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sábado, 10 de janeiro de 2015

Modelagem Matemática Parte I

Professor Janildo Arante


Modelagem Matemática Parte I

DISCUSSÕES SOBRE MODELAGEM MATEMÁTICA
E O ENSINO-APRENDIZAGEM

Jean Carlos Silveira
João Luiz Domingues Ribas

RESUMO
Este trabalho visa fazer uma análise crítica das discussões sobre a Modelagem Matemática no processo de ensino, relata os principais temas abordados durante o I EPMEM (Encontro Paranaense de Modelagem no Ensino da Matemática) realizado na cidade de Londrina-PR. durante os dias 14, 15 e 16 de outubro de 2004, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
A busca de novas metodologias de ensino da matemática devem ser constantes, no momento fala-se muito sobre Modelagem Matemática, mas mesmo após quase vinte e cinco anos de discussões e estudos ainda existem muitas dúvidas sobre a Modelagem Matemática, na ocasião tivemos a oportunidade de debater juntamente com professores mestres e doutores na área em questão sobre as dificuldades e os benefícios de trabalharmos com a modelagem no ensino de nossos alunos.
Palavras-Chave: Metodologia de Ensino da Matemática, Modelagem Matemática, Aplicações, cotidiano.
Segundo o prof. Dr. Dionísio Burak UEPG – Ponta Grossa – PR, a Modelagem Matemática no Brasil começou a ser trabalhada, na década de 80 na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – com um grupo de professores, em Biomatemática, coordenados pelo Prof. Dr. Rodney Carlos Bassanezi- IMECC.
Em princípio, os estudos envolviam modelos de crescimento cancerígenos. Também foi realizada uma experiência com a Modelagem, pelo professor Rodney, com turma regular de Engenharia de Alimentos, na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, que possuía programa definido. A experiência foi muito satisfatória.
Na educação brasileira a Modelagem Matemática teve início com os cursos de especialização para professores, em 1983, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Guarapuava - FAFIG, hoje Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.
Com o início do Programa de Mestrado em Ensino de Matemática pela UNESP – Campus de Rio Claro, a Modelagem angariou adeptos, pois a grande preocupação sentida consistia em encontrar formas alternativas para o ensino de Matemática que trabalhassem ou que tivessem a preocupação de partir de situações vivenciadas pelo aluno do ensino de 1º e 2º graus, atualmente ensino Fundamental e Médio.
Os primeiros trabalhos enfocando a Modelagem como uma alternativa para o Ensino de Matemática, começaram a ser elaborados sob forma de dissertações e artigos, a partir de 1987. Em 1999 foi realizada a 1º Conferência Nacional.
DISCUSSÕES SOBRE MODELAGEM MATEMÁTICA E O ENSINO-APRENDIZAGEM
Devido ao grande avanço das tecnologias informáticas muitas das atividades do nosso cotidiano passaram a ser feitas por máquinas, com os computadores surgiu, por exemplo, a “Era da Informática” onde as informações se difundiram em grande escala revolucionando o modo de vida da humanidade.
Com toda esta revolução ocasionada pela informática, os conceitos matemáticos tornaram-se implícitos, pois os programas de computação são capazes de realizar cálculos em uma fração de segundo, o que manualmente levariam horas para o ser humano resolver.
Com essa “facilidade” que a informática proporciona, houve uma desmatematização natural das pessoas em geral, ocasionando deste modo, uma desvalorização dos conhecimentos matemáticos, ou seja, para que decorar fórmulas ou teoremas, se no computador elas já estão todas armazenadas?
Segundo o Prof. Dr. Jonei Cerqueira Barbosa da Universidade Jorge Amado-Salvador, a matemática pode servir como “poder para alguém” agindo como um instrumento de controle social, pois afinal, os números governam o mundo, decisões são tomadas a partir de fórmulas, de cálculos, de estatísticas, planejamentos de governo são decididos através da matemática, decisões estas que afetam as vidas de todos aqueles que a elas se submetem.
Neste sentido muitas pessoas questionam sobre o papel da matemática na formação de nossos alunos, qual o professor que nunca ouviu aquela velha pergunta que os alunos sempre fazem: “pra que serve esta matéria que eu estou aprendendo?”
Talvez uma resposta para esta questão possa ser a Modelagem Matemática, pois ela tem como objetivo interpretar e compreender os mais diversos fenômenos do nosso cotidiano, devido ao “poder” que a Modelagem proporciona pelas aplicações dos conceitos matemáticos. Podemos descrever estes fenômenos, analisá-los e interpretá-los com o propósito de gerar discussões reflexivas sobre tais fenômenos que cercam nosso cotidiano.
O que é Modelagem Matemática?
Modelagem Matemática é acima de tudo uma perspectiva, algo a ser explorado, o imaginável e o inimaginável.
A Modelagem Matemática é livre e espontânea, ela surge da necessidade do homem em compreender os fenômenos que o cercam para interferir ou não em seu processo de construção.
Ao trabalharmos Modelagem Matemática dois pontos são fundamentais: aliar o tema à ser escolhido com a realidade de nossos alunos e aproveitar as experiências extra-classe dos alunos aliadas à experiência do professor em sala de aula.

Porque fazer Modelagem Matemática?
Podemos enumerar os diversos benefícios de trabalharmos com Modelagem Matemática:
1) Motivação dos alunos e do próprio professor
2) Facilitação da aprendizagem. O conteúdo matemático passa a ter significação, deixa de ser abstrato e passa a ser concreto.
3) Preparação para futuras profissões nas mais diversas áreas do conhecimento, devido a interatividade do conteúdo matemático com outras disciplinas.
4) Desenvolvimento do raciocínio, lógico e dedutivo em geral.
5) Desenvolvimento do aluno como cidadão crítico e transformador de sua realidade.
6) Compreensão do papel sócio-cultural da matemática, tornando-a assim, mais importante.

Como surgiram as grandes descobertas da humanidade?
Surgiram da necessidade do homem em resolver determinadas situações-problema do seu dia-a-dia.

Etnomatemática e Modelagem Matemática
Se a Modelagem Matemática procura modelar um determinado fenômeno da realidade com o objetivo de compreender este fenômeno a Etnomatemática se faz presente, pois ela trata de um conjunto de saberes que um determinado grupo cultural possui com um objetivo em comum.

Qual o perfil de um professor que queira trabalhar com Modelagem Matemática?
Deve ser criativo, motivador e acima de tudo deve assumir a postura de um mediador entre o saber comum e o saber matemático, fazendo com que o aluno passe a ser um agente ativo no processo de construção do saber.

A Modelagem Matemática é eficaz no Ensino Médio e Fundamental?
A Modelagem Matemática é uma metodologia alternativa para o ensino de Matemática que pode ser utilizada tanto no ensino fundamental como no ensino médio. A partir de conceitos gerais, procura –se mostrar a importância da Matemática para o conhecimento e compreensão da realidade onde se vive. Uma forma de avaliar se a Modelagem Matemática é eficiente no processo de ensino-aprendizagem é estabelecer um paralelo entre o ensino tradicional e o ensino através da Modelagem Matemática, abordando aspectos como a pedagogia adotada, a criatividade, o interesse pelo estudo de Matemática, a motivação e entusiasmo por parte dos alunos,e a avaliação do que eles realmente aprenderam com a Modelagem Matemática, levando o professor a refletir sobre a sua metodologia de ensino da matemática.
É evidente que a Modelagem Matemática não deve ser usada como uma única metodologia de ensino, o professor no exercício das suas atividades, deve sempre procurar a melhor metodologia de ensino da matemática, como por exemplo: jogos, brincadeiras, a história da matemática, metodologia dos três momentos, resolução de problemas, enfim usar todos os seus recursos para obter o melhor resultado possível no ensino da matemática.
Quais os desafios a serem vencidos?
O grande desafio hoje, é fazer o aluno compreender o seu papel na sociedade, de agente ativo e transformador da sua realidade, e a importância da matemática no seu dia-a-dia.
Também existem muitos outros desafios a serem vencidos, como por exemplo, a falta de apoio das instituições de ensino no sentido de viabilizar condições necessárias e suficientes às práticas de ensino alternativas, a própria desmotivação por parte do professor que exerce uma carga excessiva de horas de trabalho, falta de interesse por parte dos alunos, indisciplina, falta de tempo para a elaboração de projetos alternativos de ensino, resistência por parte de outros professores da área que estão “acostumados” com o ensino tradicional e se opõem a tentativa de buscar novas metodologias de ensino se opondo às mudanças, pois obrigaria à estes uma reciclagem em sua metodologia de ensino, o programa do currículo é previamente estabelecido não dando muitas vezes a oportunidade do professor variar sua metodologia de ensino, pois é necessário “cumprir” o programa (que é inflexível), entre outros.

A Modelagem Matemática deve auxiliar o processo de ensino-aprendizagem ou serve apenas para justificar o conteúdo que estou ensinando?
Segundo o prof. Dr. Ademir D. Caldeira - UFPR, a Modelagem Matemática não deve ser utilizada apenas para justificar o conteúdo que está sendo ensinado, mas sim deve valorizar a razão, o motivo pelo qual o aluno deve aprender matemática, e a importância que isto representa na formação dele como cidadão responsável e participativo na sua sociedade.

Modelagem ou Modelação Matemática?
Primeiramente não existe modelagem sem modelo, logo Modelação é uma prática de modelagem onde acredito ser lícito utilizar a Modelagem Matemática para o ensino específico de um determinado conteúdo que o professor necessita ensinar dentro do programa de ensino.
Não faz sentido, a meu ver, o professor interromper a sua seqüência de ensino, por exemplo, geometria, para fazer uma atividade de Modelagem Matemática apenas porque sobrou um certo tempo em seu cronograma, pois talvez o tema escolhido pelos alunos pode divergir para conteúdos completamente distantes do interesse daquele momento de ensino, pois acredito que a Modelagem deve auxiliar o ensino e não gerar um trabalho a mais e desnecessário para o professor prejudicando o andamento dos conteúdos.

Quando fazemos Modelagem Matemática e quando não fazemos?
Fazer Modelagem Matemática não é apenas resolver problemas no quadro usando situações do cotidiano, como acontece com muitos professores hoje que pensam estar fazendo modelagem, na verdade eles apenas estão resolvendo um problema como outro qualquer.
Segundo Biembengut (1999) “a criação de modelos para interpretar os fenômenos naturais e sociais é inerente ao ser humano. A própria noção de modelo está presente em quase todas as áreas: Arte, Moda, Arquitetura, História, Economia, Literatura, Matemática. Aliás, a história da Ciência é testemunha disso!”
Neste sentido pode-se dizer que Modelagem Matemática é o processo que envolve a obtenção de um modelo que tenta descrever matematicamente um fenômeno da nossa realidade para tentar compreendê-lo e estudá-lo, criando hipóteses e reflexões sobre tais fenômenos,

Porque os professores, muitas vezes, não conseguem aplicar a Modelagem no ensino em geral?
Em primeiro lugar, o professor que deseja ensinar Modelagem Matemática precisa aprender a fazer modelagem, em sua essência, no processo de desenvolvimento, em suas raízes e utilizá-la como estratégia de ensino da matemática.
Em segundo lugar, ter em mente que a Modelagem Matemática pode ser um caminho para despertar no aluno o interesse por conteúdos matemáticos que ainda desconhece ao mesmo tempo em que aprende a arte de modelar, matematicamente os fenômenos do cotidiano.
Vários motivos são colocados como obstáculos na implantação da modelagem no ensino da matemática, como por exemplo: falta de tempo, falta de condições físicas e financeiras, às vezes torna-se dispendioso fazer uma atividade de modelagem, cobrança por parte de supervisores e diretores na preparação para o vestibular, deste modo não sobra tempo para desenvolver atividades extras como a modelagem.

Devemos ensinar para o vestibular ou para a Vida?
Muitas vezes ouvimos que determinado conteúdo é ensinado porque “cai no vestibular”, então o que se ensina nas escolas visa apenas à aprovação dos alunos para a universidade, mas se analisarmos bem, apenas uma pequena porcentagem dos alunos que ingressam no ensino fundamental conseguem passar no vestibular, logo não se justifica ensinar apenas para o vestibular, pois grande parte dos alunos não continuará seus estudos. Assim os objetivos não estão sendo alcançados.
Neste sentido, acredito que as autoridades e instituições de ensino bem como seu corpo docente, devem repensar o programa no seguinte sentido: _ Que tipo de cidadãos, nós, como professores queremos formar
?

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