga dos Combatentes
Dinarte Mariz, segundo Enoch Garcia, telefonou para o governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, que prometeu e efetivamente enviou tropas paraibanas para o Rio Grande do Norte para combater os revoltosos da Intentona Comunista.
Enoch recebeu o seguinte telegrama de Florêncio Luciano: "Enoch, eu não sei o que aconteceu, mas o nosso povo reagiu em cima da Serra, e o esbandalho foi grande. Até agora está correndo gente deles e gente nossa...".
Conclusão: aconteceu realmente um tiroteio, provocando a debandada de ambas as facções. Entre os revolucionários, muitos eram reservistas e nada tinham com a ideologia comunista. Na primeira oportunidade, largaram as armas e fugiram... Os integrantes do outro lado eram sertanejos, em sua maioria homens simples, pequenos agricultores ou trabalhadores rurais que não estavam dispostos a participar de conflito algum. Aos primeiros anos, fugiram.
Portanto, houve realmente um confronto na Serra do Doutor, interior do Rio Grande do Norte,. Porém, sem as dimensões que se pretendeu dar. De qualquer maneira, o fato marcou o final da Intentona Comunista de 35 no Rio Grande do Norte.
Repressão Violenta e Prisões Injustas
A repressão após a Intentona Comunista foi violenta. O chefe da Polícia do governo Rafael Fernandes, João Medeiros Filho, reconheceu que houve "excesso"...
Segundo Aluízio Alves, "Rafael Fernandes e Aldo Fernandes se empenharam para não misturar a polícia estadual com a reação da revolução (...) Houve muitas pressões injustas, na época, apesar de toda a resistência, sobretudo de Aldo Fernandes, que se incompatibilizou muito com o Partido Popular, por conta de suas atitudes corretíssima, digníssima, distinguindo as responsabilidades da revolução, da participação eventual emocional do Marismo e do Caféismo".
Êxito Momentâneo Não Assegurou Poder
O levante de 35, que explodiu no Rio Grande do Norte, teve um cunho comunista, como prova a criação de um Comitê Popular Revolucionário e ainda o editorial do órgão oficial da Intentona, "A Liberdade", exaltando o líder comunista Luís Carlos Prestes, chamado de "Cavaleiro da Esperança". Outros fatores que contribuíram para o êxito momentâneo do movimento: muitos funcionários públicos, descontentes com as demissões e perseguições políticas - incluindo os militares -, se engajaram na luta pensando que se tratava de um levante contra o governador. Alguns soldados, reservistas, participaram apenas para cumprir ordens, sem saber ao certo o que estava acontecendo. Além do mais, faltou um líder que reunisse as massas e, ao mesmo tempo, esclarecesse o povo para conseguir sua adesão consciente. Resultado: as camadas mais humildes ficaram desorientadas, praticando desordens. E alguns oportunistas se aproveitaram do momento para saquear e roubar. Não houve, igualmente, uma maior sintonia entre os chefes militares e os líderes civis. O que determinou que o movimento acabasse caindo num vazio...
O principal obstáculo a um levante de esquerda não estava na capital e sim no interior. As oligarquias que dominavam o Estado não aceitariam nenhum governo que contrariasse os seus interesses, como aconteceu anteriormente com a Revolução de 30.
Os revolucionários contavam com a vitória do movimento no Rio de Janeiro e em Recife. Como o fracasso do levante nesses dois centros urbanos, eles perderam a confiança, procurando fugir. Abandonaram a capital sem nenhuma resistência. Na realidade, não tinham a menor possibilidade de permanecer no poder por um período maior. Além das diversões internas, qualquer resistência seria esmagada pelas forças paraibanas e pernambucanas, que certamente seriam enviadas para o Rio Grande do Norte com o objetivo de destruir a rebelião.
A Epopéia da Aviação
Os Hidroaviões Aterrissam no Potengi
A localização da Cidade do Natal fez com que seu nome ocupasse uma posição de relevo na história da aviação mundial. Sobretudo nos tempos iniciais ou, mais precisamente, no período compreendido entre 1922 e 1937, que se divide em duas fases: a dos hidroaviões e as dos aviões. Os hidroaviões desciam nas águas do Rio Potengi e, posteriormente, os aviões pousavam num campo em terra firme.
Os portugueses Sacadura Cabral e Gago Cointinho inauguraram a primeira fase com o "raid" África-Natal, cobrindo uma distância de 1.890 milhas. Por causa de dificuldades, os lusitanos desceram em Fernando de Noronha, passando por Natal e indo até Recife.
No dia 21 de dezembro de 1922, o brasileiro Euclides Pinto Martins e o norte-americano Walter Hinton chegava a Natal, fazendo o "Sampaio Correia II" amerissar nas águas do Rio Potengi. Estavam realizando o "raid" Nova Iorque-Rio de Janeiro.
Após essas façanhas, a capital norte-rio-grandense passou a receber grande número de aviadores famosos, que com suas aventuras escreviam a história da aviação. Todos eles foram recebidos como verdadeiros heróis.
Os natalenses acompanharam a ação dos pioneiros com muito interesse.
Exemplo: a 24 de fevereiro de 1927, Natal recebeu com manifestações de júbilo o marquês De Pinedo, italiano que juntamente com Carlo Del Prete e Victale Zachetti chegaram à cidade viajando no "Santa Maria". De Pinedo, além de percorrer as principais ruas natalenses em carro aberto, participou de um almoço em sua homenagem. No discurso de agradecimento, o marquês sentenciou: "Natal será a mais extraordinária estação da aviação mundial".
No mesmo ano, chegou ao Rio Grande do Norte a esquadrilha do exército norte-americano - a primeira esquadrilha a baixar no Rio Potengi - sob o comando do major Herbert Dangue e integrada pelos hidroaviões "Santo Antonio", "São Luís" e "São Francisco".
Nessa época, a França tinha planos de abrir rotas aéreas comerciais estabelecendo uma linha Europa-América do Sul, que não se concretizou. Mas a partir de 1924, revela Clyde Smith Junior, "empresas particulares assumiram a tarefa de executar esse projeto".
A Lignes Latéroère procurou estender sua ação até o Brasil. Essa companhia enviou Paul Vachet a Natal, num Breguet, um biplano que foi forçado a aterrissar na praia da Redinha porque Natal não contava ainda com um local apropriado.
O Breguet pilotado por Paul Vachet foi, portanto, o primeiro aeroplano - ou seja, avião que pousava em terra e não nas água, como os anteriores - a aterrissar no Rio Grande do Norte. Iniciando, assim, uma nova fase na história da aviação em terras potiguares.
3Nasce o Aeroporto de Parnamirim
Paul Vachet foi enviado a Natal pela Lignes Latécoère para estabelecer aqui uma base dentro da rota Brasil-Dakar. E para isso precisava de um campo de pouso.
Vachet procurou, então, um terreno apropriado para construir um aeroporto. Segundo Câmara Cascudo, "um oficial do Exército, o coronel Luís Tavares levava para Parnamirim o batalhão sob o seu comando para exercícios militares. Em 1927, indicou-o como campo de pouso para os aviões da Latércoère. Feita uma limpeza sumária no mato ralo e nivelamento provisório, inaugurando-o, às 23h45 de 14 de outubro de 1927, o "Numgesser-et-Coli", um monomotor Breguet-19, pilotado por Dieu Coster e Le Brix, concluindo com êxito o roteiro Saint Louis do Senegal-Natal.
Clyde Smith Junior informa que "esse foi o primeiro vôo transatlântico em sentido leste-oeste (...) Essa façanha marcou o início do serviço aéreo entre Paris e Buenos Aires".
Juvenal Lamartine e o Aéro Clube
O Rio Grande do Norte não poderia ficar apenas recebendo aviões. Era preciso participar de uma maneira mais ativa. Juvenal Lamartine, consciente do problema, apresentou um projeto na Câmara Federal para criar um aviódromo em Natal. A 29 de dezembro de 1928, era fundado o Aéro Clube.
Tarcísio Medeiros descreve o evento: "Participaram das festividades, numa revoada de Parnamirim a Natal, um "Beu-Vird", pilotado pelo diretor-técnico, comandante Djalma Petit, trazendo a bordo o Sr. Fernando Pedroza, e um aparelho da Générale Aéropostale (C.G.A), pilotado por Depecker. Na ocasião, foi batizado o primeiro aeroplano do "club", com o nome de Natal".
A diretoria do Aéro Clube era formada por Juvenal Lamartine, presidente; Dioclécio Duarte, vice-presidente, e Adauto Câmara, primeiro secretário.
A sede estava situada no bairro do Tirol., onde ainda hoje se encontra, apesar de ter passado por sérias crises. E de acordo com Tarcísio Medeiros, possuía um "pequeno campo de pouso ao lado do poente da sede social'".
Esquadrilha Balbo e Coluna Capitolina
No dia 6 de janeiro de 1931, chegava a Natal a esquadrilha da força aérea italiana, comandada pelo general Ítalo Balbo. Composta inicialmente por doze aviões, apenas dez conseguiram atingir Natal.
Poucos dias antes, ou seja, em 1º de janeiro do mesmo ano, o navio italiano "Lanzeroto Malocell", sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Alberto Coraggio, trazia a Coluna Capitolina, doada pelo chefe do governo italiano, Benito Mussolini. A peça havia sido encontrada nas ruínas de Roma e foi oferecida ao povo natalense para comemorar o "raid" Roma-Natal, realizado pelos aviadores Del Prete e Ferrarin.
Nessa data, governava o Rio Grande do Norte o interventor federal Irineu Joffily. Participaram da comissão de recepção o prefeito Dias Guimarães e João Café Filho.
Em uma das faces da Coluna Capitolina há uma mensagem em italiano que foi traduzida para o português no livro "Aspectos Geopolíticos e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte", de Tarcísio Medeiros: "Trazida de uma só lance sobre asas velozes além de toda distância tentada por Carlos Del Prete e Arturo Ferrerin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de 1928. O oceano não mais divide e sim une as agentes latinas de Itália e Brasil".
A Viagem Inédita de Jean Mermoz
Um dos aviadores que marcou presença em Natal durante essa época foi o francês Jean Mermoz.
No dia 13 de maio de 1930, Jean Mermoz realizou a sua primeira travessia. Partindo de São Luís do Senegal, chegou a Natal vencendo uma distância de 3.100 quilômetros.
Passou alguns dias na capital potiguar planejando uma viagem de regresso, o que seria um fato inédito.
O aviador francês voltou a Natal em abril do ano de 1933, pensando ainda em realizar o seu sonho: a viagem Natal-Dakar. Fez muitas amizades no Rio Grande do Norte. Um de seus amigos, Eudes de Carvalho, revelou que o francês "adquiriu, com o tempo, apego à terra e à gente potiguar e previu o futuro de Parnamirim como base aérea de destaque mundial".
Jean Mermoz, finalmente, conseguiu concretizar sua antiga aspiração. Partindo de Natal num trimotor, o "Arc-en-Ciel", pousou em Dakar, sendo o primeiro a realizar tal façanha.
O piloto francês participou de outras atividades em ação militar, recebendo as medalhas "Cruz da Guerra' e "Levante".
Tarcísio Medeiros narra outro feito de Mermoz: "bateu, entre 11 e 12 de abril de 1930, o "record" mundial de permanência no ar, em circuito fechado, cobrindo 4.343 quilômetros em 30 horas e 30 minutos, em Laté-28 com flutuadores, no qual voou para Natal".
Jean Mermoz desapareceu nas águas do Oceano Atlântico a bordo do seu "Croix-de Sud", em dezembro de 1936.
Concorrência Européia nos Céus Natalenses
Depois da França, a Aleamha entrou em cena. A Lufthansa estendeu sua ação comercial até Natal durante 1933. No outro ano, informa Clyde Smith Junior, "as linhas aéras francesas e alemãs entraram em um acordo que exercia uma cooperação técnica e uma cidisão de itinerário. Em torno de 1937, elas concordaram em associar suas receitas relativas ao trecho África-Natal e, em 1939, a Air France (antiga Lignes Latécoère) e a Condor (Lufthansa) tornaram seus bilhetes permutáveis na África do Sul".
A Itália também esteve presente em Natal através da Linee Aeree Transcontinentali Italiane - Ala Litoria (LATI). A empresa foi organizada pelo governo italiano e, posteriormente, foi acusada pelos adversários, durante a guerra, de estar a serviço das "Tropas do Eixo".
A Inglaterra e os Estados Unidos não participaram desse esforço inicial, em rotas que envolveram Natal no processo de desenvolvimento da aviação.
Somente durante o início da Segunda Guerra Mundial é que a companhia norte-americana Pan American manteve uma rota que passava por Natal.
O Grande Projeto de Augusto Severo
Augusto Severo nasceu na cidade de Macaíba, no dia 11 de janeiro de 1864, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão.
Entre seus irmãos, os que mais se destacaram foram Pedro Velho e Alberto Maranhão.
O biógrafo Augusto Fernandes traçou em poucas palavras a personalidade de Augusto Severo: "físico avantajado era o espelho fiel de espírito vigoroso. Figura simpática, sabendo o que dizia e trazendo-o desembaraçadamente, com os olhos mansos, o sorriso fácil e os gestos aristocratas, conquistava sem dificuldade as pessoas mais esquivas".
Iniciou os estudos na terra onde nasceu, Macaíba, e depois continuou a sua vida de estudante em duas outras cidades: Natal e Salvador. Fez o curso de humanidades com brilhantismo.
Entrou posteriormente para a Escola Politécnica, no Rio de Janeiro. Quando cursava o segundo ano, adoeceu e teve que voltar para Natal.
Exerceu, então, a função de professor de Matemática no Ginásio Norte-Riograndense, escola da qual chegou a ser vice-diretor.
Quando o Ginásio fechou, em 1883, foi forçado a se dedicar ao comércio, trabalhando como guarda-livros da loja "Guararapes".
Idealista participou ao lado de Pedro Velho da campanha abolicionista.
Com relação às suas preocupações como homem de ciência, Augusto Severo se dedicou primeiro em descobrir o modo-contínuo. Depois, abandonou essa pesquisa. Pensou também em estudar o "mais" pesado que o ar". Desistiu. Os seus interesses começavam a se voltar para outra direção: "agora, todos os seus estudos e esforços buscava descobrir um meio para dar estabilidade e segura dirigibilidade aos balões. Imaginou e desenhou, então, o "Potiguarânis", que não chegou a ser realizado, mas influiu na construção, mais tarde, do Bartolomeu de Gusmão, realmente o seu primeiro dirigível".
Continuando seus estudos, chegou ao "PAX', considerado pelos técnicos como um importante avanço na conquista do espaço.
Criou também o "tubo motor de reação", que dizem ter sido usado pela torpedeira "A Turbina", que pertencia à marinha inglesa. Segundo Augusto Fernandes, a "Turbina" chegou a atingir uma velocidade de 37 milhas.
É ainda Augusto Fernandes que fala sobre outra criação do cientista norte-rio-grandense: inventou "o sistema de hélice introduzida no interior de um tubo, que atravessa o navio seguindo o grande eixo, permitindo-lhe marchar avante e a ré".
Em 1893, Augusto Severo substituiu o irmão Pedro Velho no Congresso.
Em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont, com o dirigível 'Santos Dumont nº 6", realizou um grande feito, pelo qual recebeu o prêmio "Deutsc" . Depois de levantar vôo de Saint-Cloud, para assombro do povo de Paris, contornou a Torre Eiffel.
Anterior a essa data, houve um movimento no Brasil para prestar uma homenagem ao aeronauta brasileiro. No Congresso Nacional, o deputado federal Bueno de Paiva propôs, no dia 17 de julho de 1901, um voto de louvor a Santos Dumont, por ter encontrado "a solução do secular problema" da dirigibilidade e estabilidade. Acontece que Augusto Severo, um profundo conhecedor da questão, sabia que tal solução não havia sido encontrada e protestou contra a inverdade. Mas, reconhecendo a importância do aeronauta, propôs que fosse inserido em ata um voto de louvor a Alberto Santos Dumont e ainda concedido ao ilustre brasileiro, como prêmio o valor de 100:000$000, importância que ele precisava para continuar suas experiências. O discurso de Augusto Severo foi simplesmente brilhante. Ao conclui-lo foi, além de muito aplaudido, abraçado pelos deputados presentes.
Augusto Severo, após licenciar-se da Câmara Federal, partiu para Paris com a finalidade de fazer, igualmente, experiência no campo da aeronáutica.
Augusto Fernandes, numa síntese, demonstra toda a importância de Severo: "os balcões de Dumont, como os de seus antecessores, sob o ponto de vista científico, não possuíam as características necessárias de ESTABILIDADE e, portanto, perfeita NAVEGABILIDADE. Esta conquista pertence, exclusivamente, a Augusto Severo".
Ele não se tornou, como chegaram a comentar em Paris, um rival de Santos Dumont, E sim, afirma Augusto Fernandes, "um concorrente sério, competente, leal, para Dumont. E sim, afirma Augusto Fernandes, "um concorrente sério, competente, leal, para Dumont ou qualquer outro que tentasse as mesmas experiências".
Paralelamente às suas experiências, Augusto Severo, com sua simpátia contagiante de verdadeiro aristocrata, fez sucesso na sociedade parisiense e européia, conseguindo a amizade de grandes personalidades da época, como Zola e Paul Rousseau. Chegou inclusive a receber uma carta da princesa Wiszniewska, presidente d fundadora da "Aliança Universal das Mulheres pela Paz e pela Educação".
Finalmente, o grande projeto de Augusto Severo estava pronto: o "PAX"! Revistas da França e da Inglaterra abriram suas páginas para falar sobre a experiência que estava prestes a acontecer. Era a glória!
Na construção do PAX, Severo contou com a importante ajuda do mecânico George Sachet.
Na madrugada do dia 12 de maio de 1902, Augusto Severo e George Sachet realizavam, para o povo de Paris, o tão almejado vôo. Quando o PAX se encontrava aproximadamente a 400 metros de altura, um clarão e, depois, uma explosão. Era o fim do sonho. Morreram ambos, Severo e Sachet.
Um texto e "A Notícia", no jornal do Rio de Janeiro (23/6/1902), narrando o enterro de Augusto Severo, poetizou: "não acredito haja alguém, lá fora, que possa em pleno dia - um dia rútilo de sol pelas ruas apinhadas de gente e passando, entretanto, silencioso, recolhido, sem um rumor, como se as mais vastas praças fossem pequenas câmaras mortuárias, em que se anda nas pontas dos pés, com um respeito religioso (...). Que dia esplêndido de glória! Glória triste - mas, apesar de tudo, glória!".
Natal na Segunda Guerra Mundial
Os Aliados e as Forças do Eixo
Quando Adolf Hitler invadiu a Polônia, alegando que a Alemanha necessitava de "espaço vital", estava iniciando o Segundo Conflito Mundial. De um lado, estavam os "Aliados": França, Inglaterra e Estados Unidos. Do lado oposto, Itália, Alemanha e Japão formavam as "Forças do Eixo". Os dois grupos lutaram (com a posterior entrada de outras nações, inclusive os Estados Unidos da América) durante o período entre 1939-1945, levando o mundo a uma devastação que até então nenhuma outra guerra tinha provocado.
Após a sua entrada no conflito, os norte-americanos procuram uma aproximação com o Brasil, porque necessitavam instalar ou melhorar as bases aéreas do Nordeste brasileiro.
Havia uma grande preocupação dos norte-americanos em demonstrar aos brasileiros que a sua presença naquela região do País era apenas para ganhar a guerra. Nada de conquista territorial.
Em Natal, contudo, havia adeptos das "Forças do Eixo". Em outubro de 1942, ocorreu um fato tragicômico: a Rádio Educadora de Natal colocou no ar uma marcha militar alemã e, logo em seguida, o hino nacional alemão. A transmissão provocou protesto de grande parte da população e a emissora foi fechada, sendo reaberta dois dias depois.
Apesar de oficialmente neutro, o Brasil vai aos poucos se aproximando da causa dos "Aliados", e se afastando das "Forças do Eixo". Essa situação se reflete em Natal, com a maioria da população torcendo pela vitória dos "Aliados".
Em dezembro de 1941, chega a Natal o Esquadrão de Patrulhamento da Marinha dos Estados Unidos, como nove aeronaves e o avião auxiliar "Clemson". Pouco depois, chegavam os fuzileiros navais. Em 1942 eram duzentos homens.
O almirante Ary parreiras, enviado para construir a Base Naval do Natal, demonstra, na opinião de Cascudo, "força realizados, obstinação, ditadura da honestidade, mítica do sacrifício silencioso, discreto e diário".
Os norte-americanos, por sua vez, constróem "Parnamirim Field", uma verdadeira megabase, durante o período de guerra.
Em termos de forças terrestres, desde 12 de junho de 1941, Natal contava com o 16 RI, criado aproveitando os efetivos do 29 BC e do II BC de Minas Gerais.
Segundo Tarcísio Medeiros, "no dia 11 de outubro, o general Gustavo Cordeiro de Farias assumia o comando da 2ª Brigada de Infantaria (...) A aviação unificada desde 18 de janeiro com a criação do Ministério da Aeronáutica, possuindo o campo de Parnamirim, estabeleceu a sede da 2ª Zona Aérea, cujo comando, confiado ao brigadeiro Eduardo Gomes, impulsionou o primeiro grupo de aviões que partia, policiando os ares (...) e os comboios marítimos, num serviço assíduo de cobertura e vigilância".
O Brasil Entra na Guerra
No último dia da Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, em 28 de janeiro de 1941, realizada no Rio de Janeiro, o Brasil rompeu as relações com as Forças do Eixo.
Passando alguns meses, no dia 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália.
O avanço das "Tropas do Eixo", lideradas por Rommel, no continente africano, colocou em perigo a navegação do Atlântico, da costa brasileira, como também de todo o continente americano. Teria sido por causa desse risco que o Brasil cedeu bases militares no litoral do Nordeste para servir de apoio às operações militares que seriam desenvolvidas na África. E entrou na guerra.
Natal, por sinal, já vivia um clima de guerra, inclusive com blecautes diários. Contava também com os serviços da Cruz Vermelha, Legião Brasileira de Assistência, Defesa Civil, e ainda abrigos antiaéreos familiares e públicos.
Numa síntese, disse Câmara Cascudo: "Ao redor do campo, Natal, tabuleiros e praias, foi organizada e dispostas a defesa militar, munições, matérias-primas em tonelagem astronômica. Exército, Marinha, Aeronáutica, ergueram as barreiras defensivas, diárias e contínuas.
Dois Presidentes na "Conferência de Natal"
Quando o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt se encontrava em Marrocos, solicitou ao almirante Jonas Ingram para marcar um encontro com Getúlio Vargas, presidente do Brasil, na Cidade do Natal.
Acertada a reunião, todas as providências foram tomadas em sigilo.
O presidente Getúlio Vargas chegou em Natal no dia 27 de janeiro de 1943, acompanhado de sua comitiva. Ficou alojado no Dstróier Jouett. Na manhã do outro dia, dois aviões trouxeram o presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, e sua comitiva.
As autoridades brasileiras sediadas em Natal não foram informadas das ilustres presenças e a segurança dos dois americanos, causando um mal-estar.
O governante potiguar Rafael Fernandes foi convidado para comparecer à base sozinho. Chegando lá é que soube da novidade. Depois, Getúlio Vargas e Roosevelt, acompanhados de Rafael Fernandes, cumpriram um programa de inspeções: base de hidroaviões, Parnamirim e os quartéis brasileiros do exército e da aeronáutica.
À noite, Vargas e Roosevelt participaram da "Conferência de Natal" que, segundo Clyde Smith Junior, "girou em torno de interesses mútuos e laços de amizades entre seus países, a prevenção de um possível e perigoso ataque dirigido de Dakar para o hemisfério ocidental, e o apoio do Brasil aos objetivos de guerra de Roosevelt. No dia seguinte, Roosevelt. No dia seguinte. Roosevelt voou para Trinidad e Vargas voltou ao Rio acompanhado pelo almirante Ingram e pelo general Wash".
Ao que parece, Roosevelt teria "pedido" ao presidente Vargas, o envio de tropas brasileiras para o "front" na Europa e o estadista gaúcho "concordou".
A reunião, portanto, não foi apenas um encontro cordial de amigos para conversar futilidades. Nela, ficou acertado o envio de tropas brasileiras para o "front".
Influência Americana e Mudança dos Costumes
A presença norte-americana em Natal mudou os hábitos de uma pequena cidade nordestina.
Lenine Pinto relata que "dos bares vazava a música das Wurlitzers, das lojas o burburinho de consumidores ávidos e, quando as ruas esvaziavam-se, acendiam-se os salões de bailes, fluíam fantasias (...) Naquele tempo as festas sucediam-se freneticamente, dançava-se freneticamente, amava-se freneticamente".
A Cidade do Natal modificou-se de maneira muito significativa com a presença do grande número de militares estrangeiros aqui sediados. Do entrosamento entre americanos e jovens natalenses resultaram alguns casamentos. O drama das jovens, não só natalenses, mas nordestinas que não tiveram os seus romances com jovens americanos referendados pelo casamento, é descrito pelo poeta Mauro Mota no seu "Boletim Sentimental da Guerra no Recife", através dos versos:
"Meninas, tristes meninas,
de mão em mão hoje andais.
Sois autênticas heroínas
da guerra, sem ter rivais.
Lutastes na frente interna
com bravura e destemor.
À vitória aliada destes
o sangue do vosso amor.
Ingênuas meninas grávidas,
o que é que fôstes fazer?
Apertai bem os vestidos
pra família não saber.
Que os indiscretos vizinhos
vos percam também de vista.
Saístes do pediatra
para o ginecologista".
Surgiram associações recreativas como, por exemplo, os "Clubes 50". Tanto o Aéro Clube como igualmente o "Clube Hípico", foram alugados com o objetivo de realizar bailes. A finalidade principal, certamente, era promover uma maior integração dos militares norte-americanos com a população natalense. Houve, por causa disso, uma invasão de ritmos estrangeiros: "rumba", "conga", "bolero".
As moças passaram a agir com mais autonomia e, conforme relata Lenine Pinto, "tendo incorporado modos e modismos americanos, algumas aproveitaram para alongar o passo: começaram a fumar (por ser o Chesterfield um cigarro "fraquinho", era a desculpa); a bebericar "Cube Libre" (com a Coca-Cola inocentando a mistura de rum) e a pegar os primeiros "foguinhos".
Natal perdia aos poucos suas características de cidade pequena, com seus habitantes levando uma vida modesta e tranqüila. Tomando inclusive um aspecto cosmopolita, com a passagem, pela cidade, de pessoas de outras nacionalidades, com direito a figuras importantes: D. Francis J. Spellman (arcebispo de Nova York), Bernard (príncipe da Holanda), Higinio Morringo (presidente do Paraguai), Sra. Franklin D. Roosevelt (esposa do presidente dos Estados Unidos), Sr. Noel Cherles (embaixador do Reino Unido no Brasil) etc.
Os preços aumentaram por causa da injeção de dólares na economia local.
A influência norte-americana se fez sentir também na linguagem, com a introdução de algumas palavras e expressões inglesas, exemplificadas por Clyde Smith Junior: "change money" (troque dinheiro), "drink beer" (beba cerveja), "give me a cigarrette" (dê-me um cigarro), "blackout" (blecaute) etc.
Outro fato lembrado pelo mesmos autor: "de uma cidade pequena e desconhecida, passou a ser conhecida por milhões de americanos e outros aliados".
Durante a guerra. Natal cresceu muito, aumentando consideravelmente a sua população.

DOIS GOVERNOS POPULARES
O Populismo no RN
Forte Característica: O Carisma do Líder
Os teóricos se dividem quando procuram conceituar o que seja populismo. Na realidade, os líderes políticos brasileiros classificados com o rótulo de "populista" apresentam uma grande diversidade na maneira de agir. Não se pode dizer que líder populista é aquele que busca o apoio popular, porque todos, da direita, do centro ou da esquerda, fazem promessas demagógicas com o objetivo de conquistar o voto das camadas mais humildes, prometendo atender as reivindicações populares...
Mas a característica principal dos líderes populistas é o carisma. Alguns chegavam a levar multidões ao delírio, criando um clima favorável ao fanatismo. De uma madeira geral, não entravam em confronto com as oligarquias, recebendo inclusive o apoio de algumas famílias tradicionais. Em algumas regiões, o populismo ganhou como aliada a burguesia industrial, sobretudo nos centros urbanos, onde esse segmento da sociedade começava a surgir com bastante força.
O populismo surge, quase sempre, quando existe uma forte crise na oligarquia, forçando-a fazer concessões pois para sobreviver precisa de um governo que atenda, ao mesmo tempo aos interesses das três classes: conservadora, média e popular... A roupagem é popular, porém, o poder permanece nas mãos da elite. Às vezes, contudo, se volta para a esquerda, tomando um caráter mais radical, no sentido de promover reformas em favor do povo.
Não existe, portanto, uma política populista única e sim diretrizes, variando o seu conteúdo de acordo com a formação ideológica e cultura de cada líder.
Oposições Vitoriosas nos Anos 60
Nos anos 60, o Brasil, passava por uma série crise política, agravada pelo conflito ideológico esquerda versus direita, com radicalismo de ambas as partes. Dentro desse contexto, se destacava o antagonismo entre as forças nacionais ("comunistas") e as forças conservadoras ("entreguistas"), com a participação ativa de políticos operários e estudantes.
Como conseqüência da crise que abalava o País. Quadros renunciou, entregando o cargo de presidente da República a João Goulart, em agosto de 1961. Goulart, em agosto de 1961. Goulart tomou posse em 7 de setembro e governou, em regime parlamentarista, até ser deposto pelo golpe militar em 1964.
As constantes crises políticas vividas pelo País refletiam e deixavam profundas marcas na região nordestina. Apesar do crescimento de sua produção industrial, a participação do Nordeste no produto total do País caía para 15,5% ! Índice menor do que o de outras regiões.
Como conseqüência do processo de industrialização, cresceram os centros urbanos, e, ao mesmo tempo, aumentava o êxodo rural, com o deslocamento de grande número de famílias para as grandes cidades.
Um dos fatores que contribuíram para o êxito do populismo no Rio Grande do Norte foi a atuação da Igreja Católica, com a instalação dos sindicatos rurais e com o Movimento de Educação de Base.
As campanhas de educação popular contribuíram também para acelerar o processo de politização das camadas mais humildes. Exemplos: a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler", em Natal, e ao Movimento de Cultura Popular" em Recife, ambas em 1960.
Foi sobretudo no processo político que o descontentamento popular se refletiu no Nordeste, com grandes vitórias conquistadas pela oposição durante o período compreendido entre 1956 a 1962. No Rio Grande do Norte, em 1960, Aluízio Alves se elegeu governador e, no mesmo ano, Djalma Maranhão chegou à prefeitura de Natal, também pela oposição.
A campanha política de 1960 se desenrolou num clima de muita agitação. O governo Dinarte Maris deixou um testamento político que desorganizou, completamente, as finanças do Estado.
O povo norte-rio-grandense estava asfixiado, aspirava por se livrar daquela situação, recebendo com entusiasmo a mensagem oposicionistas que prometia reformular os processos administrativos, dinamizar a administração pública e criar as condições básicas para iniciar a industrialização, começando, dessa maneira, o desenvolvimento do Estado. Essa proposta de governo era defendida por um jovem e dinâmico político: Aluízio Alves . Uma vez candidato, rapidamente assumiu a liderança do seu grupo, organizando uma coligação partidária com a denominação de "Cruzada da Esperança", formada pelo PSD, PTB, PCB, PRP, PTN e dissidentes da UDN. Para vice-governador foi indicado o monsenhor Walfredo Gurgel, uma das mais expressivas lideranças do PSD seridoense. Para a prefeitura da Cidade do Natal, dois líderes representantes da esquerda: Djalma Maranhão, para titular, e Luiz Gonzaga, para vice-prefeito.
A nível nacional, a Cruzada da Esperança dividia-se. PSD, PTB e PTN apoiavam o marechal Lott para presidente da República, um homem honesto, nacionalista, porém, sem nenhuma aptidão política. Aluízio Alves e a dissidência da UDN apoiavam Jânio Quadros. Para vice-presidente, os candidatos eram João Goulart, com apoio do PSD, PTB e PTN, e Milton Campos, apoiado por Aluízio.
Djalma Maranhão, um homem da classe média sem nenhuma ligação com qualquer grupo econômico forte, de mãos limpas, partiu para a sua campanha com muita garra.
Sua atuação vai se caracterizar, principalmente, por dois aspectos. Primeiro, um caráter nitidamente ideológico. Nacionalista, desencadeava uma luta aberta contra o imperialismo. Segundo, a participação direta e espontânea do povo, em seus segmentos mais pobres.
Dentro dessa linha de ação, foram criados os Comitês Nacionalistas, cuja importância foi salientada por Moacyr de Góes: "a organização da campanha se fez em função dos Comitês Nacionalistas. A mobilização origina-se do Comitê, para o Comitê e pelo Comitê. Entre janeiro e fins de setembro, foram organizados e funcionaram 240 Comitês Nacionalistas também conhecidos como Comitês Populares ou Comitês de Rua. Esse número ganha maior expressão quando situado numa cidade de 160 mil habitantes, à época, tendo tido um comparecimento eleitoral de pouco mais de 36 mil votantes".
A mobilização foi, portanto, muito grande. Crescia de importância porque não se fazia apenas a exaltação da personalidade do candidato Djalma Maranhão, mas ao mesmo tempo eram discutidos temas locais, regionais e nacionais. Paralelamente à campanha política propriamente dita, se realizava também um verdadeiro trabalho de politização das massas. Claro, uma vez politizado, o eleitor se integrava na luta nacionalista e antimperialista.
A sua campanha fugia, e muito, das tradicionais campanhas políticas, cuja base era o ataque pessoal, tão comum no Rio Grande do Norte e no restante do Brasil.
A campanha de Aluízio Alves foi radicalmente diversa da realizada por Djalma Maranhão quanto à metodologia de ação empregada. Bem mais sofisticada. Utilizando inclusive uma empresa publicitária. Empregando, de maneira racional e inteligente, os meios de comunicação de massa (rádio e jornal). Usando slogans, como "Fome ou Libertação?". "mendicância ou trabalho?", ou ainda "Miséria ou Industrialização?", colocava diante do eleitor o caos em que se encontrava o Estado, sugerindo uma mudança radical através da vitória da oposição. Esse triunfo marcaria o início de um processo de desenvolvimento no Estado do Rio Grande do Norte.
A "Tribuna do Norte", jornal de Aluízio Alves, produzia cerca de 5 mil exemplares diários, uma tiragem, bem maior do que "A Folha da Tarde", de Djalma Maranhão. Como disse Agnelo Alves, irmão de Aluízio Alves, e também jornalista, "foi o jornal que sedimentou a imagem de Aluízio, levando diariamente, durante dez anos, seu nome a todo o Estado".
A 'Tribuna do Norte' serviu para influenciar determinados segmentos da sociedade, como intelectuais, estudantes e grande parte do funcionalismo público federal, estadual e municipal. Contribuiu igualmente para a tomada de decisão de muitos indecisos. Com suas manchetes, notícias, fotos e editoriais, traçava um quadro inteiramente favorável aos candidatos da Cruzada da Esperança.
A situação caótica em que se encontrava o Estado foi uma importante causa da vitória desta coligação partidária.
A liderança carismática de Aluízio Alves empolgou o povo. Ciente de seu magnetismo pessoal, ele procurava por todos os meios manter o contato direto e pessoal com os eleitores. O seus comícios e as suas passeatas impressionavam pelo número de participantes e pelo entusiasmo. Velhos, moços, crianças, mulheres de todas as idades, agitando nas mãos bandeiras e ramos verdes, cantando as músicas da campanha e gritando "Aluízio, Aluízio, Aluízio". Um espetáculo nunca visto no Rio Grande do Norte, suplantando, portanto, a campanha de José da Penha, o primeiro líder popular da história política do Estado.
Enfim, Aluízio Alves aparecia como um "homem comum", simples, pobre, de resistência física extraordinária, passando noites inteiras acordado, em virtude de vigílias, lutando e sofrendo sempre ao lado do povo. Nesse aspecto, certamente, se aproximavam os dois líderes populistas: Djalma Maranhão e Aluízio Alves. Ambos se apresentavam como pessoas pobres, da classe média, sem dinheiro, lutando contra a máquina lubrificada, manipulada pelos poderosos.
Havia, entretanto, uma grande diferença com relação ao posicionamento ideológico. Um da esquerda, o outro do centro. Para Djalma Maranhão, "o nacionalismo é ainda um movimento, uma revolução em marcha, para se transformar, no futuro, no mais poderoso partido de toda a História do Brasil".
Aluízio Alves definia o seu nacionalismo de outra maneira: "o nosso nacionalismo é, por isso, pragmático, e se despe de qualquer sentido ideológico de classe. Ele assenta no esforço capitalista, o esforço público, no esforço misto. Os seus dois objetivos são: primeiro, entregar a instrumentos brasileiros que representam a iniciativa privada e pública o comando da economia, estabelecendo mecanismo através do qual o enriquecimento nacional não se acumula nas mãos de poucos e antes alcance seu legítimo usufrutuário, que é o povo; segundo, criar no Nordeste parcela significativa e ponderável de um grande mercado interno que funcione para si e apenas secundariamente para o mercado externo".
"Tal nacionalismo não é anti coisa alguma. Nem anticapitalista nem antisocialista. Ele se situa fora da área do debate ideológico para inserir-se corretamente na área em que o nacionalismo deve, por natureza colocar-se para colher o apoio de toda a Nação".
As Prioridades de Djalma Maranhão
O primeiro problema grave enfrentando por Djalma Maranhão foi, sem dúvida, o déficit orçamentário. O prefeito encarou o problema como sendo um grande desafio para seu governo. Em primeiro lugar, integridade. Em segundo lugar, tomou medidas para solucionar a crise: Código Tributário do Município. Cadastro Fiscal da Prefeitura e aumento de alíquota do imposto de Indústria e Profissões. Conseguiu reverter o quadro e, no lugar de déficit, apresentou um superávit de Cr$ 19,770.826,00!
Djalma Maranhão promoveu uma série de iniciativas que marcaram o dinamismo de sua administração: Galeria de Arte, Palácio dos Esportes, Estação Rodoviária, construção de galerias pluvias, etc.
Na área cultural, realizou o "I Seminário de Estudos dos Problemas de Educação e Cultura do Município de Natal", quando diversos temas forma tratados com objetividade por eminentes especialistas: Luís da Câmara Cascudo, João Wilson Melo, Pe. Manoel Barbosa, Ivamar Furtado, Max Cunha Azevedo, Chicuta Nolasco Fernandes, Newton Navarro, entre outros.
Mas o que imortalizou o governo de Djalma Maranhão foi, sem dúvida, a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler", coordenada pelo professor Moacyr de Góes, secretário de Educação.
O objetivo da campanha era a erradicação do analfabetismo na Cidade do Natal. A situação, nesse setor, impressionava. Segundo Moacyr de Góes, "o índice de analfabetismo na população acima de 14 anos, era o mais alto do Nordeste (59,97%) e, em Natal. O Censo de 1960 revelava a existência de 60.254 adultos".
A campanha nasceu da aspiração popular
Consultando as pessoas residentes nos bairros periféricos, Djalma Maranhão descobriu que a necessidade número um, reclamada por todos, era uma só "escolas para crianças que, sem poder adquirir farda ou sapatos, não podiam freqüentar os grupos escolares construídos pelo governo do Estado. As crianças sem estudos, sem divertimentos, sem boa alimentação, sem roupas, na miséria, eram as futuras prostitutas e os futuros marginais. Elas precisavam, portanto, aprender a ler e a escrever para, prosseguindo nos estudos, pudessem ascender socialmente.
A escola deveria, fornece tudo: o professor, a carteira, o material escolar e, inclusive, a merenda. A educação, portanto, seria o único caminho pelo qual os meninos pobres poderiam mudar de "status", sair da miséria.
Djalma Maranhão, ligado desde suas origens, às reivindicações populares, compreendeu de imediato a dramaticidade daquela necessidade. Aceitou o desafio. Designou o professor Moacyr de Góes para planejar, organizar e executar a campanha para erradicar o analfabetismo em Natal.
Uma diretora de Acampamento, ao observar que seus alunos chegavam atrasados às aulas, teve uma idéia: antes do início das aulas, promovia uma minipartida de futebol. Assim, diariamente, os meninos jogavam sua partidazinha de futebol. Criando, ao mesmo tempo, o hábito de acordar cedo para chegar na escola na hora certa.
Em abril de 1961, através de uma carta, Djalma Maranhão mostrava o porquê da campanha: "Há momentos decisivos na vida dos povos. É a hora em que a História marfa as suas encruzilhadas. Acreditamos que o povo brasileiro vive um desses momentos. Na sua luta contra o subdesenvolvimento ele precisa se erguer do solo e ganhar a sua independência de ação. E só poderá fazer isso se for alfabetizado e tiver uma educação mínima que o faça afirmativo na sociedade. Acreditamos que chegamos nessa encruzilhada: ou o povo se alfabetiza ou se escraviza.".
Após apresentar dados estatísticos sobre o analfabetismo em Natal, dizia o que estava fazendo: "o número de 'Escolinhas' já está em 205. Mas são precisas 1.878 para erradicar o analfabetismo da Cidade. Presentemente estamos ensinando a ler até debaixo de palhas, pois nas Rocas construímos cinco pavilhões de 8 metros por 30, cobertos de palhas de coqueiros, com piso de barro batido, onde estudam cerca de 1.200 crianças e 300 adultos. Bem justificado é o nosso slogan: "DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDER A LER.
Para realizar tal obra, o prefeito solicita ajuda da população: "Por outro lado, a Prefeitura, sozinha, não está capacitada financeiramente para arcar com todos os ônus da educação popular na cidade. Precisamos, assim, da ajuda de todos. Precisamos da sua ajuda".
Para concluir, afirma Djalma Maranhão: "Queremos ser soldados da campanha de um amanhã melhor para o povo, através da educação. Nessa mensagem queremos recordar a você. De Natal subdesenvolvido, no Nordeste subdesenvolvido, clamamos para todo o Brasil: precisamos nos dar as mãos, numa grande força, para alfabetizar o povo e oferecer-lhe a educação necessária ao desenvolvimento do País".
A campanha cresceu de maneira extraordinária passando por várias fases. A das "escolinhas municipais", que funcionavam em salas cedidas por particulares. Depois, os "Acampamentos Escolares", escolas rústicas com piso de barro batido e cobertas por palhas de coqueiros. Para os adultos que não queiram estudar nos "acampamentos", o ensino era feita na casa do analfabeto, onde se reunia um grupo não superior a seis pessoas. Os professores eram recrutados entre meninos e meninas do Grupo Escola Isabel Gondim, que se apresentavam para ensinar sem receber salário. Um fato de grande importância foi sem dúvida a construção do Centro de Formação de Professores, cuja direção, foi entregue à professora Margarida de Jesus Cortês. O "Centro" passou a ser o cérebro da campanha.
Atendemos a uma necessidade da população mais carente, da periferia da cidade, foi criada a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende uma Profissão".
Simultaneamente, o governo do Estado adotou o médico Paulo Freire, em iniciativa pioneira de alfabetização em 40 horas.
Três Séculos em Apenas Três Anos
O governo Aluízio Alves pretendia revolucionar a administração pública, inovando, modernizando através de uma ação dinâmica, construindo as condições básicas para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
Aluízio Alves tinha consciência, portanto, da verdadeira situação em que se encontrava o Estado: uma região atrasada, subdesenvolvida e totalmente despreparada para construir o seu desenvolvimento industrial. Além dessa conjuntura geral, o funcionalismo e os fornecedores do governo estavam sem receber pagamento há sete meses.
O governador procurou melhorar o nível dos funcionários, através de cursos, criando gratificações e dando promoções aos que participassem desses treinamentos. Essa política era básica para um governo que tinha pressa. Isso, contudo, não era suficiente para modernizar o processo administrativo. A máquina burocrática, arcaica e ultrapassada, não oferecia condições para atender a demanda de tantas iniciativas. Para suplantar tais obstáculos, o governo não vacilou em criar novas entidades, como a Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte (Cosern), Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte (Telern), Serviço Cooperativo de Educação (Secern) etc.
Para iniciar o processo de desenvolvimento era necessário, sobretudo energia farta e barata., facilidade de comunicação com os grandes centros urbanos e boas estradas.
Na criação da Companhia Hidroelétrica de São Francisco (Chesf), para trazer energia elétrica de Paulo Afonso para o Nordeste, foram excluídos os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, sob a alegação da exploração econômica pela distância superior a 500 quilômetros. Deputado federal em 1947, Aluízio Alves lutou durante 13 anos para mudar essa situação, só vindo a conseguir a inserção dos três Estados em 1960. Em em 1963, como governador do RN, criou, pela lei 2.721, de 14 de setembro de 1961, a Cosern - Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte, que implantou a energia de Paulo Afonso no território norte-rio-grandense, iniciando uma grande obra de infra-estrutura para o desenvolvimento industrial e, mais tarde, agro-industrial. Resultado: diversas cidades passaram a contar com a energia de Paulo Afonso (Taipu, Currais Novos, Acari, etc.). O custo total do plano de eletrificação atingiu a cifra de Cr$ 2.283 milhões. Para que se possa ter uma idéia do significado da obra realizada, é suficiente dizer que, em 1960, 14% da população se beneficiava dos serviços elétricos. Em 1965, 39% da população recebiam os benefícios da energia elétrica.
No campo das telecomunicações, o governo investiu cerca de Cr$ 1,3 bilhões, devendo salientar que 90% desse capital saiu dos cofres estaduais e o restante foi completado pelas prefeituras municipais.
A 3 de setembro de 1963, foi criado a Telern. Era uma iniciativa pioneira, das mais importantes que, juntamente com o plano de eletrificação e com a construção de estradas (365,6 Km de estradas construídas de 1961 a 1964, num investimento total de Cr$ 7.476.933.146,00), criavam aquelas condições mínimas que possibilitariam um desenvolvimento maior do Rio Grande do Norte.
A educação, contudo, se constituía num dos problemas mais graves do Estado. Por essa razão, passou a ser uma das prioridades do novo governo.
Nessa área, a situação era caótica, como demonstram os dados divulgados na época: "mais de 65% de analfabetos; podendo-se afirmar que cerca de 80% da população ativa apenas sabia assinar o nome; das 250.655 crianças em idade escolar, as escolas estaduais só podiam atender a 55 mil, enquanto as municipais apenas 27 mil e as particulares não abrigavam mais de 28 mil, num total deprimente de 110 mil matrículas. O déficit de mais de 140 mil crianças sem escola, sem nenhuma possibilidade de aprender a ler e a escrever, representava mais da metade da população escolar. O Estado contava tão somente com 1.020 salas de aula, ocupando 826 prédios, dos quais só 660 portavam diploma, e entre os restantes incluíam-se diaristas sem habilitação para o magistério e sem estabilidade funcional, reduzindo-se a apenas 2.121 professores".
Para mudar esse quadro, o governo elaborou diversos projetos que, para sua execução, contou com recursos da Aliança para o Progresso, da Sudene, do MEC e, ainda, do governo do Estado. Para administrar os recursos recebidos, foi criado um órgão estruturado de maneira moderna e dinâmica, a Secern, cujo diretor executivo era o secretário de Educação, o jornalista Calazans Fernandes.
O governo lançou, então, o plano de "FAZER EM 3 ANOS O QUE NÃO SE FEZ EM TRÊS SÉCULOS".
A grande meta "seria" alfabetizar 100 mil pessoas acima da idade escolar primária". O governo almejava ainda a extensão da escolaridade a todas as crianças do Estado e a construção de mil salas de aulas.
Para educar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo foi lançada a Experiência de Angicos, quando foi adotado o método do professor Paulo Freire. O resultado da experiência foi considerado altamente positivo: "A batalha durou 40 dias como estava prevista. Encerrou-se a experiência pioneira, como resultados que despertaram a atenção de todo o Brasil: aproveitamento de 70% na alfabetização e 80% na conscientização cívica".
Em 1965, cresceu o número de professores, ou seja, 61% a mais do que em 1960!
Para atender a demanda sempre crescente de alunos e acabar com o déficit de edifícios escolares, o executivo estadual agiu da seguinte maneira:
a) recuperou velhos prédios;
b) construiu novos edifícios;
c) cursos de 1º grau passaram a funcionar em prédios de grupos escolares.
No ensino de primeiro grau, foram construídas 253 salas de aula em sessenta e sete escolas, num total superior a 30 mil metros quadrados de área coberta.
No ensino secundário, o governo construiu três edifícios, onde funcionam o Instituto Padre Miguelinho, Instituto Presidente Kennedy - onde hoje está instalado um Curso de Licentiatura Plena, preparando professores para o Ensino Fundamental - e o Centro Educacional Winton Churchil.
A capacidade de matrícula, de 1960 até 1965, aumentou cerca de 63%.
Nessa área de atuação, até o final de governo, foi investida uma importância no valor de Cr$ 6.329.654.000,00.
No ensino superior, foi criada a Faculdade de Jornalismo, instalado o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais e, ainda, adquirida a Faculdade de Filosofia. Foi criada também a Fundação José Augusto, que abrigou em seu seio, além das instituições já citadas, outras como a Biblioteca Pública, Centro de Estudos Afro-Asiásticos, Centro de Cultural Hispânica e Escola de Arte Infantil Cândido Portinari, fazendo com que essa fundação se transformasse numa verdadeira secretaria para assuntos culturais.
Na cultura, o governo aplicou Cr$ 1.201.945.000,00.
Aluízio Alves adotou uma política de bem-estar social da maior importância. Investiu no campo da saúde, assistência social, habitação popular e abastecimento de água. Ampliou os serviços de abastecimento de água em Natal, Mossoró e Caicó, implantando o sistema de Angicos e Santana do Matos. Instalou o serviço de mini-abastecimento em 30 municípios. Em Natal, no ano de 1965, com relação ao serviço de água, os prédios atingidos por esse benefício chegavam à casa dos 100%! O sistema de esgoto, na capital, atingia, em 1960, apenas 10% dos edifícios e em 1965, quando Aluízio deixou o governo, o índice já alcançava 75% dos edifícios.
No interior, a cidade de Touros, na época, com 2.200 habitantes, foi a primeira cidade do Brasil a ser totalmente saneada.
A Telern (Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte) promoveu a interligação, pelo sistema interurbano, de várias cidades do Estado (Caicó, Currais Novos, Cerro Corá, Macau, Mossoró e Areia Branca) com Natal. Ligando, pelo mesmo sistema, o Rio Grande do Norte com outros Estados do País.
No turismo, o Rio Grande do Norte não possuía nenhum hotel de grande porte. O governo construiu o Hotel Reis Magos, o primeiro de categoria internacional.
O poder público estadual criou ainda a Codern (Companhia de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte) para planejar o desenvolvimento, orientando os investimentos que modificaram a estrutura econômica do Rio Grande do Norte.
Aluízio Alves construiu durante o seu governo cerca de 1.300 obras durante 1.825 dias.
Por ter criado as condições para que o Estado pudesse se desenvolver, pela modernização que implantou, o governo de Aluízio Alves foi considerado por alguns como verdadeiramente revolucionário.
Teve, entretanto, seus críticos. A oposição acusava o governo de perseguir funcionários e não aceitava a maneira como conduziu o movimento militar de 1964.
Aluízio Alves, falando sobre o assunto, disse: "Lutei. Sofri injustiças. Cometi involuntariamente outras. Despertei amor e gerei ódios. Conquistei o povo, perdi amigos e ganhei inimigos".
A Precocidade de Aluízio Alves
Aluízio Alves nasceu na cidade de Angicos, no dia 11 de agosto de 1921.
Foi um menino precoce, iniciando sua carreira de jornalista ainda criança. Fundou o jornal "O Clarim", que era datilografado e possuía apenas um exemplar, passando de casa em casa. O jornal, segundo Aluízio, era "por mim mesmo desenhado em vermelho, e por mim todo ele escrito: desde o editorial às notas de aniversários, notícias de festas, entrevistas etc., às vezes, jornalista e datilógrafo de dois dedos, levada o dia inteiro, até sem almoço, entrava pela noite, sob o protesto da minha mãe. Tudo era compensado pelas alegrias do domingo: o jornal ia passando de casa em casa, com os comentários dos vizinhos, leitores de toda a cidade".
Mais adiante, duas outras iniciativas, ambas no campo do jornalismo: o jornal "A Palavra" e a revista "Potiguarânia". Dirigiu também o jornal "O Estudante".
O Partido Popular, quando criou "A Razão" , designou Aluízio para trabalhar como repórter. O jornal pertencia a Dinarte Mariz e seu diretor era Eloy de Souza.
Após a vitória do Partido Popular, que consegue eleger três deputados, e a situação apenas um, Aluízio Alves escreveu um artigo com o título "Três a Um", quando chamou o interventor Bertino Dutra de "apêndice podre da Marinha brasileira", Diante da ofensa, a Marinha mandou prender Aluízio. Foi criado, então, o impasse: o autor do artigo era menor, contava apenas 13 anos de idade... Como solução, o jornal foi fechado. Na administração de Mário Câmara, a publicação voltou a circular.
O jornalista-mirim enfrentou outro problema semelhante. O major Abelardo de Castro deu uma entrevista criticando a situação que havia no Rio Grande do Norte. Essa entrevista foi publicada no "Diário de Pernambuco". Como o jornal da oposição se encontrava fechado, a entrevista foi impressa em forma de boletim. Na noite seguinte, Aluízio, com outras pessoas, pregavam com grude os boletins nas paredes das casas, edifícios públicos etc. Quando Aluízio estava colando as folhas atrás da catedral velha, foi preso. Mas não podia ser preso por causa da idade. O chefe da Polícia, capitão da Marinha, Paulo Mário, chamou o pai do menino, aconselhou, ameaçou, porém o jovem rebelde foi colocado em liberdade.
Aluízio, repórter de "A Razão", junto à Assembléia Legislativa", viveu momentos difíceis nessa fase: "lá às seis horas da manhã para "A Razão", escrevia várias matérias. Quinze para as oito e eu ia para o colégio e ficava até onze horas. Às onze horas voltava para a "A Razão" para escrever e fazer a revisão da matéria. Uma hora da tarde voltava para o colégio, até aí sem comer, sem almoçar, ficava no colégio até três e meia da tarde. Quando saía às três e meia da tarde. Quando saía às três e meia da tarde, eu ia para o jornal, assistia ao final do jornal".
Aluízio Alves começou a se interessar por política no ano de 1932, com onze anos de idade, quando, após a derrubada do prefeito de Angicos, João Cavalcanti, seu pai, Manoel Alves, foi eleito prefeito.
Nesse ano, ocorria uma terrível seca e os flagelados da região procuraram seu "Nezinho", que convocou os comerciantes para colaborar: recebendo e distribuindo gêneros alimentícios, estava ali presente o menino Aluízio Alves.
Outro acontecimento vai marcar a carreira precoce do político Aluízio Alves: durante a revolução Constitucional de 32, ele se encontrava em Ceará Mirim. Nessa cidade só havia um rádio, na casa de Waldemar de Sá. O menino Alves ouvia os discursos dos líderes do movimento, repetindo para os presentes.
Aluízio, indo para o Ceará, estudou no Ginásio São Luiz. Ocorreu então o seguinte fato: um motorista de ambulância dirigia em alta velocidade para salvar um doente. A ambulância virou, o motorista morreu, porém, o doente sobreviveu. O acontecimento emocionou a cidade de Fortaleza. Aluízio foi escolhido para fazer a oração, durante uma homenagem prestada pelos estudantes aos familiares da vítima do acidente. Seu discurso emocionou a todos os presentes. A partir daquele momento passou a ser o orador oficial do ginásio!
Em 1940, em Angicos, a Paróquia organizou a festa de Cristo Rei. Estiveram presentes o governador Rafael Fernandes e Aldo Fernandes. Na oportunidade, Aluízio pronunciou uma conferência sobre a Paróquia de Angicos. Como resultado, o menino-conferencista foi convidado por Aldo Fernandes para trabalhar no jornal "A República", quando se tornou repórter e editor do referido órgão de imprensa, na época, dirigido por Edgar Barbosa.
Em 1942, uma grande seca. Natal foi invadida pelos flagelados. Aldo Fernandes chamou Aluízio, dizendo que queria fazer uma reunião com as principais autoridades da cidade. Aluízio, então, escreveu um artigo inti-tulado 'Convocação à família natalense", sendo designado para organizar o trabalho de assistência aos flagelados. Dentro de três dias. 8 mil pessoas estava abrigadas. Terminada a seca, Aluízio Alves organizou a volta dos retirantes, fazendo com que cada um levasse instrumento de trabalho, além de recursos para recomeçar a vida, inclusive, comida para um mês. Aconteceu que, no final, ficaram 60 menores de ambos os sexos. Aluízio Alves sugeriu, então, criar um Serviço de Assistência ao Menor. Aprovada a idéia, Aluízio Alves foi para Recife e, naquela cidade, entrou em contato com as autoridades que tratavam do problema.
Foi fundado o "Abrigo Melo Matos", com Orígenes Monte assumindo a direção.
Incansável, Aluízio Alves, com ajuda da Legião Brasileira de Assistência, criou o Instituto Padre João Maria e, com auxílio da prefeitura, organizou o Abrigo Juvino Barreto. Ambos foram inaugurados no dia 19 de abril de 1943.

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